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[770.] Aveleda

Que bom ver e apreciar bons anúncios! É o caso da campanha "detalhes" dos vinhos Aveleda. Certo, destacar pormenores numa campanha publicitária não é novidade, mas nem todas as marcas podem fazê-lo.

A campanha é um conjunto de detalhes que forma uma narrativa, desde o corte ou poda até à senescência ou envelhecimento das folhas. Vi em cartazes nas ruas dois dos pormenores e chamaram-me a atenção pela união feliz entre a eficácia comunicativa e a beleza, que andam juntas, como deve ser. Um deles é o "detalhe #2 - O Choro", quando os olhos da vinha produzem uma "lágrima" de seiva. Os olhos dos marketeers e publicitários devem sofrer alguma dislexia, que me faz verter esta lágrima de crítico, pois no site da empresa anunciante, https://www.aveleda.com/pt/vinhos/viticultura, este detalhe do choro da vinha ostenta o número 2. Nas ruas, vi também o "detalhe #6 - O Zelo", que não existe no site. Suponho que corresponderá ao de igual número, mas como o nome de "pintor", que se refere à "observação experiente" e ao "toque das mãos sábias".


Convinha que houvesse mais rigor nesta numeração porque o rigor é sempre uma exigência, para mais justa e adequada à dedicação ao observador e potencial cliente, como a própria numeração é indício de tentativa de rigor. Eu, por já me ter enganado na numeração destes meus artigos, numa série iniciada em 2003, fez em Maio 15 anos, pedi desculpa aos leitores. Não sei se os publicitário o fariam, pois significaria reconhecer um erro de comunicação. Fica aqui a nota: se usarem uma lista, especialmente se numerada, cumpram-na.

Os anúncios são muito bonitos pelo uso de magníficas fotografias, mostrando os detalhes da vida da vinha, que normalmente os urbanos desconhecem. Eu tenho uma única vinha, com mais de 60 anos, e aprendi com esta campanha que o abrolhamento ("Detalhe #4" no site) se refere ao aparecimento dos rebentos na planta. O anúncio com "O Zelo", ao vinho da marca Alvarinho, mostra na fotografia principal, em grande plano, um cacho e nada mais, podendo ver-se maior do que com ele na mão. O anúncio dedicado ao choro mostra um pingo (esperemos que de verdadeira seiva) suspenso da haste antes cortada duma vinha. Ambos mostram em fundo desfocado o ambiente rural onde se criam os vinhos. Em baixo, à saída dos anúncios, mostram-se as respectivas garrafas e a seu lado o mesmo slogan, "Pequenos detalhes, grandes vinhos". Ecoa muitos outros anteriores, mas é curto, eficaz, com um efeito retórico próximo do oxímoro, na junção de "pequenos" e "grandes" para definir uma só coisa. Passa dos detalhes à sua consequência, que é a principal mensagem a passar: "grandes vinhos".

 

A expressão "o diabo está nos detalhes" tem evoluído, também com razão, para "Deus está nos detalhes", proferida ao arquitecto Mies van der Rohe (1886-1969). Em ambos os casos pretende-se significar que é pela atenção aos pormenores que se pode tentar uma acção perfeita, ou próxima da perfeição. O "crime perfeito" será aquele que atentou todos os pormenores. Os produtores de vinhos e seus enólogos precisam de aperfeiçoar a arte dos detalhes, porque uvas há muitas. E, por tabela, os publicitários aproveitaram bem, neste caso, essa característica de muita da actual produção vinícola, para que os seus anúncios fizessem jus às intenções do anunciante e se distinguissem, porque anúncios há muitos.

 

Os anúncios de rua, pelas suas características, poupam-nos ao lirismo que avassala os rótulos traseiros das garrafas e que aqui se pode ler, igual ou semelhante, no site da empresa anunciante. Estes vinhos não têm, por serem brancos e verdes, o clássico "notas de frutos silvestres", mas lá estão as "notas de fruta fresca", o "final crocante" e os "aromas exuberantes a flores brancas"!

 

 

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