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Se for de férias até às Bermudas e decidir dar um passeio urbano de transportes públicos, saiba que o autocarro cor de rosa que o transporta é feito em Coimbra. A Mobipeople, empresa que nasceu há 10 anos para produzir carroçarias de autocarros e transformação de furgões, já vendeu mais de 25 para a empresa pública de transportes daquele território. E continua a receber encomendas, já que é atualmente o único fornecedor de autocarros urbanos do arquipélago britânico situado no Atlântico, junto à costa leste dos Estados Unidos. Mas não só de destinos paradisíacos vive o negócio: autocarros escolares, de turismo, e adaptados para mobilidade reduzida, com destino a vários países europeus - essencialmente Inglaterra - são alguns dos produtos que a marca oferece.
Instalada em Souselas, mesmo em frente à unidade industrial da Cimpor, um colosso que tapa a vista campestre, a unidade industrial ocupa hoje 9 mil metros quadros de área, dos quais 3.400 metros quadrados correspondem a edificado. Sendo este um negócio de mão de obra intensiva, quase sem automatização, emprega já uma equipa de 75 colaboradores. Regista um volume de negócios de cerca de 6,2 milhões de euros, dos quais mais de 75% dizem respeito a exportações.
Quando António Catarino, sócio-gerente, Paula Matos, Nuno Mendes e Alexandre Meireles (sócios e diretores) embarcaram nesta aventura, em 2008, numas instalações mais modestas, em Adémia, Coimbra, não anteciparam o crescimento que iriam registar. Ali trabalhavam apenas dois dos quatro sócios - António e Alexandre -, pois pela dimensão do negócio não havia ainda espaço para todos e mais oito trabalhadores na produção. Já se conheciam bem, pois foram colegas na multinacional de origem brasileira, Marcopolo, outrora instalada em Coimbra, e que entretanto fechou. António Catarino era aí diretor quando se lançou neste negócio: "o nosso objetivo foi produzir veículos para o transporte de passageiros, mas de nicho, por isso não iríamos colidir com a produção da Marcopolo". Até que a empresa fechou, dois anos depois da fundação da Mobipeople, e abriram-se novas possibilidades ao negócio em ascensão.
Primeira carroçaria foi para África
Inicialmente faziam reparações, transformações (adaptação de furgões a transporte de passageiros) e fizeram, logo no arranque, uma primeira carroçaria com destino a África, muito simples, mas robusta. "Fizemos mais uma dezena delas nos primeiros quatro anos", explica António Catarino. A partir daqui foram surgindo outras encomendas e diversificando a oferta. O investimento inicial foi reduzido, entraram com as quotas de cada um e alguns capitais próprios pessoais. "O nosso primeiro plano de negócios era ter dinheiro para seis meses. Hoje até nos rimos desse objetivo", refere Paula Matos, diretora industrial.
O primeiro ano foi razoável, o segundo também foi bom. Iniciaram logo as exportações, sendo Angola e Holanda os seus primeiros destinos além-fronteiras. "A partir de 2009 começámos a fazer outro tipo de carroçarias, com o modelo Junior para a Bélgica e para França. Começámos a produzir também para a Islândia", explica António Catarino.
Porém, em 2010, chegou a crise. Foi uma altura mais complicada, em que a Mobipeople registou prejuízo, e teve de aferir o negócio. A pouco e pouco o mercado recuperou, e em 2014 iniciou as suas exportações para o mercado inglês, e a produção aumentou. "Quando nos mudámos para as novas instalações em 2015, sobrava espaço. Hoje já falta", afirma Paula Matos. Desde o início que o produto é destinado a nichos de mercado, de pequenos volumes. "No fundo costumizamos o que o cliente precisa. Não temos muitos modelos iguais, o que seria mais fácil em termos de produção.", explica Paula Matos. A empresa não trabalha diretamente com o cliente final, mas com distribuidores, sendo a única exceção o mercado das Bermudas.
O "modus operandi" é simples: o cliente escolhe e envia o chassi onde quer instalar a carroçaria, investimento que corresponde mais ou menos a metade do valor de um autocarro, que ascenderá em média a 200 mil euros, podendo ser muito mais conforme as opções.
Perguntas a António Catarino
Sócio-gerente da Mobipeople
Aumentar as vendas para Inglaterra
Inglaterra representa 60% no total das exportações da empresa, mas a ideia é crescer ainda mais para aquele mercado, uma vez que estão a receber pedidos nesse sentido. Por agora, é necessário esperar pela resolução do Brexit.
