Outros sites Medialivre
Notícia

Instituto Pedro Nunes : A casa da inovação tecnológica tem pontes para o mundo

O Instituto Pedro Nunes foi criado em 1991, por iniciativa da Universidade de Coimbra, para apoiar ideias inovadoras e de base tecnológica.

17 de Dezembro de 2014 às 00:01
Pedro Elias/Negócios
  • Partilhar artigo
  • ...

Salas pequenas para grandes conceitos. "Para ideias de rotina aqui não é o lugar", clarifica Teresa Mendes, presidente do Instituto Pedro Nunes (IPN).


Desde 1991 que é assim em Coimbra. Uma colina da cidade aloja uma casa que quer ligar dois universos: o científico e o empresarial. A reticência à novidade – mesmo num meio que procura a inovação – também se fez sentir no arranque deste projecto.


Na altura, apostavam-se em concursos de ideias de negócios para conseguir cativar empreendedores. Foi no ano de 1998 que se deu a grande mudança. A Critical Software ganhou a competição e lançou as bases para a empresa."Quase todos os meses me batiam à porta a pedir mais uma sala", recorda Teresa Mendes.


A este ponto de contágio juntou--se a bolha tecnológica do início dos anos 2000. A partir daí, "o entusiasmo nunca mais esmoreceu". Por ano, são cerca de 50 as ideias de negócio a chegar ao processo de triagem deste instituto. Apesar do eclectismo, nem todas ficam. As que conseguem vencer a primeira etapa são direccionadas para a incubadora.


No edifício envidraçado que acolhe esta valência, escondidas pelas portas, dispersas pelos brancos corredores, estão equipas jovens. Com pouca experiência, mas com muita vontade de mudar o mundo de alguma forma. Juntos, cinco ou seis numa pequena sala, ligados ao mundo pelos seus computadores e pelas suas ideias.


É o caso da Sentilant: está na incubadora do IPN há menos de um mês. Ganharam um concurso de empreendedorismo da Universidade de Coimbra e agora dedicam-se ao desenvolvimento de um sistema de monitorização da condução em veículos automóveis.


Terão três a quatro anos, no espaço da incubadora, para desenvolver o seu projecto. Depois disso, poderão optar por entrar na aceleradora do IPN. Basta subir um pouco a colina.


Inaugurada em Maio, a aceleradora conta já com 75% do seu espaço ocupado. Ao todo, 16 negócios com fortes ambições de crescimento. Não está sequer a ser feito um esforço de promoção. "É preferível ir mais devagar, mas de uma forma mais segura", acredita a presidente.


Nestas duas décadas de actividade, o IPN já foi responsável pelo apoio a mais de 200 projectos. Ao todo foi gerado um volume de negócios de 75 milhões de euros e criados 1.800 postos de trabalho directos. "Há indicadores americanos que dizem que por cada posto de trabalho criado numa incubadora há um factor de 1,8 empregos criados no sistema", perspectiva Teresa Mendes.


São números que precisam de ser analisados à escala de uma cidade que procura  contrariar a "degradação muito acelerada de tudo o que era a sua pujança industrial" a partir da segunda metade do século XX.


Se a maioria dos projectos vem da própria Universidade de Coimbra, a porta está também aberta para ideias de negócio mais independentes. O acesso facilitado à comunidade académica e às entidades de coordenação económica têm funcionado como chamariz.


À equação junta-se o conjunto de seis laboratórios que desenvolvem investigação aplicada às necessidades das empresas. Muitas dessas pesquisas poderão mesmo dar origem a novos planos de negócio.


Independentemente da plataforma de lançamento, há um factor comum: o carácter assustador de fazer crescer uma start-up. "Este ambiente de apoio e proximidade entre as empresas [existente no IPN] é extremamente encorajador. No fundo, a pessoa sente-se protegida e sabe que tem alguém a quem bater à porta", diz a responsável.


Para resolver as dúvidas, para partilhar experiências, para discutir novas formas de financiamento. A captação de capital de risco tem sido um dos vectores do trabalho do IPN. Em 2013, o organismo conseguiu obter cinco milhões de euros para projectos mais pequenos. "Podiam consegui-lo sozinhos, mas demoravam seguramente mais tempo", alerta a também professora universitária face ao perfil destes investidores "muito especiais".


A falha aqui não serve para baixar os braços. Várias empresas em dificuldades servem de prova a esta dinâmica. Mas isso não impede que se procurem soluções: algumas chegam a fundir-se, encontrando sinergias entre ideias aparentemente diferentes. De um certo modo, é o próprio mercado a funcionar numa versão de teste. "Nem elas estão aqui metidas em redomas. Têm um apoio, mas a ideia é que consigam andar por si próprias", define Teresa Mendes.


Actualmente, são cerca de 100 as empresas em fase de incubação no IPN. Para chegarem a uma outra etapa também precisam que Coimbra ganhe escala. Os primeiros passos já foram tomados: "temos tido o cuidado de mantermo-nos em redes [de incubação], não queremos estar isolados".


Por isso mesmo, há já programas assinados que permitem às start-ups desta cidade estar em pólos importantes de desenvolvimento tecnológico como Silicon Valley, mantendo as mesmas condições que teriam em Portugal.


Agora, não há volta a dar. Coimbra "está num ponto irreversível devido à massa crítica que já criou". Basta agora afinar as ligações.

Mais notícias