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26 de Fevereiro de 2021 às 09:40

Making it big

Os avanços óbvios, contudo, (ainda) não se traduzem numa demografia das empresas diferente, ilustrando o caminho de melhoria e consolidação por percorrer e a lentidão na apropriação de alterações estruturais.

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No ano passado, o Banco Mundial publicou o livro: “Making It Big: Why Developing Countries Need More Large Firms”(1). A dimensão da empresa tem importantes implicações no seu desempenho e capacidade de criação de valor. As grandes empresas são fator de desenvolvimento, porque tendem a ser mais produtivas, sobretudo em setores manufatureiros – com a exceção do setor público. A dimensão está, tradicionalmente, associada a determinados posicionamentos: maiores empresas oferecem treino formal, têm orientação exportadora, são internacionalmente certificadas, não são ameaçadas por concorrentes informais e não estão tão sujeitas a restrições financeiras. São, tipicamente, geridas com recurso à monitorização de desempenho por indicadores e executam ações corretivas aquando da deteção de problemas. Para além da orientação externa, dedicam igualmente mais recursos a formação e inovação (mais gastos em investigação e desenvolvimento). Para os trabalhadores, a maior produtividade reflete-se em melhores condições laborais (incluindo maior remuneração), oportunidades de carreira e formação.

Pequenas empresas dominam em países com menores rendimentos, onde as grandes empresas são inexistentes. Empreendedores/investidores impelidos por oportunidades de negócio, em vez da necessidade, mais qualificados, motivados e com vontade para assumir riscos rareiam nestes países, dificultando a progressão de pequena para grande empresa. Capacidade de gestão, capital, trabalho, tecnologia e acesso ao mercado são os ingredientes para uma grande empresa. Os fatores distintivos das grandes empresas estão presentes desde a criação: organização, orientação e competências, distinguem-nas da empresa média da indústria. A propriedade desempenha igualmente um papel relevante: capital estrangeiro ou de indivíduos com fortuna e/ou com ligações políticas e/ou anterior experiência de gestão no setor.

Uma das fragilidades do tecido empresarial português é reconhecidamente a sua atomicidade a par da escassez de empresas de maior escala. Na publicação “Empresas em Portugal-2018” editada em fevereiro de 2020 pelo INE, considerando o universo das sociedades não financeiras, constata-se que existem 1.262 grandes empresas para 1.294.037 PME (42.581 pequenas e 6.961 médias), a que corresponde um valor acrescentado bruto (VAB) de 35 mil milhões de euros e 55 mil milhões, respetivamente.

As empresas de maior dimensão registam, de forma geral, melhores resultados e apresentam melhores indicadores de capital. Se, em 2018, 40% das sociedades (total de sociedades é 413.767) reportaram resultados líquidos negativos, nas sociedades de maior dimensão esta percentagem reduz-se para 16,6%. Interessantemente, em 2018, quando a economia portuguesa cresceu 2,8% (variação anual do PIB real), o número de empresas com resultados líquidos negativos aumentou. Se a rendibilidade das vendas das grandes empresas oscilou entre 0,6% e 7,4% (com mediana em 2,8%), para as PME o intervalo é delimitado por -5,9% e 9,4% com mediana em 2,0%. Enquanto 3,9% das grandes empresas registam capital próprio negativo, este valor sobe para 6,5% nas médias, 10,1% nas pequenas e 28,3% nas microempresas. Em termos de gastos com pessoal por pessoa empregada, as pequenas empresas gastaram 6.390€ que compara com 23.960€ no caso das grandes empresas (21.680€ no caso das médias). Este comportamento reflete a produtividade aparente do trabalho.

Em 2018, 6,3% das sociedades (25.918) tinham perfil exportador, um acréscimo de 4,6% face a 2017, com destaque para a Indústria (16%), Informação e comunicação (15%) e Transportes e armazenagem (11%). Assinale-se que a indústria apresenta o melhor resultado líquido contrastando com o pior desempenho de alojamento e restauração com resultado líquido negativo em 2018 e nulo em 2017. A indústria, segundo setor em termos volume de negócios depois do comércio, destaca-se ainda pelo facto de ser um setor pouco concentrado, em que as cinco maiores empresas representam 14% do volume de negócios que compara com Energia e água (53%), Informação e comunicação (38%) ou Transportes e armazenagem (28%).

Ao longo da última década, as condições iniciais melhoram substancialmente nas valências de: capacidade de gestão, trabalho (disponibilidade e qualificações), capital (menor custo de financiamento, menor endividamento e mais investimento direto estrangeiro orientado para a indústria), tecnologia e acesso ao mercado. Os avanços óbvios, contudo, (ainda) não se traduzem numa demografia das empresas diferente, ilustrando o caminho de melhoria e consolidação por percorrer e a lentidão na apropriação de alterações estruturais.

 

(1)Ciani A., Hyland M.C., Karalashvili N., et al. 2020. Make It Big: Why Developing Countries Need More Large Firms. Washington, DC: World Bank.

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