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23 de Dezembro de 2016 às 09:55

Engorda de Natal

Apesar de ser só um fim-de-semana, é muito provável que consigamos voltar das "férias" de Natal mais gordos do que depois das férias de Verão.

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É impressionante a capacidade que um ser humano tem para atafulhar criaturas no estômago durante a ceia de natal. O que pomos em cima da mesa da consoada, num dia normal, dava para alimentar Elvas. E Elvas ainda levava um "tupperware", com restos para dar a Badajoz. No Natal, vai tudo. Parecemos ceifeiras a debulhar comida. É como se as pessoas tivessem recebido de prenda um casal de ténias.

Já imaginaram o que seria se a consoada se o bacalhau fosse como frango? Se em minha casa já há discussão por causa da posta alta e posta baixa, o que seria se o bacalhau viesse só com duas pernas?! Havia feridos. E lá ficavam os miúdos com as asas do bacalhau.

Em minha casa, o bacalhau vem com tudo. E, quando eu digo com tudo, inclui duas norueguesas vestidas com couve, por causa dos dentes do avô. Eu gosto do meu bacalhau com arroz-doce. Assim, salto logo para as prendas.

No meu Natal também costuma haver canja de peru com massa de letras. É um clássico. Dá trabalho mas, com a colher, consigo mandar alguns dos meus familiares para sítios porreiros sem eles darem por isso.

Em minha casa, também costuma haver uma coisa que é a chamada "travessa de carnes frias". As mais fascinantes, carnes frias, são as mortadelas com Chocapic de azeitonas em "pickles". Parecem uma rodela, cortada, fininha, de uma perna de uma senhora com varizes.

Não sei quem se lembra de decorar rodelas de porco com mais comida, mas é de certeza alguém que, na infância, comia sandes de banha com rodelas de Ketchup. E deve ser a mesma pessoa que se lembrou de deitar "confettis" em cima de broas. Irritam-me estas pessoas que gostam de alterar o que estava bem. Têm sempre de adicionar mais qualquer coisinha. Como aqueles que põem fios de ovos à volta do bolo-rei. O bolo-rei é uma coisa de homem, maciça, não é para estar a juntar cenas da Accessorize.

Este ano, felizmente, ofereceram-me uma fatia dourada para cama de casal e já não fico a seco até à hora de ir abocanhar o peru. Eu detesto peru. O peru é uma coisa que comemos mais por causa do tamanho do que pelo sabor. É só porque é um bicho que matava um frango com uma patada e, nos outros dias, comemos frango. Porque a carne do peru, propriamente dita, sabe a beliche. Por isso é que lhe metem coisas lá dentro. Ou seja, mais uma vez, acrescentam comida à comida. Não chega comer uma ave do tamanho, e peso, dos dois netos mais novos, ainda lhe enfiam castanhas e patês, onde antes estavam coisas que faziam falta ao peru para fazer um vida normal.

Se o peru soubesse que, depois de morto, vai para a mesa com coisas que ele nunca comeu enfiadas no rabo, andava atrás de pavões enquanto era vivo. Que se lixe a fama se é para acabar assim.

Feliz Natal para todos e ficamos à espera dos prometidos Três Reis Magos.


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Consoada

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