Opinião
[670.] Splend’oro-BPI, Pandora
Vários anúncios invocam o "look". Não se trata do olhar, mas do ser olhado; de como somos vistos por outrem. Nenhuma das palavras portuguesas transmitindo o conceito de "look" parece agradar aos portugueses que a usam, nomeadamente os publicitários: aspecto, ar, aparência.
Um anúncio de anéis que se podem combinar (ou que, segundo outra marca, são "conjugáveis") promete "múltiplas opções para um ‘look’ sempre renovado". Pelas minhas contas, se os três anéis se usam reunidos, as múltiplas opções são seis, sendo que três delas se repetem invertendo a posição em que o conjunto dos três anéis se coloca no dedo. Infelizmente, nem este nem outros anúncios trazem instruções de uso.
O que é estranho neste anúncio, porém, é ser de um banco. Os anéis são da marca Splend’oro, mas trata-se de "um exclusivo BPI".
O banco fornece condições de financiamento para comprar em 60 mensalidades o conjunto dos três anéis, que custam a pronto 3.490 euros, ficando no final, com prestações de 69 euros, por 4.238,09 euros. Mas, diz o anúncio, "existem outras soluções de crédito disponíveis", que se podem conhecer nos balcões e até nos Centro de Investimento BPI.
O interesse das consumidoras por conjuntos de anéis conjugáveis é decerto grande, a avaliar pela quantidade da oferta na publicidade institucional e na internet. E é na internet que a marca Pandora colocou, de facto, instruções de uso: tem um vídeo de dois minutos a "ensinar" como se escolhem os anéis conjugáveis ou não conjugáveis, além de outras jóias. No vídeo, a mulher tem uma caixa cheia de anéis, brincos, pulseiras, colares e pendentes, tudo arrumadinho em prateleiras. O segredo está no tamanho da caixa, quer dizer, para se poder combinar muito é preciso ter muitas jóias. Ninguém quer uma caixa de jóias vazia. Cada uma das prateleiras da caixa tem mais de 20. Portanto, 40 nas duas que o vídeo mostra. Considerando um preço médio de 50 euros, o valor total das duas prateleiras é de 4.000 euros, o que vem a dar o mesmo que os três anéis vendidos pelo BPI, mas aqui com mais variedade. Trata-se, portanto, de um investimento no "look", o que já justificava que se vendam anéis em Centros de Investimento do BPI. É um investimento no consumo, como o do relógio de Patek Philippe que passa de geração em geração. Nada de novo, porém. Há décadas que a publicidade chama investimento ao consumo.
A utilizadora pode gastar muito dinheiro nas jóias conjugáveis, mas fica senhora de uma certa variedade no uso. De algum modo, o que pode ser caro parece barato, dada a diversidade da conjugação das jóias. Em vez de três anéis, a consumidora como que tem muitos mais se os usar individualmente, em par ou em trio. Nunca podemos menosprezar a capacidade inventiva das indústrias de consumo: consome-se mais, mas tem-se mais, ou a ilusão de ter mais. Juntam-se novas operações aritméticas ao velhinho "dois em um" até se chegar às "múltiplas opções".
Há muitos outros anúncios de anéis, geralmente concentrados nos diversos aspectos simbólicos do anel, em especial a aliança, símbolo tão forte que se transferiu para o próprio nome do anel que a sela. Nestes anúncios de anéis conjugáveis, entretanto, não há invocação simbólica. Não simbolizam nada. São anéis que servem a auto-satisfação individual da utilizadora e a sua exibição perante os outros. Para ficar, ou se sentir, com bom aspecto, ar, aparência. Em resumo, com "look".
O que é estranho neste anúncio, porém, é ser de um banco. Os anéis são da marca Splend’oro, mas trata-se de "um exclusivo BPI".
O interesse das consumidoras por conjuntos de anéis conjugáveis é decerto grande, a avaliar pela quantidade da oferta na publicidade institucional e na internet. E é na internet que a marca Pandora colocou, de facto, instruções de uso: tem um vídeo de dois minutos a "ensinar" como se escolhem os anéis conjugáveis ou não conjugáveis, além de outras jóias. No vídeo, a mulher tem uma caixa cheia de anéis, brincos, pulseiras, colares e pendentes, tudo arrumadinho em prateleiras. O segredo está no tamanho da caixa, quer dizer, para se poder combinar muito é preciso ter muitas jóias. Ninguém quer uma caixa de jóias vazia. Cada uma das prateleiras da caixa tem mais de 20. Portanto, 40 nas duas que o vídeo mostra. Considerando um preço médio de 50 euros, o valor total das duas prateleiras é de 4.000 euros, o que vem a dar o mesmo que os três anéis vendidos pelo BPI, mas aqui com mais variedade. Trata-se, portanto, de um investimento no "look", o que já justificava que se vendam anéis em Centros de Investimento do BPI. É um investimento no consumo, como o do relógio de Patek Philippe que passa de geração em geração. Nada de novo, porém. Há décadas que a publicidade chama investimento ao consumo.
A utilizadora pode gastar muito dinheiro nas jóias conjugáveis, mas fica senhora de uma certa variedade no uso. De algum modo, o que pode ser caro parece barato, dada a diversidade da conjugação das jóias. Em vez de três anéis, a consumidora como que tem muitos mais se os usar individualmente, em par ou em trio. Nunca podemos menosprezar a capacidade inventiva das indústrias de consumo: consome-se mais, mas tem-se mais, ou a ilusão de ter mais. Juntam-se novas operações aritméticas ao velhinho "dois em um" até se chegar às "múltiplas opções".
Há muitos outros anúncios de anéis, geralmente concentrados nos diversos aspectos simbólicos do anel, em especial a aliança, símbolo tão forte que se transferiu para o próprio nome do anel que a sela. Nestes anúncios de anéis conjugáveis, entretanto, não há invocação simbólica. Não simbolizam nada. São anéis que servem a auto-satisfação individual da utilizadora e a sua exibição perante os outros. Para ficar, ou se sentir, com bom aspecto, ar, aparência. Em resumo, com "look".
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