Opinião
O que esperar da nova Academia?
A vulnerabilidade cada vez maior do mercado de trabalho e a forma como as empresas operam nos diferentes mercados tem tornado inevitável a mudança dos processos de aprendizagem.
Há muito que a formação académica numa única área do conhecimento deixou de ser a estratégia formativa de eleição de quem se prepara para a vida ativa, e há muito que a formação profissional clássica, pós universitária, deixou de ser a única resposta para a progressão e atualização dos trabalhadores. Hoje são várias as opções ensaiadas pelas organizações para a atualização do saber e para enfrentar os propalados desafios globais do conhecimento, gerados sobretudo pela introdução de tecnologias e pelo cruzamento de áreas temáticas.
Confesso que sou, desde há muito, adepto do conceito de "aprender a aprender" como um dos pilares da educação atual e futura. Porque a capacidade e abertura para adquirir rapidamente novos conhecimentos para aplicação profissional, independentemente da idade e do setor de atuação, faz cada vez mais a diferença num mercado volátil e em constante mutação; e porque quanto mais cedo nos prepararmos para adquirir novos saberes maior capacidade teremos de nos adaptar a diferentes cenários, funções e necessidades, criando diversas "zonas de conforto" profissionais.
Mas da mesma forma que considero o "aprender a aprender" um conceito essencial no mundo académico e empresarial, será também falacioso achar que é esta a nova e única receita de um novo sistema educativo e formativo, deixando de lado outros métodos de aprendizagem tidos como mais clássicos. Não só a teoria continua a ser a base do conhecimento científico e do desempenho profissional em inúmeras tarefas complexas, como também o fator prático – tantas vezes apregoado, embora ainda pouco aplicado em determinadas áreas – assume de forma crescente um papel fulcral para o sucesso dos trabalhadores, das empresas e das economias.
Aliando o fator prático e os métodos experimentais a uma maior capacidade e predisposição para aprender, poderemos reduzir drasticamente as curvas de aprendizagem em profissões altamente especializadas e em setores específicos da economia, rentabilizando melhor o conhecimento e os investimentos realizados.
É neste capítulo que entram as chamadas academias corporativas. Mais do que meros repositórios de conhecimento destinados a quadros médios ou superiores, esta "nova" forma de as organizações encontrarem a Academia garante novos processos de atualização profissional, mais adaptados às necessidades específicas de um determinado setor ou empresa. Processos que podem ir do desenvolvimento de competências complexas, muito específicas e críticas, a uma torrente de informação multidisciplinar que prepara o profissional para papéis diversos dentro de uma mesma área, aproveitando de forma eficiente o "know-how" de que já dispõe em contextos de elevada mudança.
Os exemplos das parcerias de várias entidades portuguesas e multinacionais com a Nova School of Business and Economics (nas quais nos orgulhamos de participar com uma Academia de Brokers - nossos parceiros na mediação não exclusiva, que, neste primeiro ano de funcionamento, está a cumprir todos os objetivos desenhados), acaba por apontar essa direção que cada vez mais empresas deverão seguir. A direção que segue o aproveitamento do "know-how" de excelência das instituições académicas, o envolve de forma paralela e profunda entre a teoria científica e a prática empresarial, e desenha, inclusive, um caminho para o aparecimento de ferramentas inovadoras a implementar nos negócios.
Seja na área dos seguros, das vendas, na programação, na saúde, no desenho de produtos e serviços, na gestão ou na produção de bens, por exemplo, nunca a experiência dos profissionais que operam no terreno fez tanto sentido ser plasmada no plano académico e a excelência do conhecimento académico ser transposto para a atividade laboral.
Idealmente esta junção deverá ser usada como mais uma metodologia de aprendizagem, aproveitando exatamente a crescente apetência dos estudantes e dos trabalhadores para uma aprendizagem contínua. Só assim será possível garantir a evolução do conhecimento a um ritmo semelhante, ou superior, ao dos sucessivos desafios que a globalização dos mercados vai ditando.
Diretor-geral da MetLife na Ibéria
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico