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16 de Maio de 2021 às 19:20

Os melhores nas autarquias

Que as eleições autárquicas do final do ano nos tragam mais e melhor gente. Não para expulsar grandes autarcas que temos. Mas para os ajudar a cumprir esta nobre e tão difícil missão feita de sonho, de visão, de capacidade de agir e fazer, mas também de entrega, de sensibilidade e de amor à nossa terra e aos nossos semelhantes.

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Confesso-me um municipalista convicto e sou favorável a uma lógica de estreita colaboração entre municípios vizinhos em áreas como o ambiente, os transportes, a captação de investimento ou mesmo o turismo e a cultura. É um facto incontroverso o papel fundamental que o poder local tem tido, não apenas em momentos de crise, mas pelo desenvolvimento que permitiu que acontecesse em muitas regiões do país.

Muitos falam de excesso de rotundas e de betão, mas esquecem-se do que as autarquias têm contribuído para a melhoria da qualidade de vida das populações, pelas oportunidades que souberam criar aos mais jovens e às famílias e pelo apoio que dão aos mais idosos ou aos mais carenciados. E tudo isto sem contribuir para o aumento da dívida pública. A percentagem que cabe aos municípios na dívida pública nacional é absolutamente ridícula face às responsabilidades que lhe estão acometidas, ao contrário da ideia de esbanjamento que muitas vezes se pretende fazer passar.

A administração de um município não é igual à de uma empresa. Mas tal como se diz, quase sempre com razão, que as empresas são as pessoas, também as aldeias, vilas e cidades de Portugal são aquilo que as pessoas que as vivem e as gerem conseguem sonhar. Claro que nem tudo são bons exemplos. Mas na esmagadora maioria dos casos os números não enganam e demonstram claramente a melhoria dos índices de desenvolvimento. E quando algo não corre bem, espera-se que a democracia funcione. Pelo menos de quatro em quatro anos.

Ser autarca não é propriamente ser um político no sentido em que o eleitor olha para esta classe. Não me quero juntar ao coro daqueles que demonizam a atividade política. Bem pelo contrário. A sua dignificação é fundamental e isso deve partir dos seus agentes. Provavelmente os autarcas, quando têm visão, capacidade de gestão e proximidade com as suas comunidades, são o que de melhor a política tem. Se assim é porque não melhorar a nossa perceção do que é a atividade política e começar por aqui. Hoje existem muitas formas de participar ativamente na vida de uma comunidade. A chamada sociedade civil tem vida própria, capacidade e qualidade de intervenção. Por isso se foi afastando dos partidos à medida que estes se foram fechando sobre si próprios e tratando apenas dos interesses menores de meia dúzia de caciques locais. E até os líderes dos principais partidos parecem temer qualquer tipo de abertura. A alteração à lei eleitoral pensada para impedir a sobrevivência dos movimentos independentes, felizmente corrigida a tempo, foi disso um bom exemplo. Mas não tem de ser apenas esta a via. Nada impede que cada pessoa se envolva de forma mais direta na vida e nas decisões das suas terras.

Ser autarca é uma forma de realização pessoal que completa a vida de muitos homens e mulheres, de diferentes idades, condições sociais ou níveis de formação, que se disponibilizam para ajudar a governar as suas terras. Nasce de uma vocação e merece ser exercida com convicção. Seja na mais recôndita aldeia do interior, seja na maior cidade do litoral. Não se prometem benesses nem se conferem direitos especiais. Oferece-se trabalho e a possibilidade de ver rapidamente concretizados projetos que melhoram a limpeza da nossa rua, a vida do nosso vizinho ou a segurança do nosso bairro.

Por isso é preciso chamar os melhores para esta atividade. Claro que não se pretende transformar voluntariado em profissão. Apenas retirar das 24 horas do dia de cada um, alguns minutos para dar aos outros. Assim se melhora a qualidade da gestão municipal, se eleva o grau de exigência com os executivos, a transparência e a racionalidade das suas decisões. E é também assim que se pode dar um contributo relevante para começar a verdadeira “reforma do Estado” e ajudar a salvar a nossa democracia. Que as eleições autárquicas do final do ano nos tragam mais e melhor gente. Não para expulsar grandes autarcas que temos. Mas para os ajudar a cumprir esta nobre e tão difícil missão feita de sonho, de visão, de capacidade de agir e fazer, mas também de entrega, de sensibilidade e de amor à nossa terra e aos nossos semelhantes.

 

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