Opinião
[565.] Toyota, Nissan, Opel, Peugeot, Citroën
Os anúncios de imprensa de carros de gama média andam com falta de imaginação.
Os publicitários do novo Peugeot 308 SW, apesar de medalhado como carro do ano, não encontraram nada de mais original para destacar do que o slogan "Sensações em grande". O desenvolvimento do texto nem permite perceber se queriam dizer "grandes sensações" ou "sensações num carro grande".
Os anúncios do novo modelo Qashqai voaram mais alto, mas mesmo assim em voos rasantes. Um diz: "Novo Nissan Qashqai com modo ‘adoro as curvas’." E o outro também põe o carro a falar: "Novo Nissan Qashqai com modo ‘consigo estacionar sem tocar no volante’." Nem o carocha da Disney nem o Kit falavam, mas o Qashqai fala para que o leitor sinta as palavras como suas, destacando novas características do modelo.
É mesmo assim: à medida que os carros se parecem mais uns com os outros, a publicidade automóvel, tal como a dos detergentes, concentra-se numa ou outra inovação ou até em detalhes, como o reclame do novo Insignia da Opel, que anuncia nas letras grandes do slogan "Ligado ao que realmente importa." Ainda pensei que fosse a estrada, mas não, são as possibilidades do sistema Intellilink que, segundo os logótipos mostrados, se refere a música, telecomunicações e informações.
Assim como assim, que ao menos a falta de imaginação seja compensada pela simplicidade da mensagem. É o que sucede com o título do anúncio do Citroën DS5: "Potência - emissões & baixos consumos. Finalmente compatíveis". Mais eficaz ainda, pela simplicidade, é o slogan do reclame do modelo CR-V Diesel 1.6 i-DTEC (que raio de nome!) da Honda: "Máximas prestações, mínimo consumo". Os dois anúncios dizem exactamente o mesmo, mas de forma directa e sem imaginação medíocre ou perniciosa.
Mais interessante é o slogan, que regressa, dos modelos híbridos da Toyota: "Não é apenas um carro, é um híbrido". E por baixo: "Apaixone-se de novo pela condução." O anúncio precisa de realçar que um híbrido é "mais do que" um carro; que, lá por ser híbrido, o carro não é "maricas", dá "paixão de conduzir" como os carros para machos. Na foto, dois híbridos mostram toda a sua raça e masculinidade numa cena nocturna e urbana, prometendo resmas de conquistas.
O híbrido teria um dia de saltar dos carros para os anúncios. Porque vivemos na era da hibridez mediática: entre realidade e ficção, entre realidade e entretenimento, entre géneros mediáticos, entre géneros humanos (vide Conchita Wurst), entre publicidade e informação, entre papel e digital, entre opinião e informação, entre rádio que faz televisão e televisão que faz rádio, entre o telefone e o computador, entre apresentadores e publicitários, entre jornalistas e humoristas, entre cinema e publicidade, entre verdade e mentira, no reino da metáfora. No caldo cultural híbrido do nosso século, faz todo o sentido que o hibridismo seja apresentado como um valor positivo: e, assim, um carro híbrido teria de ser na publicidade mais do que a soma das suas duas fontes de energia. Longe vão os tempos em que as pessoas diziam: "Não quero cá misturas". Agora vivem-nas.