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BCE ampara Zona Euro até para lá de 2017

Juros da dívida subiram na Europa perante a perspectiva de um menor ritmo de compras mensal e Portugal foi dos mais sacrificados. Draghi diz que já não há risco de deflação e que manterá apoio até depois das muitas eleições de 2017.

Reuters
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Portugal viu os juros da dívida pública subir devido à reformulação do programa de compra de activos do BCE anunciada 8 de Dezembro, mas ao mesmo tempo o Governo português sabe desde já que contará com o apoio do BCE no mercado de dívida ao longo do próximo ano, e em particular no caminho para as autárquicas, e para a negociação do Orçamento do Estado para 2018.

Estes são reflexos contraditórios das decisões anunciadas por Mario Draghi na última reunião do ano, na qual deu conta de que o banco central vai prolongar o seu programa de compra de títulos pelo menos até Dezembro de 2017, mas também que a partir de Abril baixará o ritmo de 80 para 60 mil milhões de euros mensais.

Perante decisões de sinal oposto, reacções mistas nos mercados: os juros subiram por toda a Europa – Portugal registou mesmo a maior subida desde o Brexit, com a taxa a 10 anos a tocar os 3,75% – no que parece ser uma reacção à redução do volume de compras mensal; já o euro caiu, no que parece incorporar o anúncio da injecção de mais 540 mil milhões de euros na economia da Zona Euro entre Abril e Dezembro de 2017, elevando para 2,3 biliões de euros o programa total de compras do BCE; e as bolsas acabaram a valorizar, para o que pode ter contribuído a o balanço cauteloso, mas positivo feito pelo Presidente do banco central, que antecipa uma recuperação "modesta, mas firme" da Zona Euro.

Eleições protegidas

Em conferência de imprensa, Draghi garantiu que a redução do volume de compras não reflecte qualquer intenção de retirada de estímulos pelo banco central através de uma redução sustentada do volume de compras para zero: essa hipótese "não foi discutida, nem esteve sequer em cima da mesa", afirmou.

Aliás, a "presença sustentada no mercado é uma das mensagens de hoje", reforçou ainda o líder da autoridade monetária, sinalizando que o BCE tem bem noção da elevada incerteza que marcará 2017, com eleições legislativas em França e na Alemanha, tensão política e financeira em Itália, os primeiros passos de concretização do Brexit pelo governo britânico, e a entrada em funções de Donald Trump nos EUA. 

A redução do volume de compras de 80 para 60 mil milhões a partir de Abril – com a salvaguarda de poder voltar a reforçar as compras – é segundo Draghi a tradução de uma avaliação mais positiva da situação da Zona Euro, em comparação com a avaliação feita em Março, quando o BCE decidiu o reforço de 60 para 80 mil milhões. "Já não há qualquer risco de deflação", respondeu a um jornalista.

A extensão do programa de compras por mais nove meses implicou alterações aos parâmetros de elegibilidade dos títulos a adquirir pelo banco central: a maturidade mínima residual passa de dois para um ano, e passará a ser possível comprar obrigações com taxas de juro inferiores à da taxa de depósitos. manter-se-ão as limitações de não comprar mais de 33% de cada linha de obrigações, e de alinhar as compras de dívida pela chave de capital de cada país no BCE.

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O plano de Draghi para o próximo ano

Na reunião mais importante de vários meses, o BCE fechou o ano traçando o seu plano de acção para 2017: estará mais tempo no mercado por mais tempo a comprar dívida, mas comprará menos. 

Mais tempo, menos intenso

"A partir de 2017 o volume de compras líquidas deverá continuar a um ritmo mensal de 60 mil milhões de euros até Dezembro de 2017, ou depois disso se necessário, e em qualquer caso até o Conselho ver um ajustamento sustentado na trajectória de inflação até ao seu objectivo de inflação", explicou o BCE em comunicado.

Falta de activos resolvida

O BCE alterou os critérios de elegibilidade dos títulos que pode comprar de forma a alargar o volume de activos disponíveis. Passará assim a poder comprar obrigações com maturidade residual entre 1 e 30 anos (baixando o limite inferior de 2 para 1) e com taxas de juro inferiores à taxa de depósitos (actualmente em -0,4%). Com estas alterações Frederik Ducrozet, da Pictet, estima que o BCE possa continuar a comprar obrigações alemãs até meados de 2018. Joerg Kraemer, do Commerzbank, aponta para que o limite de um máximo de 33% de compras por cada linha de obrigações seja atingido no arranque de 2018.

Um programa de 2,3 biliões de euros

O banco central comprará até Março de 2017 cerca de 1,76 biliões de euros em activos, principalmente dívida pública. Com a decisão anunciada a 8 de Dezembro o banco central injectará mais 540 mil milhões de euros na economia da Zona Euro, elevando o valor total de compras entre março de 2015 e Dezembro de 2018 para 2,3 biliões de euros, e atirando o balanço do banco central para um valor que se aproximará dos 4 biliões de euros.

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