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03 de Junho de 2013 às 10:24

Está na hora de agarrar as acções europeias?

Apesar de todo o alarido à volta da austeridade e acerca do futuro do euro, e da natural ansiedade gerada pelas grandes manchetes sobre este tema, os investidores de longo prazo deverão concentrar-se nos dados relativos à boa saúde financeira, pois a verdade é que, no passado, foi em alturas de grande pessimismo que surgiram algumas das maiores oportunidades de investimento

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Após o início da crise financeira em 2008, as economias europeias, desde o Reino Unido até à Grécia, sofreram um longo período de recessão e de fraco crescimento. Ao mesmo tempo, assistimos pela primeira vez a um sério desafio aos princípios da União Económica e Monetária (UEM) desde a criação da moeda única. Apesar de a UEM ter saído incólume, os acontecimentos dos últimos anos fizeram surgir manchetes alarmistas nos jornais e geraram incerteza junto dos investidores, e foram as decisões políticas, em vez das avaliações ou dos resultados subjacentes das empresas, que impulsionaram os mercados.


No entanto, houve progressos a nível da união fiscal e económica no sentido de reforço da união monetária, e esta região está a dar os primeiros sinais de querer sair da crise. Numa altura em que a situação económica é de molde a sustentar os mercados accionistas europeus, não parecem faltar oportunidades para os investidores na Europa.


O BCE está empenhado em proteger o euro
Os mercados accionistas europeus sofreram os efeitos da volatilidade e da incerteza quando os investidores se viram confrontados com o que parecia ser um desfecho binário da crise: o fim do euro, tal como o conhecemos, ou... a sua continuidade. Os mercados poderão não precisar de uma solução para a crise financeira para seguir em frente, mas precisam de certas garantias sobre a contenção da crise. É aqui que o Banco Central Europeu (BCE) tem uma palavra a dizer.


O BCE, liderado por Mario Draghi, prometeu fazer "o que fosse necessário" para preservar o euro. As intervenções políticas, até agora, têm ajudado a estabilizar o sistema bancário, a reduzir os custos dos empréstimos soberanos e a atenuar a intensidade da crise. A introdução do programa de Transacções Monetárias Directas (TMD) - no âmbito do qual o BCE prometeu comprar quantidades ilimitadas de obrigações de um país elegível - nomeadamente, proporcionou uma forte barreira psicológica. O programa ainda está pendente de aplicação, mas a sua mera existência reforçou a confiança na vontade e na capacidade dos políticos em evitar uma ruptura do bloco monetário.


O reequilíbrio da Zona Euro está em marcha
As intervenções do BCE exerceram um poderoso efeito calmante sobre a confiança dos investidores, o que ficou patente na queda de rentabilidade das obrigações periféricas após o anúncio do TMD. No entanto, a queda de rentabilidade das obrigações é igualmente reflexo das políticas fiscais restritivas e das reformas do lado da oferta nos países altamente endividados, contribuindo para um reequilíbrio no seio da Zona Euro.


Antes da crise, a Alemanha passou por um forte superavit comercial, enquanto as economias periféricas se viam a braços com défices comerciais persistentes. A Alemanha aumentou de forma contínua a sua riqueza com a venda de bens aos países vizinhos, enquanto os países periféricos, sendo grandes consumidores de produtos alemães, continuavam a enviar dinheiro para o exterior. Desde o início da crise, porém, a recessão profunda e as fortes políticas de austeridade contribuíram para o decréscimo das importações por parte dos países periféricos, levando a uma queda do superavit comercial da Alemanha e a uma melhoria do défice comercial dos países periféricos. Esta correcção dos desequilíbrios comerciais constitui um elemento importante para a retoma da Zona Euro.


Vem aí menos austeridade
A utilidade e a validade da austeridade têm sido alvo de acesos debates. Embora haja muitos países que conseguiram reduzir significativamente o seu défice anual ou que estão no bom caminho para o fazer até 2015, as medidas de austeridade ainda não exerceram um impacto significativo sobre os rácios globais de dívida em percentagem do PIB, o que se deve ao facto de a dívida se ter acumulado ao longo de muitos anos e de, por isso mesmo, a sua redução constituir um processo moroso, além do facto de a austeridade, numa fase inicial, levar a um fraco crescimento do PIB, o que limita o valor do denominador do rácio da dívida em percentagem do PIB.


Há muitos economistas e estrategos políticos, nomeadamente o Fundo Monetário Internacional, que sustentam que o ritmo de austeridade tem de ser flexível para não restringir o crescimento. A grande vaga de austeridade parece já ter passado, e até o Ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, prometeu "flexibilidade" nos seus planos de redução do défice.


Atendendo aos sinais de contenção da crise da Zona Euro e de redução da actual política de austeridade, o reforço da UEM parece ser um cenário realista. Numa altura em que os investidores começam a aperceber-se da melhoria da situação económica, assistimos ao seu regresso aos mercados accionistas regionais, numa tentativa de aproveitar o actual nível de avaliações, que parece interessante.


Antes de amanhecer, o céu fica sempre mais escuro
Importa igualmente recordar que, apesar do fraco crescimento derivado da austeridade e do receio de ruptura da UEM, a Europa alberga um grande número de empresas multinacionais que estão protegidas da quebra da procura interna devido às exportações. Entretanto, entre as acções com forte incidência no mercado interno, os investidores conseguem encontrar sectores defensivos que proporcionam um bom nível de rentabilidade de dividendos, juntamente com alguns sectores cíclicos que parecem apresentar procura excessiva, devido ao receio, injustificado, de que a economia europeia nunca irá recuperar.


Embora os investidores tenham razões de sobra para investir em acções europeias, este tipo de investimento ainda comporta alguns riscos. Apesar de haver menos motivos de preocupação, mantém-se o cepticismo relativamente à viabilidade da moeda comum. O principal risco tem a ver com o facto de esta desconfiança em relação ao euro poder aumentar excessivamente antes de a economia europeia sair da zona de perigo, e de os cépticos poderem chegar ao poder, ou de o cepticismo ganhar força de forma a impedir a cooperação entre os países que constituem a Zona Euro. A probabilidade de ocorrência desses cenários parece ser mínima, mas os investidores não deverão descurar o impacto do cepticismo na cena política.


À medida que passar o receio de ruptura da UEM, é possível que os investidores se apercebam de que as acções europeias oferecem excelentes oportunidades de negócio. Apesar de todo o alarido à volta da austeridade e acerca do futuro do euro, e da natural ansiedade gerada pelas grandes manchetes sobre este tema, os investidores de longo prazo deverão concentrar-se nos dados relativos à boa saúde financeira, pois a verdade é que, no passado, foi em alturas de grande pessimismo que surgiram algumas das maiores oportunidades de investimento. No entanto, os riscos permanecem, e os investidores deverão manter uma carteira bastante diversificada para se protegerem dos obstáculos que se lhes vão deparar ao longo do caminho.

 

 

 

Head of Sales da JPMorganAM para a Península Ibérica

 

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