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António Moita - Jurista 18 de Novembro de 2018 às 18:30

Orçamento de duas orelhas e rabo

Sabemos que duas orelhas e o rabo de um touro constituem os maiores troféus que se podem atribuir a um toureiro em resultado de uma atuação excecional. Mário Centeno deveria receber um troféu semelhante pelo sucesso obtido na negociação do Orçamento do Estado para 2019.

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Esta imagem não tem apenas que ver com a inflamada discussão sobre a redução da taxa de IVA nos espetáculos tauromáquicos ou os aspetos civilizacionais que envolve. Mas tem tudo que ver com o mérito de, depois de lançada a confusão sobre o tema, nada mais ter relevância no debate orçamental. 

 

O Governo conseguiu fazer exatamente o orçamento que queria. Nem mais nem menos. Bem se podem esforçar bloquistas e comunistas em tentar assumir a paternidade de escassas e muito ligeiras medidas populares que até isso já estava previsto pelos socialistas. Mas estando as metas a ser atingidas no domínio da macroeconomia, nem por isso o país que é pago pelo orçamento está melhor. Os transportes é o que se sabe, a saúde é o que se vê, os funcionários públicos reclamam de forma enérgica promessas não cumpridas, os encargos da dívida descem, mas ainda assim de forma tímida, as rendas da energia continuam excessivas, mas deixaram de ser assunto, a carga fiscal não abranda e o "brutal alívio" de dois ou três impostos logo aparece compensado por uma ligeira subida de todos os outros. Enfim, matéria para discussão e para fazer oposição não falta. Falta é quem a faça de forma sólida e eficaz.

 

Socorrendo-me da mesma imagem, diria que o Governo está a utilizar de forma inteligente as duas orelhas. Vai ouvindo de um lado e do outro, fingindo que está disposto a analisar tudo e ganhando tempo para deixar as propostas de outros caírem no esquecimento ou encontrar argumentos para as recusar. O que vem da direita é rotulado de regresso ao tempo de Passos Coelho e sempre visto como um retrocesso. O que surge da esquerda é sempre bem-vindo, normalmente partilhado enquanto objetivo e sempre recusado por insuficiência de meios não deixando de ficar a garantia de que lá chegará o dia em que os "amanhãs irão cantar". Conversa, conversa e mais conversa.

 

Fica apenas por esclarecer o que fazer com o rabo do animal. Sobre isso parece não haver dúvidas. Serve para António Costa se sentar em cima de um grupo parlamentar social-democrata, destroçado, sem alma, sem ideias, sem coerência, sem tribunos, consumido pela intriga e entregue a uma lógica de desgaste da sua própria liderança.

 

Jurista

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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