Opinião
As vozes silenciosas
No processo mediático em torno da crise, já ouvimos de tudo e de quase todos: sindicatos, patrões, desempregados, reformados, políticos, funcionários públicos... No entanto, nada ou quase nada foi dito sobre uma geração mais nova e silenciosa que optou por não emigrar e por cá ficou a trabalhar.
No processo mediático em torno da crise, já ouvimos de tudo e de quase todos: sindicatos, patrões, desempregados, reformados, políticos, funcionários públicos... No entanto, nada ou quase nada foi dito sobre uma geração mais nova e silenciosa que optou por não emigrar e por cá ficou a trabalhar.
Sobre ela recai o enorme peso de criar riqueza para as próximas décadas (agora que se viu o resultado de uma política de gastos públicos não produtivos). Infelizmente, a essa geração também está reservada a enorme tarefa de suportar a elevadíssima fatura dos erros do passado!
A discussão sobre direitos adquiridos e constitucionalidades quando manipuladora vira tóxica. No fundo, o que hoje se discute verdadeiramente é a manutenção de um sistema para alguns e não a sustentabilidade do mesmo para todos!
Como é largamente sabido, o sistema atual de pensões não é de capitalização mas sim de distribuição, o que os ingleses simpaticamente apelidam de "pay as you go". Isto significa que tudo quanto descontamos hoje de nada nos servirá no futuro. Com um envelhecimento claro da população a problemática está instalada.
Já não bastando estes ventos de proa, temos um sistema historicamente injusto entre privado e público, no que toca a repartição de um bolo cada vez mais pequeno. O regime da caixa geral de aposentações é um luxo comparado com o regime geral. A ADSE é melhor do que o melhor seguro privado e a lei laboral dos funcionários públicos incomparavelmente melhor que a dos privados.
É a esta nova geração que se pede que suporte tudo isto. Mas essa não tem voz, nem aparece. O que não é seguramente de estranhar, num país em que os presidentes da República e do Parlamento são ambos reformados da causa pública e dela depende a larga maioria votante.
Mas, independentemente destas crispações geracionais que se avizinham, terá de imperar uma visão em que disciplina e rigor são condições necessárias para a sobrevivência do sistema. A alternância entre o enfio-a-cabeça-na-areia-e-estou-me-nas-tintas-para-tudo-porque-isto-me-corre-bem e o grito-desalmadamente-porque-me-estão-a-pisar não é seguramente um modelo nem responsável, nem sustentável!
A marcha destes novos indignados arrisca-se a ser uma mais silenciosa.... Uma marcha definitiva para outras paragens!
Economista e Managing Partner da ASK - Advisory Services Capital