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Lagarde: "O consenso à mesa [do BCE] é que é prematuro discutir cortes de juros"
As taxas de juro de referência na Zona Euro vão manter-se nos níveis atuais "pelo tempo que for necessário" para que a autoridade monetária tenha confiança no regresso da inflação à meta de 2%.
"O consenso à mesa é que é prematuro discutir cortes de juros", disse Lagarde, na conferência de imprensa que se seguiu ao conselho de governadores. Desde final de setembro que a taxa de depósitos está no máximo de sempre de 4%, a aplicável às operações principais de refinanciamento em 4,5% e a de cedência de liquidez em 4,75%.
Na semana passada, em Davos, Lagarde tentou refrear essas as expectativas, dizendo que só deverá acontecer no verão."Diria que é provável" que haja um apoio maioritário a essa decisão, "mas tenho de ser cautelosa porque também estamos a dizer que dependemos da informação e ainda há um nível de incerteza, alguns indicadores não estão no nível em que gostaríamos de os ver", avisou a francesa.
Questionada esta quinta-feira sobre o "timing", respondeu: "Tipicamente mantenho os meus comentários". E reafirmou que as próximas decisões serão tomadas com base nos dados que vão sendo conhecidos - até à reunião de março vai ser atualizada a inflação relativa a janeiro e fevereiro, por exemplo. "Estamos dependentes de dados e não de datas", sublinhou.
BCE atento à crise no Mar Vermelho
E os dados ainda não estão no sítio esperado. A inflação geral na Zona Euro subiu 2,9% em dezembro com algumas medidas orçamentais a amortecerem o impacto da queda dos preços da energia, de acordo com a avaliação do BCE. Ainda assim, a autoridade considera que a tendência de declínio do índice de preços no consumidor continua: a inflação alimentar caiu para 6,1% em dezembro, a inflação subjacente para 3,4%, mas os serviços mantiveram-se estáveis em 4%.Relativamente ao produto interno bruto (PIB), Lagarde indicou que é "provável" que a economia da Zona Euro tenha estagnado no último trimestre de 2023. "Os dados que vamos recebendo continuam a indicar fraqueza no curto prazo. No entanto, alguns indicadores prospetivos apontam para uma recuperação do crescimento mais à frente", explicou. A francesa advertiu, contudo, para os riscos em torno do "outlook".
Questionada sobre as pressões que ainda podem alimentar a inflação nos próximos meses, sobretudo, com potencial de constrangimentos com a crise no Mar Vermelho, Lagarde afirmou que o BCE "está a acompanhar com muito cuidado", lembrando que os "preços dos fretes estão a aumentar, as entregas estão a demorar mais e os custos e taxas estão a subir".
Em todo o caso, a presidente da autoridade monetária acredita que o impacto "pode ser moderado", reconhecendo que no BCE estão "muito cautelosos e atentos aos desenvolvimentos." E poderemos ter problemas do lado da oferta como na fase pós-pandemia? Lagarde acredita que não se chegará a esse ponto, indicando que há mais embarcações prontas a fazer o transporte de bens em todo o mundo.
Mas existem riscos que a presidente do BCE assume, como uma procura mundial "mais fraca" e expectativas e consumidores e famílias menos otimistas que podem travar a recuperação económica.