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25 de Julho de 2018 às 20:15

Afinal, rir não é o melhor remédio

Durante uma hora, nunca sabemos se na próxima frase proferida vamos gargalhar ou verter uma lágrima. Hannah constrói uma poderosa teia à nossa volta, sempre a iludir as suas reais intenções até o baixar do pano.

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"O riso não é o nosso remédio. As histórias é que são a nossa cura. O riso é só o mel que adoça o remédio amargo. Não vos quero unir com risos ou com raiva. Só precisava que a minha história fosse ouvida".

 

É assim que a comediante australiana Hannah Gadsby amarra o seu sentido monólogo, intitulado "Nanette" (que pode ser visto na Netflix).

 

Quando você pensa que não há mais nada de novo a fazer no humor, eis que alguém, no caso Hannah, inventa o humor triste.

 

Sério. Durante uma hora, nunca sabemos se na próxima frase proferida vamos gargalhar ou verter uma lágrima. Hannah constrói uma poderosa teia à nossa volta, sempre a iludir as suas reais intenções até o baixar do pano.

 

"Nanette" é uma tour de force de uma grande atriz, grande autora e grande mulher. É também um marco naquilo que alguns poderão chamar de ativismo artístico.

 

Lésbica mais do que assumida, Hanna expõe a sua vida de maneira ora crua, ora divertida. Repassa o seu percurso, a narrar os mesmos eventos mais do que uma vez, a provar que dependendo dos óculos que usamos podemos ver a vida como comédia ou como tragédia.

 

"Nanette" também é uma masterclasse sobre storytelling. Se tem interesse de perceber como se constrói uma narrativa, nomeadamente no que toca o humor, terá aqui lições fundamentais.

 

Não se engane, "Nanette" está a tornar-se rapidamente num objeto de culto, numa daquelas coisas que todos (ou ao menos os que trabalham com comunicação) precisarão ver para debater, para formar uma opinião.

 

O jornal El País disse o seguinte sobre a obra: "A revolução que Hanna protagoniza no género "stand up" é tão profunda quanto a que Picasso realizou com "Demoiselles d'Avigon" ou, para ser mais preciso, quanto a obtida pelo mictório de Marcel Duchamp. Hannah Gadsby tenta em" Nanette" o desafio impossível de fazer um show de comédia que não é só sua renúncia pessoal ao género, mas um questionamento completo e total da comédia e da arte em geral".

 

Não é pouca coisa não. É muito, é imenso, é intenso e é bom.

 

Ou como diria o meu Tio Olavo, a citar Chaplin: "A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe".   

 

Publicitário e Storyteller

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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