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Portugal paga 4,09% para emitir Panda Bonds com procura 3 vezes superior à oferta
Portugal tornou-se hoje o primeiro país da Zona Euro a emitir obrigações em moeda chinesa. A emissão recebeu forte procura e a taxa de juro em renminbi ficou acima de 4%.
As obrigações a 3 anos em moeda chinesa que o IGCP emitiu esta quinta-feira vão pagar uma taxa de juro (cupão) de 4,09%, apurou o Negócios junto de uma fonte próxima da operação, que adiantou que a procura superou em mais de três vezes a oferta, que ascende a dois mil milhões de renminbi.
Esta manhã, tinha sido fixado um intervalo de taxas entre 3,9% e 4,5%, pelo que o preço final acabou por ficar na banda inferior. Segundo a mesma fonte, quanto tido em conta o swap de conversão para euros, a esta emissão fica associada uma taxa de juro inferior a 0,65%.
No mercado secundário as obrigações portuguesas emitidas em euros transaccionam com uma "yield" negativa (-0,24%).
O principal objetivo desta emissão passa por alargar a base de investidores em dívida pública portuguesa. Com esta emissão Portugal torna-se hoje o primeiro país da Zona Euro a emitir obrigações em moeda chinesa, conhecidas por Panda Bonds. A Polónia já o fez em 2016 e a Áustria e Itália também querem emitir Panda Bonds este ano.
O IGCP colocou dois mil milhões de renminbi – o que equivale atualmente a 260 milhões de euros – em títulos a três anos, que serão negociados na Bolsa de Pequim.
Esta emissão estava a ser preparada desde 2017. Um dos últimos passos foi dado em abril deste ano quando o presidente chinês, Xi Jinping, fez uma visita oficial a Portugal, na qual foram fechados vários protocolos de colaboração. Um dos protocolos foi assinado entre a CGD e o Banco da China para "a implementação do memorando de entendimento relativo à emissão de ‘Panda Bonds’".
Captar poupanças dos chineses
A agência que gere a dívida pública vai cobrir o risco cambial que acarreta a estreia no mercado chinês. Tal como já aconteceu no passado quando Portugal emitiu em dólares, haverá uma "cobertura total" da operação em renminbi (moeda chinesa) para o euro, garantiu a presidente do IGCP, Cristina Casalinho, ao Negócios.
Em causa estão instrumentos derivados utilizados para minimizar o risco cambial de empréstimos, tal como aconteceu no caso da tranche do Fundo Monetário Internacional – entretanto já paga integralmente – quando o renminbi foi incluído no cabaz das moedas do FMI.
Segundo Casalinho, os principais "clientes" serão investidores institucionais, nomeadamente os bancos que tanto podem adquirir os títulos para as suas carteiras próprias como por conta de clientes de retalho. "Esta última modalidade é muito mais comum na China do que noutros mercados de dívida pública, como por exemplo na Europa", revela.
A captação das poupanças elevadas dos chineses tem sido um dos argumentos dados pelo Governo para demonstrar a utilidade desta operação, além da diversificação das fontes de financiamento da República, uma visão partilhada pela presidente do IGCP.