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BCE ampara Zona Euro até para lá de 2017
Juros da dívida subiram na Europa perante a perspectiva de um menor ritmo de compras mensal e Portugal foi dos mais sacrificados. Draghi diz que já não há risco de deflação e que manterá apoio até depois das muitas eleições de 2017.
Estes são reflexos contraditórios das decisões anunciadas por Mario Draghi na última reunião do ano, na qual deu conta de que o banco central vai prolongar o seu programa de compra de títulos pelo menos até Dezembro de 2017, mas também que a partir de Abril baixará o ritmo de 80 para 60 mil milhões de euros mensais.
Eleições protegidas
Em conferência de imprensa, Draghi garantiu que a redução do volume de compras não reflecte qualquer intenção de retirada de estímulos pelo banco central através de uma redução sustentada do volume de compras para zero: essa hipótese "não foi discutida, nem esteve sequer em cima da mesa", afirmou.
Aliás, a "presença sustentada no mercado é uma das mensagens de hoje", reforçou ainda o líder da autoridade monetária, sinalizando que o BCE tem bem noção da elevada incerteza que marcará 2017, com eleições legislativas em França e na Alemanha, tensão política e financeira em Itália, os primeiros passos de concretização do Brexit pelo governo britânico, e a entrada em funções de Donald Trump nos EUA.
A redução do volume de compras de 80 para 60 mil milhões a partir de Abril – com a salvaguarda de poder voltar a reforçar as compras – é segundo Draghi a tradução de uma avaliação mais positiva da situação da Zona Euro, em comparação com a avaliação feita em Março, quando o BCE decidiu o reforço de 60 para 80 mil milhões. "Já não há qualquer risco de deflação", respondeu a um jornalista.
A extensão do programa de compras por mais nove meses implicou alterações aos parâmetros de elegibilidade dos títulos a adquirir pelo banco central: a maturidade mínima residual passa de dois para um ano, e passará a ser possível comprar obrigações com taxas de juro inferiores à da taxa de depósitos. manter-se-ão as limitações de não comprar mais de 33% de cada linha de obrigações, e de alinhar as compras de dívida pela chave de capital de cada país no BCE.
O plano de Draghi para o próximo ano
Na reunião mais importante de vários meses, o BCE fechou o ano traçando o seu plano de acção para 2017: estará mais tempo no mercado por mais tempo a comprar dívida, mas comprará menos.
Mais tempo, menos intenso
"A partir de 2017 o volume de compras líquidas deverá continuar a um ritmo mensal de 60 mil milhões de euros até Dezembro de 2017, ou depois disso se necessário, e em qualquer caso até o Conselho ver um ajustamento sustentado na trajectória de inflação até ao seu objectivo de inflação", explicou o BCE em comunicado.
O BCE alterou os critérios de elegibilidade dos títulos que pode comprar de forma a alargar o volume de activos disponíveis. Passará assim a poder comprar obrigações com maturidade residual entre 1 e 30 anos (baixando o limite inferior de 2 para 1) e com taxas de juro inferiores à taxa de depósitos (actualmente em -0,4%). Com estas alterações Frederik Ducrozet, da Pictet, estima que o BCE possa continuar a comprar obrigações alemãs até meados de 2018. Joerg Kraemer, do Commerzbank, aponta para que o limite de um máximo de 33% de compras por cada linha de obrigações seja atingido no arranque de 2018.
Um programa de 2,3 biliões de euros
O banco central comprará até Março de 2017 cerca de 1,76 biliões de euros em activos, principalmente dívida pública. Com a decisão anunciada a 8 de Dezembro o banco central injectará mais 540 mil milhões de euros na economia da Zona Euro, elevando o valor total de compras entre março de 2015 e Dezembro de 2018 para 2,3 biliões de euros, e atirando o balanço do banco central para um valor que se aproximará dos 4 biliões de euros.