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Dona da Graham’s serve Porto e Douro sem “pára-quedas”

A centenária exportadora de vinhos tem distribuição própria em três países, equipas de vendas metidas em aviões e escritórios na China e no Brasil. Trabalho, investimento e paciência são os segredos pouco escondidos pela empresa detida pelos três ramos da família Symington.

24 de Outubro de 2017 às 10:55
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Ficar sentado no escritório de Vila Nova de Gaia ou numa quinta no Douro à espera que os "mercados de futuro" encomendem mais umas caixas de vinho? "É absurdo", sublinha de imediato Paul Symington, justificando os escritórios abertos em São Paulo, Hong Kong e Xangai para trabalhar com importadores, visitar clientes ou dar formação sobre os vinhos do Porto e do Douro. "Não é só chegar de pára-quedas e fazer um cocktail em Pequim e achar que o mercado vai-se criar. Esta promoção de pára-quedas não vai muito longe. É preciso muito tempo de trabalho", sustenta o empresário de proveniência familiar escocesa, nascido em Portugal e educado em Inglaterra.

O líder desta empresa produtora de vinhos desde 1882 - ano em que o seu bisavô Andrew James chegou à Invicta com 18 anos e se tornou negociante de vinho do Porto -, fala num processo lento e sem retorno imediato nestes países de grande potencial, sobretudo asiáticos, onde "vai levar anos a criar um mercado realmente forte para os vinhos portugueses", que por ali ainda "não têm grande expressão". E vem à conversa a "vantagem" de a Symington ser um grupo estritamente familiar, com cada um dos três ramos da família a deter um terço do capital: "uma empresa que, a cada trimestre, tem de apresentar publicamente números e resultados, pensa muito a breve prazo e isso não casa muito com o vinho".


27
Quintas no Douro
A Symington é a maior proprietária da região do Douro, com 27 quintas. Em Abril, comprou a primeira herdade no Alentejo, na Serra de São Mamede (Portalegre), com 45 hectares de vinha.


Além destes escritórios comerciais, que começou a abrir há sete anos a partir da região administrativa chinesa, o grupo que emprega 400 pessoas inclui três empresas de distribuição em Portugal, Reino Unido e EUA - nos restantes mercados depende de distribuidores locais. Nos outros países relevantes em que não tem filiais, como a Holanda, a Rússia ou a Polónia, as equipas de vendas "estão lá constantemente a ajudar o importador a fazer o seu trabalho". "É muito mau ficar em casa e pensar que o nosso vinho maravilhoso vai-se vender. Temos de estar constantemente a viajar", insiste Paul Symington.


90%
Quota exportação
Apenas 10% das vendas de vinho são feitas no mercado interno. O resto é exportado para mais de 80 países, sendo o Reino Unido o mais relevante.


Só a empresa de vinhos vendeu 90 milhões de euros no ano passado, 90% deles no estrangeiro. Detentora de marcas de Porto como Graham's, Dow's, Cockburn's e Warre's, e dos vinhos tranquilos Quinta do Vesúvio, Altano ou Chryseia - apesar do crescimento, os DOC Douro só representam 10% do negócio -, o destino mais relevante, equivalente a um em cada quatro euros facturados, foi o Reino Unido. No início deste ano, por decreto da Rainha Isabel II, foi credenciada como fornecedora oficial da Corte Real com o 'Royal Warrant' para o Porto Graham's.

Passar a fronteira sem "entrar em pânico"

Com séculos no mercado e presença em todos os cantos do mundo, que lição pode dar a Symington no campo da exportação e da internacionalização? Evitar "reacções em cima do joelho", responde o gestor, deixando dois exemplos. Um deles remete para meados da década passada, aquando do último grande surto da gripe das aves, quando a Cathay Pacific, companhia aérea com sede em Hong Kong e um grande cliente da Symington, avisou os fornecedores que ia suspender todos os pagamentos porque tinha os aviões vazios. "Aceitámos um prazo de pagamento mais longo e eles ainda hoje se lembram disso", relata.

A saída do Reino Unido da União Europeia é outro "problema grave [que] não vai dar coisa boa", mas também não fez "entrar em pânico". É o melhor mercado e um dos principais para as categorias especiais de vinho do Porto, como os LBV ou Vintage, mas rejeita alterar de forma relevante a estratégia, estando neste momento a começar o investimento em promoção para a época alta do Natal. Paul lembra que "preferia que o Brexit não tivesse acontecido, mas o melhor é continuar a trabalhar e a investir", gracejando que "as questões que estão fora do [seu] controlo é melhor deixar para os políticos".

Paul admite fazer vinhos fora do país

A Symington tem recebido "várias propostas" para começar a produzir vinhos noutros países e reconhece que "obviamente há algum interesse nessa área", embora sem uma decisão definitiva. "Tenho amigos franceses que têm vinhos em Napa e Oregon [EUA]. Eu e os meus primos considerámos isso e não vou dizer nunca. É uma questão que debatemos entre nós. Mas por enquanto estamos no Douro e no Alentejo e não pensamos nos próximos meses fazer algo fora do país. Mas pode acontecer, claro", resume o presidente da Symington Family Estates. As resistências que sobram relativamente a esse "salto" para fazer vinhos em vários países é que "quando se passa mais tempo no avião perde-se alguma coisa". E Paul valoriza um produtor "ser conhecido por ser o líder numa região". "Estamos há séculos no Douro e isso é importante", contrapõe o empresário, que vê o enoturismo abrir "excelentes oportunidades para vender vinhos com qualidade superior". 

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