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O vulcão italiano ameaça a moeda europeia 

A estranha coligação em Itália entre os populistas do Movimento 5 Estrelas e a Liga Norte queria para ministro das Finanças um economista académico eurocéptico. O nome foi chumbado, o Governo morreu à nascença. 

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Não faltam vulcões em Itália. Geram cenários maravilhosos, idílicos, mas por vezes com consequências catastróficas, como a erupção do Vesúvio, que destruiu Pompeia há quase dois mil anos. Nas últimas semanas, a política italiana sofreu abalos, que podem ter consequências devastadoras para a estabilidade da moeda única e da Europa. Itália é a maior economia do Sul da Europa, curiosamente com um padrão muito semelhante ao português, com muitos anos de crescimento anémico e sobreendividamento.

 

Mas enquanto o sistema político português não sofreu grande erosão, e mesmo a heterodoxa solução da geringonça manteve os compromissos com a moeda única, o sistema político italiano colapsou. Os partidos mais votados são o Movimento 5 Estrelas, tipicamente populista, fundado por um antigo palhaço, Beppe Grillo, e partidos de extrema-direita, com raízes neofascistas.

 

Depois das recentes eleições legislativas com um quadro parlamentar muito complexo, o Movimento 5 Estrelas e a Liga Norte chegaram a um princípio de acordo. Mas o Governo de Conte caiu à nascença, porque o escolhido para a pasta das Finanças era um economista eurocéptico.

 

O chumbo do Presidente italiano a Paolo Savona, o professor universitário escolhido pela coligação populista, foi visto como uma aceitação de Roma de ordens de Berlim e de Paris.

 

Além das consequências políticas, este episódio volta a colocar na agenda as ameaças ao euro. Este assunto tem que ver com o nosso futuro. Não apenas com o nosso bolso.

 

Apesar da acalmia dos últimos anos, para a qual contribuiu a melhoria dos indicadores económicos, as mudanças de atitude do Governo alemão e da generosa política monetária do BCE, os problemas estruturais do euro não ficaram resolvidos. A pressão sobre os países mais frágeis do Sul diminuiu, mas os problemas estruturais permanecem.

 

A moeda única ainda não resolveu os problemas das assimetrias de competitividade entre o Norte e o Sul da Europa.

 

A moeda é a mesma, mas permanece um muro entre os países credores do Norte e os países endividados do Sul.

 

É neste barco de fraco crescimento, associado ao envelhecimento demográfico e sobreendividamento dos Estados, que se encontram Itália e Portugal, para não falar do caso mais patológico da Grécia.

 

Para já, Itália é só um susto que arrasa bolsas e sobe juros da dívida, mas este episódio lembra as fragilidades da arquitectura do euro, que um dia pode mesmo colapsar. Ao contrário dos diamantes, o euro não é eterno.

Saldo positivo: investimento alemão

 

A visita da chanceler Merkel a Portugal serviu para lembrar a importância do investimento alemão no nosso país. Destaca-se por ser um importante investimento na área industrial, gerador de trabalho qualificado. São projectos relevantes nas áreas geográficas onde estão inseridos e que multiplicam riqueza. Há ainda outro ponto importante que é quase um padrão: nas maiores empresas, há muitos quadros de topo portugueses. E os resultados são positivos, quer para a economia portuguesa quer para os investidores.

 

Saldo negativo: carga fiscal sobre a energia

 

A carga fiscal sobre a energia é uma sobrecarga para as famílias e as empresas. 53% de impostos no preço do gasóleo chegam a ser confisco. Mas o abuso não se fica nos combustíveis. Na energia eléctrica, a taxa fiscal chega a 52%. É uma grande desvantagem competitiva para as empresas e um dos custos mais relevantes. Mas para as famílias esta pressão social é também um fardo injusto. Neste país, por causa do peso da conta da luz, há muita gente a morrer, literalmente, de frio no Inverno e de calor excessivo no Verão.

 

Algo completamente diferente: o homem que melhor pensa sobre Portugal

 

Eduardo Lourenço celebrou 95 anos e felizmente mantém a inteligência e a lucidez de um sábio. Publicou a primeira obra, "Heterodoxia", em 1949, o que significa que marca presença pública no pensamento sobre Portugal e a cultura portuguesa há 69 anos. Curiosamente, a sua obra principal é escrita a partir do exílio voluntário no Sul de França. Filósofo, ensaísta, historiador de cultura, entre os seus livros destaca-se o "Labirinto da Saudade: Psicanálise mítica do destino português". Um ensaio que deveria ser de leitura obrigatória. Incontornável para perceber Portugal. 

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