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Morgan Stanley recomenda aposta contra obrigações portuguesas a cinco anos
Os economistas do banco de investimento têm uma perspectiva pessimista para as obrigações nacionais. Alertam para os problemas estruturais na economia e para o regresso das preocupações sobre o “rating”.
O Morgan Stanley recomendou apostar na descida do valor das obrigações governamentais portuguesas a cinco anos em relação aos títulos de dívida italianos e alemães, antecipando uma subida do prémio de risco da dívida nacional. Apesar de Portugal ter ultrapassado o obstáculo da revisão da DBRS, com a manutenção do "rating" a permitir à dívida portuguesa continuar a ser incluída nos programas do BCE, o banco de investimento considera que as próximas revisões voltarão a ser pontos em foco no mercado.
Numa nota a investidores divulgada esta quarta-feira, dia em que Portugal foi ao mercado emitir títulos a cinco anos, os economistas do banco referem que "as futuras revisões do "rating" continuarão como pontos em foco pelo mercado, já que a agência [DBRS] sublinhou como riscos-chave o tecido económico fraco e as finanças públicas vulneráveis".
Os riscos macroeconómicos
O Morgan Stanley reconhece que "o compromisso do Governo em respeitar a consolidação orçamental é positivo". Mas defende que "os riscos macroeconómicos vão bem além do desempenho no próximo trimestre (ou do próximo ano)". Considera que "a estrutura económica fraca, a par de uma economia amplamente endividada e um sistema bancário frágil limitam o potencial de crescimento e tornam a trajectória da dívida vulnerável".
Em relação à estrutura económica, o banco de investimento refere que "a perspectiva para o médio e longo prazo é vulnerável". Apesar de notarem que "Portugal implementou reformas-chave nos anos recentes, este ajustamento continua longe de estar completo". Os economistas do banco argumentam que "para fortalecer o tecido económico e aumentar o potencial da economia, a agenda política deve focar-se novamente numa profunda transformação estrutural, que teve recuos mais recentemente".
O banco de investimento sublinha que apesar dos planos do governo para prosseguir com a consolidação orçamental continuarem, provavelmente, a ser bem recebidos pelas agências de "rating", estas entidades "tornaram-se recentemente mais preocupadas sobre o crescimento. Assim, a incerteza sobre o "rating" soberano de Portugal pode persistir".
Banco tem visão pessimista para as obrigações nacionais
Com aqueles riscos e com a perspectiva de que o "rating" continue a ser um foco de pressão, o Morgan Stanley mostrou uma perspectiva pessimista para as obrigações soberanas portuguesas. "Vemos prémios de risco mais alargados das obrigações portuguesas face às alemãs no médio prazo, dados os fracos fundamentais macroeconómicos e os potenciais riscos do sistema bancário."
O Morgan Stanley mostra ainda alguma preocupação sobre a capacidade do BCE manter o ritmo de compras e que as obrigações nacionais possam vir a ser prejudicadas com uma eventual mudança de regras do programa de compras. "O programa de compra alargada de activos é um factor crítico. As compras do BCE continuam a ser a força dominante nas obrigações portuguesas. Mas estão a abrandar desde que o programa foi estendido em Março de 2016, tanto em termos absolutos como no peso da chave de capital", observam os economistas do banco.
E estimam que "o apoio do programa para Portugal deverá permanecer ténue até Março de 2017". Alertam ainda que qualquer mexida do BCE na regra de fazer equivaler as compras à chave de capital de cada país, "iria implicar compras menores de obrigações soberanas portuguesas".
Conjugados estes factores, o Morgan Stanley recomenda aos clientes a aposta na descida das obrigações portuguesas a cinco anos, ao mesmo tempo que se ganha exposição à valorização de títulos italianos ou alemães com a mesma maturidade.