Opinião
A importância da felicidade para as organizações
O trabalho deixou de ser apenas uma obrigação e passou a ser inequivocamente mais um instrumento para atingir a satisfação pessoal. O colaborador do século XXI é mais exigente. Já não se contenta apenas em trabalhar numa boa empresa.
A globalização, a inovação tecnológica e, consequentemente, o acesso cada vez mais generalizado à informação e ao conhecimento mundial, originou uma mudança individual e coletiva na nossa forma de estar e de pensar. E não se trata apenas de uma mudança ao nível das relações e comportamentos sociais, mas também de uma autêntica reinvenção nos ambientes profissionais.
O autoritarismo, tão típico de há algumas décadas, e na altura, o impulsionador das relações entre chefias e colaboradores, está em vias de extinção nas empresas. No lado oposto, o bem-estar dos colaboradores como fator chave de sucesso para a sua motivação e produtividade, torna-se cada vez a pedra basilar das relações laborais.
Esta nova forma de estar alterou obrigatoriamente a forma como as empresas se relacionam com os seus colaboradores. Conceitos como a cultura organizacional ou a responsabilidade social corporativa, antes quase desconhecidos, são agora pilares básicos na identificação e no posicionamento de uma organização.
Internamente, as empresas passaram a reconhecer a necessidade de criar laços com os seus colaboradores, de criarem relações de cooperação, baseadas na confiança e no empenho mútuos. As novas gerações, sobretudo, procuram mais que do que um salário. Procuram sentir-se parte de um todo, enquanto elementos que se identificam com os valores e a missão da empresa onde trabalham, para a qual contribuem e que confiam. Procuram uma harmonia entre o mundo profissional e o pessoal, num equilíbrio que só assim lhes faz sentido e que definitivamente contribui para a sua felicidade. O trabalho deixou de ser apenas uma obrigação e passou a ser inequivocamente mais um instrumento para atingir a satisfação pessoal. O colaborador do século XXI é mais exigente. Já não se contenta apenas em trabalhar numa boa empresa, aspira a trabalhar com um bom líder e exige um bom ambiente de trabalho.
A cultura organizacional desempenha aqui um papel agregador e consequentemente potenciador de uma maior produtividade. Uma boa experiência do cliente começa sempre numa boa experiência do colaborador porque é este que transmite em primeira mão a sua essência, a sua diferenciação e o seu valor. E uma boa experiência do colaborador começa sempre por escutar, compreender, envolver, participar e cocriar. No sentido de que o indivíduo forme parte de algo que se sinta orgulhoso e que o incentive a evoluir.
Todas as empresas que ainda a assumem como um conjunto de normas, hábitos e valores que devem apenas ser partilhadas entre os elementos da gestão ou simplesmente guardadas numa gaveta da direção, cometem, na minha opinião, um grave erro estratégico. Porque não estão a saber adaptar-se à nova realidade empresarial.
Externamente, as empresas também devem assumir um papel fundamental na construção de uma sociedade mais sustentável, que contribua para o bem-estar das comunidades envolventes. Uma atuação responsável e com a qual também os colaboradores se identifiquem e, uma vez mais, se orgulhem.
Já há vários anos que existem rankings das melhores empresas para trabalhar, cuja classificação não está baseada nos níveis salariais que pratica, mas sim no ambiente de trabalho que proporciona. Já dizia Charles Darwin: "as espécies que sobrevivem não são as mais fortes, nem as mais rápidas, nem as mais inteligentes; são aquelas que se adaptam melhor à mudança". E atualmente a transformação é contínua. Mesmo com algumas incertezas, consideradas normais num processo transformacional, rumar em direção à mudança será sempre a única forma de sobreviver.
Vice-Presidente do Sul da Europa & General Manager da MetLife na Ibéria