Outros sites Medialivre
Notícia

SRAM: Acorrentados ao mundo

A filial portuguesa do grupo SRAM canaliza mais de 5,7 milhões de metros de correntes de bicicletas para marcas em todos os continentes. Produz ainda 27 mil rodas por ano.

21 de Maio de 2019 às 16:00
Ricardo Almeida
  • Partilhar artigo
  • ...
A fábrica portuguesa da multinacional americana, SRAM, sedeada em Coimbra, é a única unidade industrial do grupo que produz correntes de bicicleta. São mais de 5,7 milhões de metros que exporta anualmente para as outras fábricas e que depois vão integrar bicicletas de várias marcas, como é o caso da Trek, Giant, Specialized ou de grandes clientes como a Decathlon. Ou seja, boa parte das mais conceituadas bicicletas do mundo têm uma corrente made in Coimbra.

Ao entrar na unidade industrial da Pedrulha, que celebrou no ano passado cinco décadas de vida, os olhos vão de encontro aos enormes rolos de aço, a base para iniciar todo o processo produtivo. Só de matéria-prima são consumidas mais de 50 toneladas por semana. Seguem para as máquinas de corte e estampagem onde se tornam em componentes de corrente, que passam por vários processos de tratamento para se tornarem mais resistentes, passando ao polimento, aos fornos e acabam nas máquinas de montagem. Daí saem correntes, modernas e duráveis, idênticas apenas na aparência àquelas que se faziam há 50 anos.


A unidade industrial tem beneficiado de melhorias contínuas na fábrica, para aumentar a capacidade produtiva das correntes e abarcar uma nova linha de montagem de rodas de bicicletas e de motas. Tem agora capacidade para 7 milhões de metros de correntes e 46 mil rodas.


"O grupo não produz bicicletas, porque se o fizesse estava a concorrer com os clientes. Fabrica praticamente todos os componentes menos o quadro, que é do cliente e dá a marca à bicicleta", afirma Isabel Gomes, diretora-geral da Sramport. O grupo SRAM, com presença física em 9 países, produz selins, cassetes, travões de disco, suspensões, guiadores, desviadores, correntes, pedais para todas as marcas mundiais.


A unidade industrial de Coimbra teve a sua origem em 1968, pela mão de Armando Simões que estabeleceu então uma parceria com a Peugeot, destinada a produzir correntes para abastecer a indústria de bicicletas e motociclos. Em 1980, o empresário nacional e a Peugeot venderam a posição à Sedis, para em 1987 o grupo Mannesmann Sachs comprar a totalidade da empresa, que vendeu à SRAM (acrónimo dos seus fundadores Scott, Ray e Sam) mais tarde, em 1997. O Grupo SRAM, que nasceu em Detroit numa garagem pela mão de dois irmãos e alguns amigos, fez sucesso em pouco tempo. O seu crescimento foi acelerado e uma década depois comprou a divisão de bicicletas da Sachs, tendo, desta forma, surgido a empresa Sramport.

Atualmente o grupo tem presença em 18 localizações geográficas, a nível mundial, e mais de 3.300 colaboradores. "O grosso da nossa produção é em Taiwan, onde temos três fábricas, com cerca de 2.500 trabalhadores", explica Isabel Gomes, adiantando que boa parte das correntes fabricadas na unidade de Coimbra são enviadas em rolo para as fábricas de Taiwan e aí cortadas à dimensão daquilo que os clientes necessitam. "Apesar das várias mudanças de capital, mantivemos sempre o foco na produção nas correntes, embora inicialmente fossem destinadas também a motas e correntes de distribuição automóvel", acrescenta.

A fábrica de Coimbra foi alvo de obras de ampliação há cerca de quatro anos. A unidade investiu mais de cinco milhões nos últimos anos para aumentar a sua capacidade produtiva, modernizar e responder assim a uma procura cada vez maior dentro do grupo SRAM, que é o seu único cliente.

