Opinião
O inferno demográfico
A maior ameaça à economia portuguesa é mesmo a demográfica. O país está a envelhecer e a encolher. Em 2031 já seremos menos de 10 milhões a residir neste território, o que significa que já haverá dezenas de cidades no mundo com população e PIB superiores ao de Portugal.
Mas as estimativas divulgadas esta semana pelo INE são ainda mais aterradoras: em 2080 só haverá 7,5 milhões de portugueses.
Se a economia é em certo sentido um termómetro da demografia, as previsões são de profundo arrefecimento. Dos 6,7 milhões de pessoas que constituem hoje a população activa do país (15 aos 64 anos) passaremos a 3,8 milhões em 2080. Obviamente que a curva da evolução de um dos países do mundo com a menor taxa de natalidade provocará sérios constrangimentos económicos e sociais. Ainda por cima com tanta pobreza e com tão baixa poupança, com a esmagadora maioria da população a depender dos apoios sociais e das reformas para as quais descontaram, haverá uma pressão gigantesca sobre a Segurança Social.
Há apenas duas maneiras de mitigar este impacto negativo: através do incentivo à natalidade e da integração de imigrantes.
Mas para a imigração ser um activo importante é fundamental que seja qualificada e integrada na cultura do país. Aliás, essa é a matriz de Portugal, integrador de gente das mais diversas origens geográficas que se considera português. Nesse sentido, a selecção nacional de futebol é um bom exemplo dessa integração. Tão português é Cristiano Ronaldo da Madeira, Rui Patrício de Leiria, Raphael Guerreiro, nascido em França, Pepe do Brasil, ou Éder da Guiné-Bissau.
Mas é fundamental que nasçam mais portugueses. Desde a década de 80 que se vem acumulando um trágico défice demográfico. Em 1980 nasciam 158 mil crianças, em 2000 passaram para 120 mil, em 2010 já só chegámos ao limiar dos 100 mil. A recuperação de 2016 ainda ficou abaixo dos 90 mil. É urgente dar mais incentivos e condições aos pais. Não apenas esmolas, ou aqueles prémios que as autarquias que mais sentem o inferno demográfico dão. É preciso mais, aumentar os abonos de família e as deduções de IRS para quem garanta a sobrevivência futura deste país. Caso contrário esta nação de quase 900 anos colapsará num verdadeiro inferno demográfico.
Director-adjunto do Correio da Manhã