Opinião
A inteligência artificial já chegou aos Jogos Olímpicos para mudar Tóquio 2020
Muitas das soluções experimentadas serão implementadas com mais relevância na próxima edição, em 2024, quando, se tudo correr bem, voltarmos a ter os estádios olímpicos cheios e em outros eventos de tão grande escala a nível mundial.
Os Jogos Olímpicos têm sido, nos últimos anos, oportunidades de ouro para dar a conhecer os mais recentes avanços tecnológicos. Se em 2018, nos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang, os adeptos experienciaram tecnologias como o 5G, a realidade virtual, drone light shows e, até, a estreia das competições eSports, este ano, nos Jogos Olímpicos de verão de Tóquio tivemos a oportunidade de ver a inteligência artificial (IA) a desempenhar papéis fundamentais na compreensão, na segurança e na eficiência deste que é um dos maiores eventos desportivos internacionais.
Começando pela sua potencialidade na área da tradução, vimos a inteligência artificial a ajudar na comunicação, possibilitando o entendimento perfeito entre os mais de 11 mil atletas, de 206 nações que se reuniram este ano para mais uma edição deste evento desportivo. Contudo, o que vimos foi a utilização de dispositivos de tradução automática e de códigos QR disponíveis para sinalizar muitos locais olímpicos e a partir dos quais os atletas puderam obter informações na sua língua nativa. Isto pode parecer pouco quando já existem ferramentas que permitem captar nuances da língua e o contexto das conversas, mas foi um passo importante.
Outra das inovações que vimos este ano foram os guias robóticos e os assistentes de campo. Os robôs do Laboratório de Robótica de Haneda, utilizados para receber os atletas e detetar de potenciais riscos de segurança, ou seja, treinados para atuar como guias multilíngues para direcionar os atletas e membros das comitivas de cada país quando estes chegavam ao aeroporto no Japão e para alertar os seguranças em caso de risco de modo a prevenir qualquer incidente. Além disso, também os estádios e outros locais tinham chatbots alimentados por IA que forneciam informação sobre horários de transporte, direções, pontuações, entre outros.
Além de guiarem os atletas e de os manterem informados, estes robôs foram utilizados como assistentes de campo durante os jogos, por exemplo, para recuperar automaticamente os dardos, martelos e discos depois de serem lançados.
Mas, como em qualquer grande evento como os Jogos Olímpicos, a segurança é uma das maiores preocupações. Neste âmbito, os planos do Comité Olímpico passaram por utilizar a IA para reduzir uma variedade de potenciais riscos, como os relacionados com o clima através de um sistema que, a partir de dados como o índice de calor e de IA, previnem e reduzem o risco de insolação em áreas específicas. Adicionalmente, também um software de reconhecimento facial foi utilizado para autenticar a identidade dos participantes durante a admissão no evento. Isto ajudou no trabalho dos seguranças e reduziu o congestionamento nos pontos de admissão, algo fundamental para garantir o bem-estar na Aldeia dos Atletas e em mais de 40 locais de competição.
Num outro esforço para melhorar a eficiência dos Jogos Olímpicos, nesta edição foi possível automatizar o controlo das multidões. Embora os adeptos não estivessem presentes, existiam milhares de atletas, juízes, e muito mais nos locais de competição. Assim, através de dados de fluxo humano de câmaras instaladas em veículos da polícia, o sistema pode, em tempo real, prever os movimentos futuros da multidão e identificar comportamentos suspeitos. Isto, combinado com um sistema de visualização emocional para detetar pessoas enfurecidas entre uma multidão, permitiu evitar perturbações ou perigos. Além disso, este sistema automatizado de controlo de multidões permitiu gerir o tráfego de peões e veículos em redor dos locais em tempo real para prever congestionamentos e sinalizar as melhores rotas.
Mas o papel da inteligência artificial chegou também à experiência de visualização das competições de Tóquio 2020. Através de dados recolhidos a partir de câmaras móveis para analisar a biomecânica dos movimentos dos atletas em tempo real, foi possível ter acesso a informação como a velocidade dos atletas e a distância percorrida, enquanto decorriam as provas.
Assim, o que vi foi um grande passo em frente numa competição tão significativa, que espero que se reflita em outros eventos. Muitas das soluções experimentadas serão implementadas com mais relevância na próxima edição, em 2024, quando, se tudo correr bem, voltarmos a ter os estádios olímpicos cheios e em outros eventos de tão grande escala a nível mundial.