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18 de Maio de 2015 às 20:20

A retracção dos mercados bancários - (XLVIII)

O nosso mercado bancário expandiu-se fortemente ao longo do período em que o crescimento económico foi alavancado pelo crédito e tem agora de se redimensionar, num movimento com implicações complexas.

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1. Os mercados financeiros da Europa do euro estão a atravessar um período de reorganização que, no essencial, se caracteriza por: um claro recuo dos mercados bancários, acompanhado por um movimento de recentragem do modelo de negócio da banca europeia; uma expansão de sectores menos regulados, em particular do tipo de intermediação financeira conhecida como "shadow banking". Neste contexto importa, por um lado, identificar as pressões que estão a impulsionar estas mudanças e, por outro, o seu impacto sobre o financiamento das economias do euro.

 

Um conjunto muito complexo de pressões está a abater-se sobre os mercados financeiros europeus: compras maciças de activos por parte do BCE; uma retoma frágil das economias da Zona Euro; baixa inflação - "lowflation" - que continua a ameaçar evoluir para uma situação de deflação; receios - infundados ou não - do impacto de "default" e de uma saída, mais ou menos controlada, da Grécia; por último, as pressões que decorrem do novo quadro regulatório e prudencial implantado no âmbito da união bancária.

 

Cada um destes factores, por si só, está na origem de pressões complexas e com impacto por vezes contraditório sobre os mercados financeiros. No entanto, dois deles em particular - compras do BCE e a crise grega - estão, por razões distintas, na origem de pressões com consequências ainda difíceis de avaliar.

 

Tratando-se embora de pressões transversais a todos os mercados da Zona Euro, a verdade é que o seu impacto sobre o financiamento das diferentes economias não é homogéneo. De facto este depende sobretudo de dois tipos de factores que variam de economia para economia: nível de endividamento - alavancagem; peso, no balanço dos bancos, dos activos de baixa - ou nula - rentabilidade.

 

Reveste-se de interesse ter aqui presente que o período de retracção por que estão a passar os mercados bancários poderia constituir uma oportunidade para induzir um movimento de reorganização dos mercados de capitais. Para isso seria, no entanto, necessário lançar na Europa do euro um processo dirigido à criação de condições favoráveis ao desenvolvimento de mercados financeiros transeuropeus - condições institucionais, fiscais, jurídicas, regulamentares e mesmo operacionais. O que pressupõe um avanço qualitativo do processo de integração, a caminho da implantação de uma união financeira - monetária, bancária e de capitais. Na ausência desta evolução, iremos continuar a assistir ao crescimento rápido dos sectores de intermediação menos regulados - "shadow banking" - que estão já a colocar novos e por vezes complexos problemas de regulação e de supervisão, com um impacto sobre a "economia real" que é ainda difícil de avaliar, dadas as alterações que estão a induzir nos canais de transmissão dos impulsos da política monetária única.

 

2. Entre nós os bancos estão a procurar recentrar o seu modelo de negócio, de modo a responder a três tipos de pressões: uma retoma lenta que dificulta a regeneração das suas carteiras de crédito; um enquadramento prudencial e regulamentar muito mais exigente e intrusivo; um contexto de taxas de juro historicamente baixas que, embora nalguns casos tenha aberto novas "linhas de negócio", se está a reflectir de forma muito negativa na rentabilidade de blocos importantes de activos que integram os balanços da generalidade dos bancos, afectando a sua rentabilidade global.

 

O nosso mercado bancário expandiu-se fortemente ao longo do período em que o crescimento económico foi alavancado pelo crédito e tem agora de se redimensionar, num movimento com implicações complexas que devem ser controladas de modo a minimizar os seus efeitos sobre o financiamento da actividade económica. Quadro que se torna mais complexo se considerarmos as alterações que se estão a verificar nas relações tradicionais entre os bancos e os clientes.

 

É neste contexto que ganha importância a adopção de um programa capaz de enquadrar o movimento de reorganização do nosso mercado financeiro. Questão a que me proponho voltar.

 

Economista

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