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Commerzbank: Alterações ao programa do BCE são "más notícias" para Portugal

O banco alemão estima que as obrigações dos periféricos continuem sob pressão devido às alterações anunciadas pelo Banco Central Europeu ao seu programa de compra de activos.

Reuters
09 de Dezembro de 2016 às 07:45
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O Banco Central Europeu anunciou alterações ao seu programa de compra de activos, que foi prolongado até ao final de 2017, mas com uma menor dimensão mensal a partir de Abril.

 

Na análise a estas alterações anunciadas após a reunião da autoridade monetária, o Commerzbank conclui que estas representam "más notícias" para Portugal. Sobretudo porque o BCE não mexeu nos parâmetros de elegibilidade que tem que cumprir na compra de títulos de dívida, isto numa altura em que já está perto de atingir os limites para a compra de obrigações portuguesas.

 

Vários analistas antecipavam que o BCE, no âmbito das alterações ao seu programa, poderia adoptar regras mais flexíveis, como aumentar o limite de 33% de compra de cada linha de obrigações e deixar de alinhar as compras de dívida pela chave de capital de cada país no BCE.

 

Contudo, o BCE apenas decidiu mexer na maturidade mínima residual dos títulos, que passa de dois para um ano, sendo que será também possível comprar obrigações com taxas de juro inferiores à da taxa de depósitos.

 

De acordo com o Commerzbank, "parece óbvio que o actual programa do BCE vai atingir o limite em 2018. São más notícias para Portugal, país onde o limite de 33% já está perto de ser atingido".

 

"É por isso que nos países periféricos reafirmamos a nossa estratégia de cautela. Os eventos de hoje (quinta-feira) reforçam o nosso alerta de que 2017 vai trazer riscos políticos acentuados numa altura em que está a diminuir a capacidade do BCE para absorver um aumento da oferta dos periféricos", refere a nota de análise do banco alemão, acrescentando que "com Portugal já perto do limite e a extensão das maturidades a ‘comprar’ muito pouco tempo, a prestação os títulos abaixo do mercado deverá alargar-se".

 

As obrigações soberanas portuguesas lideraram as quedas depois de conhecida a decisão do BCE, com a "yield" dos títulos a 10 anos a dispararem mais de 20 pontos base na sessão de quinta-feira, no agravamento mais acentuado desde o referendo que ditou o Brexit.

 

"Para Portugal, as alterações nos parâmetros de elegibilidade do programa do BCE tornam o limite de 33% ainda mais comprometedor e explicam o ‘sell-off’ agressivo que se verificou nos títulos de dívida portuguesa", acrescenta o Commerzbank.


As duas limitações do programa que penalizam a compra de dívida portuguesa

- Sob as actuais regras, o BCE não pode deter mais de 33% do saldo vivo de uma linha de obrigações ou da dívida de um país considerada para efeitos do programa. Em Novembro de 2015, a autoridade monetária já tinha sido forçada a rever em alta esse limite, dos iniciais 25% para os actuais 33%. Isto para linhas sem cláusulas de acção colectiva (de forma a evitar ter poder de veto em caso de reestruturação). Portugal é apontado como um dos mais afectados por esta limitação. E bancos como o Commerzbank e o Société Générale defendem que a diminuição das compras mensais de dívida portuguesa poderá estar relacionada com essa escassez de títulos elegíveis. Em Novembro, o BCE comprou 1.023 milhões em obrigações nacionais. Entre Abril e Junho, por exemplo, adquiria mais de 1.400 milhões de euros por mês.

- Outra das regras do programa é que o ritmo das compras deve equivaler à participação de cada banco central nacional no capital social da autoridade monetária, a chamada chave de capital. Deixar cair essa limitação daria flexibilidade ao BCE para gerir o programa de compra de activos. No entanto, entre as várias soluções, essa aparenta ser a mais difícil de reunir consenso no Conselho de Governadores do BCE.

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