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Manuel Machado: "Há estímulo ao 'high tech' e ao 'high ferrugem'"

A cidade dos estudantes está pronta para ir além da Universidade. Coimbra anseia abraçar uma nova geração sem esquecer os empresários mais antigos. Porque só assim o crescimento será verdadeiramente sustentável.

17 de Dezembro de 2014 às 10:00
Pedro Elias
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A experiência à frente da Câmara Municipal de Coimbra já acumula mais de uma década. O socialista Manuel Machado está ciente dos desafios necessários a transformar a cidade num pólo empresarial. O mundo académico tem ajudado a promover um clima empreendedor. As políticas governamentais e a burocracia nem por isso, acredita.

 

Coimbra já é a cidade dos estudantes. Está preparada para ser a cidade dos empresários?
Coimbra é demarcadamente uma cidade universitária mas tem actividade económica relevante noutros domínios, designadamente na agricultura, com os campos férteis do baixo Mondego. Sendo a característica da universidade a mais preponderante, tem outros sectores de actividade que são extremamente significativos: desde a metalomecânica até à inovação tecnológica.

 

O salto após a universidade está acautelado?
Queremos agregar e atrair empresas e empresários, sejam ou não formados cá. Quando o primeiro-ministro declarou que os jovens deveriam emigrar, nós preferimos tê-los cá. O sucesso das empresas de Coimbra tem sido muito significativo. Todas elas criam um clima de empreendimento para gerar postos de trabalho, aproveitar os estudos que aqui são feitos. As autarquias fizeram um trabalho notável para ajudar Portugal a sair do atraso em que vivia há 40 anos. Foi o tempo do "hardware": o essencial está feito.

 

Agora há mais um passo.
O paradigma hoje é o do "software": criar emprego, apoiar empresas e criar riqueza socialmente útil.

Portugal tende a cair
nesse erro de ortografia [‘burrocracia’] que é fatal. 
Manuel Machado
Presidente da Câmara de Coimbra

 

Como se faz isto quando se está à frente de uma autarquia?
Através dos vários trabalhos desenvolvidos em simultâneo, como a fiscalidade. Em Coimbra adoptámos a isenção do imposto de derrama sobre empresas que tenham um volume de negócios até 150 mil euros. Aqui apanha uma fatia de potenciais empresários que se geram nestas incubadoras. Criámos, em associação com o Instituto Pedro Nunes, uma área de inovação para o pleno aproveitamento dos fundos comunitários do próximo quadro de apoio, através de um instituto (ITeCons), destinado a acolher as engenharias para a construção civil. Para além das incubadoras temos as localizações industriais, que têm um número interessante de empresas e lotes disponíveis para acolher outras. Há uma postura de estímulo ao "high tech" e ao "high ferrugem". Elas resistiram e têm de ser apoiadas pela autarquia, segundo o que está ao nosso alcance.

 

Quais são as principais barreiras para quem queira investir em Coimbra?
Coimbra tem uma vantagem comparativa pela sua centralidade no território nacional e pela sua proximidade a portos importantes. As vias de comunicação são boas. Queixo-me da ligação ferroviária à fronteira, conhecida como linha da Beira Alta, e da ligação rodoviária entre Coimbra e Viseu. Somos defensores da complementaridade das cidades. Quando as cidades vizinhas se desenvolvem, nós beneficiamos.

 

Será essa dificuldade nos transportes a ditar que apenas 12% das empresas de Coimbra sejam exportadoras?
Isso é certamente um dos factores. Portugal está numa das periferias da Europa. O importante aqui era um novo pensamento da União Europeia (UE) acerca destes aspectos da competitividade. Se se quer promover o desenvolvimento económico dos países, esse é um dos aspectos que mereciam uma maior atenção da UE. Esta crise à escala planetária veio trazer distorções gravíssimas e uma centrifugação para o Oriente de empresas e indústrias importantes, para explorar a mão-de-obra barata e as matérias-primas que lá existem. A Europa tem vindo a sofrer por não encarar isto com profundidade.

 

Coimbra tem uma vantagem comparativa pela sua centralidade no território nacional. 
Manuel Machado
Presidente da Câmara de Coimbra

 

Em 2013, por cada empresa que fechou em Coimbra, abriram outras duas.
Isso tem a ver com esta dinâmica das incubadoras de empresas. O tal ecossistema com o sentido de atrair e estimular a criação de empresas. Espero que as empresas tenham lucro mas, como presidente da câmara, interessa-me que esteja criada riqueza socialmente útil. Só assim a qualidade de vida melhora. Há aqui um fervilhar jovem de empresários que se vêm afirmando com êxito e os antigos convivem bem com estes. Procuramos harmonizar as coisas, olhando de um modo atento e com a mesma intensidade para os vários sectores de actividade económica que aqui se desenvolvem.

 

O que falta ainda fazer para Coimbra crescer?
Penso que o primeiro passo de todos é vencermos a crise interior. Temos de derrotá-la porque esta circunstância que deprime e oprime não é boa para o investimento nem para a vida em geral. Temos de mentalizar-nos de que nenhuma crise é eterna. É possível juntar energia para avançar para a etapa seguinte. A partilha desta vontade de derrotar a crise é um primeiro passo importante. Criámos um gabinete de apoio aos investidores, protegendo todos os interesses empresariais legítimos. É um facilitador para criar empresas, dentro do quadro legal existente – que é muito perro, diga-se de passagem. A burocracia é uma dificuldade quando é sobretudo com dois R ["burrocracia"]. Portugal tende a cair nesse erro de ortografia que é fatal.

 

 
Perfil
O bom filho a casa torna
Foram doze anos à frente da Câmara de Coimbra. Em 2001, os resultados das autárquicas obrigaram Manuel Machado a uma pausa nas lides do poder local. Deixou passar outros doze anos até voltar à corrida pela cidade que escolheu para estudar e viver. Em 2013, foi eleito novamente como presidente deste município, embora sem maioria absoluta. Machado assegura também a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses.

 

 

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