Opinião
Pagamos o dinheiro entregue a Manuel Pinho
Manuel Pinho recebeu dinheiro do Grupo Espírito Santo enquanto estava no Governo. Este pagamento revela a promiscuidade inadmissível e criminosa que prejudica a democracia e a economia.
A investigação ao dinheiro transferido para as contas de Manuel Pinho por parte do Grupo Espírito Santo é das mais relevantes da nossa democracia, a par da Operação Marquês. Falta à justiça provar a ligação entre os pagamentos feitos por Ricardo Salgado e as generosas rendas oferecidas às eléctricas, no entanto, basta saber que um ministro recebia verbas do mais poderoso grupo privado, mesmo sendo alegadas compensações pelo trabalho realizado anteriormente, para ver o atentado ao Estado democrático que estas práticas revelam.
Pinho, que saiu da política por causa de uma cena infantil no Parlamento, não fez apenas o sinal de "cornos" a um adversário político. Como se sabe agora e já se sabia desde a cátedra paga numa prestigiada universidade de Nova Iorque, o ministro Pinho nunca respeitou os cidadãos, nem o regime democrático.
Quando foi escolhido por Sócrates para ser cabeça-de-lista por Aveiro, Pinho foi logo classificado como o homem do Grupo Espírito Santo nas listas de um partido favorito para as eleições. Após a maioria absoluta nas legislativas, foi escolhido para a poderosa pasta da Economia. A sua ligação ao Grupo Espírito Santo em 2005 estava longe de ser um anátema. Nem era um risco de cadastro, antes pelo contrário, era currículo valioso.
Havia quase uma norma não escrita na Constituição que levava a que cada governo constitucional tivesse no seu seio pelo menos um governante residente com fortes ligações ao Grupo Espírito Santo. Com este escândalo, desconfiamos, agora, que esta ligação não era um simples serviço cívico de quadros ligados ao maior grupo privado.
Com o dinheiro transferido do Grupo Espírito Santo para "offshores", Pinho comprou um confortável apartamento em Nova Iorque. Desgraçadamente, há razões para temer que esse bem esteja a ser pago com juros pesados por empresas e famílias nas rendas escondidas nas facturas eléctricas.
As ligações perigosas entre os maiores grupos e o poder legislativo e executivo são um dos calcanhares de Aquiles da democracia portuguesa. Não é um fenómeno exclusivo de Portugal, mas é grave porque estas relações pouco transparentes tendem a favorecer grupos menos capazes, que acabam por ser subsidiados pelas rendas públicas e travam a competitividade entre empresas, e a inovação.
Como se sabe, a corrupção é um imposto duplamente despendido pelos cidadãos e contribuintes, que pagam mais caro um serviço menos eficiente. O escrutínio da justiça a estas ligações é um motivo de esperança.
Saldo positivo: visita de Macron à América
O Presidente francês realizou uma visita triunfal à América. Tem uma boa relação com o Presidente dos Estados Unidos, mas advogou em Washington causas importantes. Baixou a tensão de Trump com o Irão, mantendo firme o princípio de que o regime de Teerão jamais possa ter um arsenal nuclear. E num período em que a administração Trump ameaça o mundo com novas guerras comerciais, alertou para os perigos do proteccionismo que prejudicam os aliados tradicionais da América.
Saldo negativo: no lixo da Moody´s
A única casa de "rating" importante que mantém a nota de Portugal no lixo não altera a posição. A banca ainda está "fraca" e o endividamento é elevado, diz a Moody's. Estes são os pontos fracos que persistem na economia portuguesa, apesar da evolução positiva da economia e de algumas melhorias na situação da banca. Seria importante que não houvesse nenhuma mancha de lixo nas casas de "rating", o que melhoraria a percepção dos credores e investidores sobre o país e a sua economia.
Algo completamente diferente: recibo revela opacidade no salário dos deputados
Por causa da polémica que começou com a acumulação de subsídios e pagamento de viagens para os deputados eleitos pelos círculos das regiões autónomas, com destaque para Carlos César, Ascenso Simões, deputado transmontano eleito por Vila Real, publicou o recibo de ordenado na internet. E o que revela? O salário base de um representante da nação é baixo. Mas por outro lado há uma percentagem elevada (47% do total) de subsídios e ajudas de custo que não é tributada. O salário dos políticos devia ser mais elevado, mas o pagamento devia ser mais transparente, sem batotas.