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12 de Julho de 2017 às 21:05

Reforma florestal

O fogo nas florestas de Portugal é um fenómeno que existe há milhares de anos e que irá continuar de forma mais acentuada se não houver reforma florestal eficaz.

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O nosso clima e as alterações climáticas têm desencadeado períodos de fortes precipitações no inverno e primavera e ausência delas em parte da primavera, verão e outono.

 

As alterações climáticas concentram as precipitações em regimes torrenciais e tornam-nas mais aleatórias, fazendo com que assistamos a secas como, por exemplo, as do último inverno e primavera, o que seria impensável há algumas dezenas de anos.

 

Por outro lado, como temos um clima com temperaturas suaves no inverno e primavera junto com alguma precipitação, há condições para taxas elevadas no crescimento das árvores florestais, bem como dos matos.

 

Ou seja, Portugal tem condições para uma floresta muito produtiva, bem como para que a massa combustível tenha fortes taxas de crescimento anual.

 

Assim sendo, devido ao abandono e desordenamento das florestas de Portugal, estão lançadas as condições de base e na envolvente para a calamidade perfeita: muito material para arder e condições para que tal aconteça.

 

Como alguém escrevia com propriedade nestes dias: "Na cozinha, os bicos do gás estão abertos, é uma questão de tempo e oportunidade para que a faísca de ignição se dê e a desgraça aconteça."

 

A estratégia dos governos das últimas décadas tem sido apostar nos meios de combate aos fogos e incêndios florestais, mas como os leitores claramente compreendem e sabem, os resultados têm sido maus e dependentes da ocorrência de incêndios e do clima, porque respetivamente, por um lado, verifica-se que há menor superfície ardida após os anos de maior incidência dos fogos, baixa o volume de combustível, e por outro lado, arde menor superfície nos anos de verões chuvosos, o combustível não arde porque as condições ambientais controlam o fenómeno.

 

A concentração natural de massa combustível nas florestas explica que os grandes incêndios se deem a intervalos temporais entre dez a quinze anos, há produção de massa vegetal e como não é retirada pelo homem ou pela alimentação dos animais, é o fogo que acaba por fazer o equilíbrio do processo.  

 

Perante o exposto colocam-se as seguintes questões: que reforma florestal? O que fazer?

 

Em primeiro lugar, a ação passa por limitar as superfícies florestais, matos e incultos, envolvendo-as com áreas agrícolas onde a massa combustível para arder é limitada. É preciso desenvolver as atividades agrícolas de forma uniforme e equilibrada ao longo de todo o território de Portugal.

 

Em segundo lugar, dentro das áreas florestais é preciso ordenamento, colocar cada espécie onde tem melhores condições de solo e clima para o seu crescimento e distribuí-las de forma alternada entre parcelas com espécies que ardem mais facilmente, por exemplo, pinheiros e eucaliptos, envolvidas por outras espécies com maior dificuldade em arder, isto é, carvalhos, sobreiros e castanheiros.

 

Em terceiro lugar, controlar a vegetação rasteira arbustiva com recurso a ruminantes, com maior incidência os ovinos e os caprinos, complementando com o fogo controlado de inverno e ação dos meios mecânicos nas faixas de contenção.

 

Em quarto lugar, para baixar o número de ignições é preciso uma forte campanha de comunicação para explicar às populações que o clima se alterou e não há condições para se fazerem de forma desordenada queimas de resíduos agrícolas e queimadas de regeneração de vegetação para futuras pastagens. Terá de se juntar um regime sancionatório mais dissuasor para os prevaricadores.

 

Em quinto lugar, a estratégia de vigilância e combate terá de ser diferente, terá de passar pela formação e envolvimento das populações, tendo por base planos em que os sapadores e bombeiros locais coordenarão as primeiras ações de combate às ignições.

 

Em sexto e último, os incêndios serão combatidos por profissionais com apoio de especialistas e voluntários. Os pirómanos identificados serão impedidos no seu acesso às florestas.

 

Em suma, creio que há condições para um envolvimento de todos os portugueses à volta do desenvolvimento e crescimento das florestas de Portugal e no controlo e limitação dos seus incêndios.

 

Consultor e empresário agrícola

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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