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É "totalmente prematuro" pensar em cortar juros, diz Lagarde
A estimativa dos analistas é que o primeiro corte nas taxas de juro de referência do BCE aconteça apenas no último trimestre do próximo ano.
"É totalmente prematuro pensar em cortar juros. O que falámos e decidimos nesta reunião foi em manter", respondeu Lagarde na conferência de imprensa que se seguiu à decisão (unânime dentro do grupo) de não mexer nas três taxas de referência pela primeira vez desde julho de 2022.
"As três taxas, aos níveis em que estão, contribuem substancialmente" para a meta de levar a inflação - que ficou em 4,3% em setembro depois de 5,2% em agosto - de volta a 2%. Lagarde explicou que o "staff" do BCE está a ver uma transmissão "significativa" desta estratégia para a economia real, nomeadamente por via da banca e do imobiliário já que a subida das taxas está a causar um agravamento dos juros reais.
O aumento dos custos de financiamento estão a causar cortes nos planos de investimento das empresas e compras por parte das famílias, conduzindo a uma queda a pique na procura por crédito no terceiro trimestre ano, como mostrou o inquérito aos bancos do BCE. Em simultâneo, os critérios de concessão de crédito apertaram. "Os bancos estão mais preocupados em relação aos riscos enfrentados pelos seus clientes e menos disponíveis para tomar, eles próprios, riscos", disse Lagarde.
A presidente do BCE sublinhou que "há mais" efeitos da política monetária restritiva por concretizar, antecipando que se continuem a fazer sentir ao longo deste ano e durante o primeiro trimestre de 2024. A estimativa dos analistas é que o primeiro corte nas taxas de juro de referência do BCE aconteça apenas no último trimestre do próximo ano.
Programas de compra de dívida e reservas dos bancos fora da discussão
Além de subir juros, a autoridade monetária tem também ajustado os programas de compra de dívida para retirar liquidez da economia, o que irá igualmente continuar sem alterações. A carteira do programa regular de compra de ativos (APP) está a diminuir a um ritmo classificado pelo BCE como "comedido e previsível", tendo sido abandonado o reinvestimento dos pagamentos de capital de títulos que atingem as maturidades.
No que respeita ao programa de compra de ativos devido a emergência pandémica (PEPP), ainda está a ser feito o reinvestimento dos pagamentos de capital recebido quando as obrigações chegam ao prazo, o que está previsto acontecer até, pelo menos, ao final de 2024. Questionada sobre o assunto, Christine Lagarde garantiu que o conselho "não discutiu" mudar as condições atuais do PEPP, nem a remuneração das reservas dos bancos.
Atualmente, os bancos estão obrigados a depositar 1% das responsabilidades (excluindo as referentes ao mercado interbancário), incluindo os depósitos, junto do supervisor. Em julho, o BCE deliberou que estas reservas mínimas deixariam de ser remuneradas e, antes deste encontro, era esperado que o limiar fosse ampliado para 2% do passivo.
Após uma década de políticas monetárias expansionistas, o setor financeiro na Zona Euro está numa situação de excesso de liquidez com 3,76 biliões de euros em ativos, o que acabou por se tornar dispendioso para os bancos centrais nacionais. Os mais penalizados são Alemanha (com gastos anuais na ordem dos 48.065 milhões), França (34,7 mil milhões) e Países Baixos (13,4 mil milhões), enquanto para Portugal se trata de um custo anual de 1.324 milhões de euros.
(Notícia atualizada às 14:35)