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27 de Abril de 2016 às 20:35

Um país que necessita de poupar e de investir

Fala-se muito no endividamento do Estado e que de facto é elevado (perto dos 130% do PIB), mas se considerarmos o endividamento das empresas e das famílias, chegamos a um valor bruto perto dos 400% do PIB.

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Se analisarmos a evolução da poupança dos portugueses, medida pelo indicador de poupança APFIPP / Universidade Católica, verificamos que, calculado com base no ano 2000 (base 100), este indicador teve no final de 2002 nos 110 pontos, em 2008 perto dos 100 pontos e terminou o ano de 2015 nos 55,2 pontos (61,2 pontos em Março de 2016, último dado disponível à data em que escrevo este artigo).

 

Ou seja, o indicador de poupança está praticamente em metade do máximo registado no período da série de observações (2000/16).

 

Este facto é um problema estrutural da economia portuguesa: reduzido nível de poupança e excessivo endividamento das famílias.

 

Fala-se muito no endividamento do Estado e que de facto é elevado (perto dos 130% do PIB), mas se considerarmos o endividamento das empresas e das famílias, chegamos a um valor bruto perto dos 400% do PIB.

 

A poupança deve ser um ato contínuo, mas normalmente os portugueses são mais propensos a poupar em épocas de crise e não em períodos mais positivos da economia.

 

Tendo trabalhado cerca de 25 anos nos mercados financeiros, nomeadamente na área de fundos de investimento mobiliário (FIM) e estando agora a trabalhar na área dos fundos de investimento imobiliário (FII), não deixo de ficar algo surpreso com a evolução que os volumes sob gestão de vários instrumentos de poupança tiveram nos últimos 10 anos.

 

Baseado nos dados da APFIPP, os fundos de investimento mais castigados foram os FIM que passaram de um volume sob gestão em 2006 de 29,1 mil milhões de euros para 11,5 mil milhões de euros em Março de 2016, ou seja, uma queda de 60%.

 

Os FII tiveram um comportamento mais estável, até porque grande parte são fundos fechados e portanto, com menos variabilidade de subscrições e resgates. Em 2006, o volume sob gestão era de 9 mil milhões de euros e em Fevereiro de 2016 era de 10 mil milhões de euros.

 

Os fundos de pensões registaram uma quebra no volume de activos sob gestão passando de 20,6 mil milhões de euros em 2006 para 17,8 mil milhões de euros em 2015.

 

Finalmente, o volume da gestão de patrimónios passou de 51,9 mil milhões de euros em 2006 para 58,3 mil milhões de euros em Fevereiro de 2016.

 

Ou seja, estes quatro instrumentos de captação de poupança ou evoluíram em 10 anos muito pouco ou registaram decréscimos, sendo os dos FIM muito significativo.

 

Num país que necessita de poupar e em que as taxas de juro se encontram em níveis muito reduzidos e a remuneração de depósitos a prazo e de instrumentos de dívida é genericamente não atractiva, faz todo o sentido diversificar o investimento.

 

Vamos ter agora o lançamento das OTRV (obrigações do tesouro de rendimento variável ou indexado à Euribor) para o retalho. A remuneração bruta inicial anunciada é de 2,2% que na prática é o prémio dado, pois a Euribor estando negativa é considerada 0% no cálculo da taxa de juro. Contudo, é necessário ter em atenção que só se vai receber 72% em termos líquidos e sendo títulos colocados pelos bancos, há que ter em conta eventuais comissões nas transacções bem como a comissão de custódia.

 

Mas, todas as decisões com vista à criação ou ao incentivo de produtos de poupança são bem recebidas.

 

Sem poupança, não há investimento e só com este se pode criar emprego e desenvolver a economia.

 

Economista

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