Qual foi o vosso volume de negócios de 2018 e o vosso crescimento?
Faturámos cerca de 6,2 milhões de euros em 2018, o que representou um crescimento face ao ano anterior, em que vendemos 5,2 milhões de euros. Temos vindo a crescer entre 15 e 20% nos últimos quatro anos, sempre com resultados positivos.
Qual o peso do mercado britânico no total das vossas exportações?
A Mobipeople exporta cerca de 75% das carroçarias que produz, e deste total a Inglaterra representa já 60% das vendas para o exterior. Nas transformações de furgões, o mercado principal ainda é o português.
Qual o vosso produto estrela e quem são os vossos principais clientes?
Os nossos clientes são os distribuidores e intermediários. A carroçaria Junior, por exemplo, é canalizada depois para escolas e outras instituições, é um produto com 27 lugares. Para Inglaterra desenvolvemos duas carroçarias de turismo, uma de um veículo de 35 lugares (Midi) e outra de 57 lugares (Explorer), que é atualmente a nossa gama principal. Temos também um autocarro urbano, que é aquele que vendemos para as Bermudas.
Como fazem a promoção da vossa marca? Vão a feiras, por exemplo?
Não costumamos fazer feiras diretamente, mas os nossos autocarros vão, sobretudo em Inglaterra, onde está o nosso maior volume de vendas. São expostos duas vezes por ano - numa feira de autocarros em Birmingham e numa exposição, que incluiu um rally de autocarros, em Blackpool, noroeste do país, - em eventos promovidos pelo nosso importador.
Quais são os objetivos estratégicos para os próximos anos?
A estratégia é sempre crescer de forma sustentável, sem loucuras. O nosso maior problema em crescer a produção é a falta de mão de obra qualificada. A formação tem de ser dada internamente, o que demora muito mais tempo a obter resultados. Este é um dos problemas mais graves que sentimos hoje. Mas queremos aumentar a produção com destino à Inglaterra, temos recebido pedidos nesse sentido, mas estamos à espera da resolução do Brexit, para ver o rumo que tomamos. No limite, o nosso produto poderá vir a custar mais 17% em taxas.
Instalada em Souselas, mesmo em frente à unidade industrial da Cimpor, um colosso que tapa a vista campestre, a unidade industrial ocupa hoje 9 mil metros quadros de área, dos quais 3.400 metros quadrados correspondem a edificado. Sendo este um negócio de mão de obra intensiva, quase sem automatização, emprega já uma equipa de 75 colaboradores. Regista um volume de negócios de cerca de 6,2 milhões de euros, dos quais mais de 75% dizem respeito a exportações.
Fazemos manualmente a construção da carroçaria sobre o chassi do cliente. António catarino
Sócio-gerente da Mobipeople
Sócio-gerente da Mobipeople
Quando mudámos para as novas instalações em 2015, sobrava espaço. Hoje já falta. Paula matos
Diretora industrial da Mobipeople
Diretora industrial da Mobipeople
Quando António Catarino, sócio-gerente, Paula Matos, Nuno Mendes e Alexandre Meireles (sócios e diretores) embarcaram nesta aventura, em 2008, numas instalações mais modestas, em Adémia, Coimbra, não anteciparam o crescimento que iriam registar. Ali trabalhavam apenas dois dos quatro sócios - António e Alexandre -, pois pela dimensão do negócio não havia ainda espaço para todos e mais oito trabalhadores na produção. Já se conheciam bem, pois foram colegas na multinacional de origem brasileira, Marcopolo, outrora instalada em Coimbra, e que entretanto fechou. António Catarino era aí diretor quando se lançou neste negócio: "o nosso objetivo foi produzir veículos para o transporte de passageiros, mas de nicho, por isso não iríamos colidir com a produção da Marcopolo". Até que a empresa fechou, dois anos depois da fundação da Mobipeople, e abriram-se novas possibilidades ao negócio em ascensão.
Primeira carroçaria foi para África
Inicialmente faziam reparações, transformações (adaptação de furgões a transporte de passageiros) e fizeram, logo no arranque, uma primeira carroçaria com destino a África, muito simples, mas robusta. "Fizemos mais uma dezena delas nos primeiros quatro anos", explica António Catarino. A partir daqui foram surgindo outras encomendas e diversificando a oferta. O investimento inicial foi reduzido, entraram com as quotas de cada um e alguns capitais próprios pessoais. "O nosso primeiro plano de negócios era ter dinheiro para seis meses. Hoje até nos rimos desse objetivo", refere Paula Matos, diretora industrial.
