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O líder desta empresa produtora de vinhos desde 1882 - ano em que o seu bisavô Andrew James chegou à Invicta com 18 anos e se tornou negociante de vinho do Porto -, fala num processo lento e sem retorno imediato nestes países de grande potencial, sobretudo asiáticos, onde "vai levar anos a criar um mercado realmente forte para os vinhos portugueses", que por ali ainda "não têm grande expressão". E vem à conversa a "vantagem" de a Symington ser um grupo estritamente familiar, com cada um dos três ramos da família a deter um terço do capital: "uma empresa que, a cada trimestre, tem de apresentar publicamente números e resultados, pensa muito a breve prazo e isso não casa muito com o vinho".
Além destes escritórios comerciais, que começou a abrir há sete anos a partir da região administrativa chinesa, o grupo que emprega 400 pessoas inclui três empresas de distribuição em Portugal, Reino Unido e EUA - nos restantes mercados depende de distribuidores locais. Nos outros países relevantes em que não tem filiais, como a Holanda, a Rússia ou a Polónia, as equipas de vendas "estão lá constantemente a ajudar o importador a fazer o seu trabalho". "É muito mau ficar em casa e pensar que o nosso vinho maravilhoso vai-se vender. Temos de estar constantemente a viajar", insiste Paul Symington.
Só a empresa de vinhos vendeu 90 milhões de euros no ano passado, 90% deles no estrangeiro. Detentora de marcas de Porto como Graham's, Dow's, Cockburn's e Warre's, e dos vinhos tranquilos Quinta do Vesúvio, Altano ou Chryseia - apesar do crescimento, os DOC Douro só representam 10% do negócio -, o destino mais relevante, equivalente a um em cada quatro euros facturados, foi o Reino Unido. No início deste ano, por decreto da Rainha Isabel II, foi credenciada como fornecedora oficial da Corte Real com o 'Royal Warrant' para o Porto Graham's.
Passar a fronteira sem "entrar em pânico"
Com séculos no mercado e presença em todos os cantos do mundo, que lição pode dar a Symington no campo da exportação e da internacionalização? Evitar "reacções em cima do joelho", responde o gestor, deixando dois exemplos. Um deles remete para meados da década passada, aquando do último grande surto da gripe das aves, quando a Cathay Pacific, companhia aérea com sede em Hong Kong e um grande cliente da Symington, avisou os fornecedores que ia suspender todos os pagamentos porque tinha os aviões vazios. "Aceitámos um prazo de pagamento mais longo e eles ainda hoje se lembram disso", relata.
A saída do Reino Unido da União Europeia é outro "problema grave [que] não vai dar coisa boa", mas também não fez "entrar em pânico". É o melhor mercado e um dos principais para as categorias especiais de vinho do Porto, como os LBV ou Vintage, mas rejeita alterar de forma relevante a estratégia, estando neste momento a começar o investimento em promoção para a época alta do Natal. Paul lembra que "preferia que o Brexit não tivesse acontecido, mas o melhor é continuar a trabalhar e a investir", gracejando que "as questões que estão fora do [seu] controlo é melhor deixar para os políticos".
Paul admite fazer vinhos fora do país
A Symington tem recebido "várias propostas" para começar a produzir vinhos noutros países e reconhece que "obviamente há algum interesse nessa área", embora sem uma decisão definitiva. "Tenho amigos franceses que têm vinhos em Napa e Oregon [EUA]. Eu e os meus primos considerámos isso e não vou dizer nunca. É uma questão que debatemos entre nós. Mas por enquanto estamos no Douro e no Alentejo e não pensamos nos próximos meses fazer algo fora do país. Mas pode acontecer, claro", resume o presidente da Symington Family Estates. As resistências que sobram relativamente a esse "salto" para fazer vinhos em vários países é que "quando se passa mais tempo no avião perde-se alguma coisa". E Paul valoriza um produtor "ser conhecido por ser o líder numa região". "Estamos há séculos no Douro e isso é importante", contrapõe o empresário, que vê o enoturismo abrir "excelentes oportunidades para vender vinhos com qualidade superior".