Aumento da capacidade

Com 150 trabalhadores, e a trabalhar a três turnos, a empresa tem capacidade instalada para produzir 7 milhões de metros de correntes e 46 mil rodas ao ano (produz um total de 27 mil atualmente), pelo que ainda admite poder crescer um pouco. "Investimos também numa nova linha para a montagem das rodas de carbono e alumínio, produto que não fazíamos anteriormente", explica Isabel Gomes. A fábrica de Indianápolis produz os aros de carbono, monta as rodas para o mercado americano e envia para a unidade de Coimbra aros destinados a produzir as rodas que são depois distribuídas no mercado europeu. São rodas para bicicletas e motas de alta tecnologia, aerodinâmicas, destinadas ao cliente topo de gama.


26,1
Faturação
A unidade industrial regista um volume de negócios de 26,1 milhões de euros.

96,3%
Exportações
As vendas para o exterior atingem os 96,3% do volume de negócios.

5,4
Investimento
A empresa investiu cerca de 5,4 milhões de euros nos últimos 5 anos.


A Sramport registou um volume de negócios de 26,1 milhões de euros em 2018, dos quais 96,3% foram exportações. É uma das maiores exportadoras de Coimbra. Cerca de 76% dos componentes fabricados no concelho ficam na Europa, 20% viajam para a América do Norte e 4,4% seguem caminho para a Ásia.


Perguntas a Isabel Gomes
Diretora-geral da Sramport

Produção aumenta 20% nos próximos dois anos

Segundo os planos de negócios traçados pela multinacional americana, a produção da unidade portuguesa deverá crescer ao sabor das encomendas mundiais, que estão em ascensão, devido à elevada procura de bicicletas, sobretudo pelo crescimento da modalidade de BTT. O investimento nas melhorias da fábrica tem sido contínuo para que a produção possa aumentar em resposta às encomendas internacionais.

Qual foi o vosso volume de negócios de 2018 e qual tem sido o crescimento anual?
O crescimento dos últimos anos tem sido elevado: passamos de 8,9 milhões de euros em 2009 para 23,9 milhões de euros em 2016. Em 2017 faturámos 27,6 milhões de euros e em 2018 ficámos pelos 26,1 milhões de euros. Entre 2015 e 2017 crescemos cerca de 20% ao ano e só em 2018 tivemos um pequeno decréscimo.

Relativamente a investimentos, qual tem sido a vossa estratégia?
Temos feito investimentos elevados nos últimos anos. Entre 2014 e 2019 realizámos - e continuamos a realizar - investimentos na ordem dos 5,3 milhões de euros. Foram canalizados para melhorar as condições de trabalho dos colaboradores, para melhorias produtivas como a compra de uma nova prensa de 200 toneladas. Já temos, entretanto, uma outra encomendada, o que irá permitir um aumento da capacidade de acordo com as necessidades. Também comprámos uma nova linha de produção e efetuámos a reconversão das linhas já existentes, tudo isso à conta dos novos produtos, como a produção de rodas.

O grupo não produz bicicletas para não concorrer com os clientes. Isabel Gomes
Diretora-geral da Sramport

Qual foi o valor do investimento no novo edifício administrativo?
Este investimento foi de cerca de 450 mil euros. Temos agora mais salas de reunião e trabalhamos em 'open space' porque damos muita importância à fluidez da comunicação entre todos os departamentos. Funcionamos melhor agora como equipa.

Qual a vossa expectativa para o crescimento do negócio?
Já estamos a tratar do orçamento para o próximo ano (o nosso ano fiscal vai de 1 de julho a 30 de junho do ano seguinte) e nesse documento está previsto aumentar o volume de produção no próximo exercício. Ou seja, prevemos um aumento de 20% nos próximos dois anos face ao que produzimos atualmente, razão pela qual estamos a comprar uma nova prensa. Também poderá implicar a compra de mais uma outra linha de montagem e de outros equipamentos associados, bem como a criação de novos postos de trabalho. Poderão ser necessárias entre 10 e 20 novas pessoas. 

Mais notícias