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"Não me preocupa tanto que as exportações não atinjam os 50% do PIB, porque estamos a misturar alhos (volume de negócios) com bugalhos (valor acrescentado). Importa muito mais saber o valor acrescentado das nossas exportações", assinalou Alberto Castro, professor da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica do Porto, durante a cerimónia de entrega da 14.ª edição dos Prémios Exportação & Internacionalização, organizada pelo Novo Banco e pelo Negócios, em parceria com a Iberinform, prémios dos quais é membro do júri. Exemplificou que, do ponto de vista líquido, a Corticeira Amorim é muito mais importante para o PIB português do que a Galp, mesmo que esta última exporte muito mais. "A questão é que, quando não se sabe, fazem-se políticas erradas, por exemplo, ao não privilegiar as empresas com maior valor acrescentado", referiu Alberto Castro.
Como exemplo de empresa exportadora com elevado valor acrescentado, destacou-se a Monte Pasto, sediada em Cuba e Alvito, que produz e exporta carne de bovino para mercados internacionais, nomeadamente para a região do Médio Oriente e Norte de África, "onde, por razões religiosas, não comem porco", explicou Clara Moura Guedes, CEO da Monte Pasto.
A carne e a cerâmica
Esta gestora ingressou na empresa em 2014 com o objetivo de realizar a sua reestruturação, que envolveu a reabilitação de todas as infraestruturas e a renovação de processos. A exportação surgiu como uma estratégia para relançar o negócio, sendo que atualmente 95% da produção é destinada aos mercados internacionais. Apesar dos desafios, afirmou não estar demasiado pessimista quanto ao futuro, justificando que "há uma grande procura de proteína".
Outro exemplo de exportações com valor acrescentado é a Grestel, empresa da área da cerâmica que foi fundada em 1998 com o propósito de exportar. Miguel Casal, CEO da Grestel, destacou o desafio da competitividade no mercado global, "quando os nossos fatores de competitividade estão a mudar, com o agravamento dos custos de contexto, sobretudo o custo do trabalho e a escassez de mão de obra numa indústria intensiva em mão de obra". Por este motivo defende que "o choque fiscal deveria incidir no custo do trabalho".
Miguel Casal apontou ainda como principais preocupações a inflação, uma vez que a empresa não consegue repercutir integralmente os aumentos de preços no mercado, e o aumento contínuo dos custos. Como solução, aposta no crescimento da escala de produção.
Má gestão de pessoas
A exportação é uma oportunidade, mas também um risco. "Os principais receios das empresas ao iniciarem o processo de exportação estão relacionados com o desconhecimento dos mercados e das práticas culturais." Por outro lado, "é um processo exigente em termos de recursos financeiros, implicando um financiamento adequado, tanto na fase inicial como nas necessidades de fundo de maneio", afirmou Miguel Ferreira, diretor coordenador de empresas norte do Novo Banco. Acrescentou ainda que o risco mais temido, frequentemente apontado, é a segurança nos recebimentos.
Alberto Castro destacou que os estudos mostram que "as empresas expostas ao mercado internacional e à concorrência tendem a ser muito melhor geridas do que aquelas que operam apenas no mercado interno." Sublinhou também que, em Portugal, é comum atribuir ao contexto e à falta de qualificação da mão de obra a responsabilidade pelos níveis de produtividade.
Ao analisar comparações internacionais, torna-se evidente que as empresas portuguesas ainda têm um longo caminho a percorrer em termos de práticas de gestão. "Os processos que adotamos, desde aspetos tão simples onde somos particularmente fracos, como a gestão de pessoas – recrutamento, qualificação e motivação – até aos mais sofisticados, como o controlo de gestão, onde somos razoáveis, mostram que há muito a melhorar", concluiu Alberto Castro.