O primeiro ano foi razoável, o segundo também foi bom. Iniciaram logo as exportações, sendo Angola e Holanda os seus primeiros destinos além-fronteiras. "A partir de 2009 começámos a fazer outro tipo de carroçarias, com o modelo Junior para a Bélgica e para França. Começámos a produzir também para a Islândia", explica António Catarino.
75%
Exportações
A empresa de Coimbra canaliza para fora 75% da sua produção.
6,2
Faturação
A Mobipeople registou receitas de 6,2 milhões de euros em 2018.
50
Autocarros
A empresa produz aproximadamente 50 unidades por ano.
200
Preço
Um autocarro, em média, pode custar cerca de 200 mil euros ao cliente final.
Porém, em 2010, chegou a crise. Foi uma altura mais complicada, em que a Mobipeople registou prejuízo, e teve de aferir o negócio. A pouco e pouco o mercado recuperou, e em 2014 iniciou as suas exportações para o mercado inglês, e a produção aumentou. "Quando nos mudámos para as novas instalações em 2015, sobrava espaço. Hoje já falta", afirma Paula Matos. Desde o início que o produto é destinado a nichos de mercado, de pequenos volumes. "No fundo costumizamos o que o cliente precisa. Não temos muitos modelos iguais, o que seria mais fácil em termos de produção.", explica Paula Matos. A empresa não trabalha diretamente com o cliente final, mas com distribuidores, sendo a única exceção o mercado das Bermudas.
O "modus operandi" é simples: o cliente escolhe e envia o chassi onde quer instalar a carroçaria, investimento que corresponde mais ou menos a metade do valor de um autocarro, que ascenderá em média a 200 mil euros, podendo ser muito mais conforme as opções.
Perguntas a António Catarino
Sócio-gerente da Mobipeople
Aumentar as vendas para Inglaterra
Inglaterra representa 60% no total das exportações da empresa, mas a ideia é crescer ainda mais para aquele mercado, uma vez que estão a receber pedidos nesse sentido. Por agora, é necessário esperar pela resolução do Brexit.
Qual foi o vosso volume de negócios de 2018 e o vosso crescimento?
Faturámos cerca de 6,2 milhões de euros em 2018, o que representou um crescimento face ao ano anterior, em que vendemos 5,2 milhões de euros. Temos vindo a crescer entre 15 e 20% nos últimos quatro anos, sempre com resultados positivos.
Qual o peso do mercado britânico no total das vossas exportações?
A Mobipeople exporta cerca de 75% das carroçarias que produz, e deste total a Inglaterra representa já 60% das vendas para o exterior. Nas transformações de furgões, o mercado principal ainda é o português.
Qual o vosso produto estrela e quem são os vossos principais clientes?
Os nossos clientes são os distribuidores e intermediários. A carroçaria Junior, por exemplo, é canalizada depois para escolas e outras instituições, é um produto com 27 lugares. Para Inglaterra desenvolvemos duas carroçarias de turismo, uma de um veículo de 35 lugares (Midi) e outra de 57 lugares (Explorer), que é atualmente a nossa gama principal. Temos também um autocarro urbano, que é aquele que vendemos para as Bermudas.
Nas transformações de furgões, o mercado principal é o português. António catarino
Sócio-gerente da Mobipeople
Sócio-gerente da Mobipeople
Como fazem a promoção da vossa marca? Vão a feiras, por exemplo?
Não costumamos fazer feiras diretamente, mas os nossos autocarros vão, sobretudo em Inglaterra, onde está o nosso maior volume de vendas. São expostos duas vezes por ano - numa feira de autocarros em Birmingham e numa exposição, que incluiu um rally de autocarros, em Blackpool, noroeste do país, - em eventos promovidos pelo nosso importador.
Quais são os objetivos estratégicos para os próximos anos?
A estratégia é sempre crescer de forma sustentável, sem loucuras. O nosso maior problema em crescer a produção é a falta de mão de obra qualificada. A formação tem de ser dada internamente, o que demora muito mais tempo a obter resultados. Este é um dos problemas mais graves que sentimos hoje. Mas queremos aumentar a produção com destino à Inglaterra, temos recebido pedidos nesse sentido, mas estamos à espera da resolução do Brexit, para ver o rumo que tomamos. No limite, o nosso produto poderá vir a custar mais 17% em taxas.