Opinião
Os dez anos de silêncio
Para os dez anos de silêncio resultarem, a aprendizagem, a melhoria contínua e a inovação têm de acompanhar o esforço.
Já foi menos investigado: como ser o melhor do mundo? Nas empresas, na cultura, no futebol, etc., como se chega ao topo? Vamos ver o caso da música e daí tentar ilações.
John Hayes, da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, investigou a criação de milhares de obras musicais entre os 1700 e os 1900. A investigação procurava responder a esta pergunta: depois de uma pessoa começar a compor, em quantos anos pode atingir uma qualidade musical de topo mundial?
Hayes fez uma lista de 500 composições, consideradas obras-primas, mais tocadas por orquestras sinfónicas em todo o mundo. A autoria era de 76 compositores, entre eles, e várias vezes, Bach, Beethoven, Mozart, Schubert. Investigou a vida de cada um dos músicos, procurando saber, entre outros aspectos, há quanto tempo cada um deles compunha antes de ter criado a primeira obra-prima. Descobriu que todas as músicas em questão haviam sido compostas mais de dez anos depois de o autor ter iniciado a carreira musical. Nas 500 músicas em causa só havia três excepções; três músicas compostas no oitavo e no nono anos de actividade. Ninguém, nem mesmo Mozart, um dos chamados mais jovens génios de sempre, havia composto qualquer obra-prima nos primeiros anos de prática musical. John Hayes, o autor deste estudo, chamou a este período de dez anos de esforço, de trabalho intenso e de pouco reconhecimento os dez anos de silêncio dos músicos excepcionais.
Hoje, investigação sobre alta performance em muitas actividades indica de facto que os dez anos não dirão apenas respeito à música.
Pode, aliás, chegar-se a um nível excepcional um pouco antes dos dez anos; mas pode também não ser suficiente os dez anos para se chegar a excepcional. Para os dez anos de silêncio resultarem, a aprendizagem, a melhoria contínua e a inovação têm de acompanhar o esforço.
Professor na Universidade Católica Portuguesa