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Petróleo corrige de escalada de segunda-feira. Mas tendência continua a ser ascendente
Atendendo a que se espera um aumento da procura mundial, este apertar de torneiras deverá levar a uma subida dos preços, havendo já vários analistas e casas de investimento a apontar para os 100 dólares por barril.
Os preços do "ouro negro" iniciaram a sessão desta terça-feira em alta, mas seguem agora a corrigir ligeiramente dos fortes ganhos do arranque da semana.
O West Texas Intermediate (WTI), "benchmark" para os Estados Unidos, cede 0,06% para 80,37 dólares por barril.
Por seu lado, o Brent do Mar do Norte, crude negociado em Londres e referência para as importações europeias, recua 0,27% para 84,70 dólares.
Na sessão de ontem, as cotações dispararam, registando as subidas mais expressivas desde março do ano passado, mas estão agora a aliviar.
A impulsionar o movimento altista de segunda-feira esteve o anúncio feito no domingo de um corte inesperado da oferta de crude por parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados – o chamado grupo OPEP+.
A OPEP+ vai apertar as torneiras em mais de um milhão e meio de barris por dia a partir de maio. O anúncio surpreendeu os mercados, que esperavam que o cartel mantivesse estável o seu nível agregado de produção pelo menos até à próxima reunião, que está agendada para 5 e 6 de julho.
"A Arábia Saudita [que vai cortar a sua oferta em 500 mil barris diários] e oito outros produtores de crude vão reduzir a sua produção em 1,66 milhões de barris por dia entre maio e dezembro e continuamos a antever que os preços prossigam a senda de subida, já que estes cortes irão apertar ainda mais o mercado", sublinha Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do UBS, num "research" a que o Negócios teve acesso.
O estratega do banco suíço lembra que a diminuição voluntária de produção não é uma novidade, mas salienta que "a escala desta ronda de cortes não tem precedentes".
"Atendendo a que são cortes voluntários, estes nove membros da OPEP+ têm mais flexibilidade para reverterem as reduções se as condições do mercado sustentarem essa medida", aponta Staunovo.
Recorde-se que, segundo o ministério saudita da Energia, os cortes são uma "medida de precaução destinada a sustentar a estabilidade do mercado petrolífero".
Há membros da OPEP+ que não estão a conseguir produzir ao nível das suas quotas, por falta de capacidade, mas os nove países que vão retirar voluntariamente crude da sua oferta já estavam todos perto do tecto que lhes foi atribuído, pelo que podem proceder com facilidade a estes cortes.
A Rússia está incluída neste grupo dos nove, mas já se esperava que a sua produção diminuísse, sobretudo à conta do embargo da União Europeia ao crude russo que era adquirido pela via marítima, pelo que "a retirada efetiva de petróleo do mercado por parte da OPEP+ será em torno de um milhão de barris por dia", diz o analista do UBS no seu relatório.
Ainda assim, atendendo a que se espera um aumento da procura mundial, este apertar de torneiras deverá levar a uma subida dos preços, havendo já vários analistas e casas de investimento a apontar para os 100 dólares por barril.
"Os membros da OPEP+ vão manter as mãos no leme do petróleo e continuar a controlar o mercado", sublinha Staunovo. O que suscita também receios de novas pressões inflacionistas, numa altura em que os bancos centrais continuam a tentar refrear a subida dos preços através da sua política monetária - isto é, com aumentos dos juros diretores.