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Matérias-primas recarregaram baterias em 2019, com metais a liderarem as subidas

Se exceptuarmos a energia, "commodities" com maiores ganhos este ano foram o paládio e o níquel. Foi o ano dos metais.

31 de Dezembro de 2019 às 16:30
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A energia foi, decididamente, um das categorias das matérias-primas que mais terreno ganhou este ano, com o crude de referência dos Estados Unidos (WTI) a disparar 35% e o da Europa (Brent do Mar do Norte) a escalar 23%. O gasóleo e a gasolina seguiram a mesma tendência, tendo o gás natural sido a excepção ao cair 26%.

 

Mas houve muitas outras "commodities" que brilharam com ganhos de dois dígitos, como o paládio, níquel, café, minério de ferro, ouro, prata e trigo.

 

Níquel "em grande"

 

Sobressaem sobretudo, nas valorizações de 2019, os metais industriais e preciosos. O níquel destacou-se com uma subida próxima dos 35%, a capitalizar o crescimento dos veículos elétricos – uma tendência que deverá manter-se –, dado ser um metal crucial nas baterias recarregáveis e no aço inoxidável.

 

Por outro lado, a esperada restrição às exportações de níquel por parte da Indonésia, o maior fornecedor mundial de minérios de níquel, poderá encarecer ainda mais este metal de base.

 

Ainda na mesma categoria, o cobre registou um ganho mais modesto, na ordem dos 4% – mas 53% dos operadores e analistas inquiridos pela Bloomberg antecipam melhorias neste metal, dados os progressos nas conversações EUA-China (que já planeiam negociar a "fase 2" do acordo comercial alcançado este mês) e a perspetiva de uma economia mundial mais saudável.

 

Neste grupo dos metais não ferrosos, o destaque pela negativa vai para o alumínio, que este ano não conseguiu aguentar-se no verde e perdeu perto de 1%.

 

Minério de ferro: ascensão e queda?

 

Pela positiva esteve também o minério de ferro – que, apesar de ter perdido tracção no final do ano, escalou em torno de 27% entre janeiro e dezembro. A sustentar estiveram as perturbações na oferta, com o preço a escalar no primeiro semestre para máximos de Janeiro de 2014 ao atingir os 126 dólares por tonelada.

 

Entretanto, a produção vai recuperando o equilíbrio e a Austrália advertiu para a possibilidade de as cotações caírem até aos 60 dólares em 2020.

 

Já o Morgan Stanley estima que os preços se mantenham elevados no início de 2020 mas que aliviem à medida que o ano avança, colocando esta matéria-prima entre as que devem sair menos favorecidas nos próximos 12 meses.  

 

Paládio brilha entre os preciosos

 

Ainda nos metais, os preciosos deram que falar este ano. Nestes, podemos encontrar dois grupos de relevo: o ouro e a prata; e o grupo da platina – composto pela platina, paládio e ródio. E os dois últimos tiveram um ano "em grande".

 

O paládio ultrapassou os 2.000 dólares por onça, patamar nunca antes alcançado, e ganhou mais de 50% no acumulado do ano. Segundo analistas de grandes casas de investimento, como o Citigroup, Morgan Stanley, UBS e Commerzbank, este metal deverá prosseguir a sua escalada em 2020, dado que se espera que a China implemente novas normas mais apertadas para as emissões e atendendo a que na Europa vai  entrar em vigor a nova norma de emissões Euro 6d para todos os automóveis novos matriculados a partir de setembro de 2019 (com novas taxas destinadas a quem não cumprir o padrão europeu de emissões).

 

É cada vez maior a procura de paládio para controlar as emissões nocivas em carros movidos a gasolina, numa altura em que a regulação neste campo é cada vez mais rígida. É que este metal é uma componente-chave nos aparelhos de controlo das emissões poluentes nos automóveis e camiões e cerca de 80% do paládio acaba nos exaustores dos carros. Por outro lado, a onda de apagões na parte final do ano na África do Sul, que é a maior produtora de platina e a segunda maior fornecedora de paládio, levou as empresas mineiras do país a pararem operações, reduzindo a oferta no mercado.

 

Este foi, aliás, o ano em que o paládio – que é também utilizado na eletrónica, joalharia e odontologia – superou o valor do ouro.

 

Ródio brilhou com normas mais apertadas no automóvel

 

Neste momento, em valor, apenas o ródio supera o paládio – a beneficiar igualmente da crescente procura por parte do setor automóvel, que usa cada vez mais estes metais nos catalisadores no âmbito das exigências de motores menos poluentes, e do défice de oferta.

 

Além da sua aplicação nos exaustores dos veículos, ao eliminar o óxido de nitrogénio, o ródio é também muito procurado devido às suas propriedades refletoras – em objetos como lanternas, espelhos e acabamentos de joalharia. Daí que seja cada vez mais cobiçado e, por isso, mais caro.

 

Ouro, o eterno valor-refúgio

 

Por seu lado, o ouro ganhou 19% no ano, naquela que foi a sua maior valorização desde 2010. O metal amarelo foi impulsionado pelo seu estatuto de valor-refúgio, o que leva a que seja mais procurado em épocas de incerteza, de tensões comerciais e geopolíticas e de contracção económica. E 2019 foi um ano recheado de receios, especialmente no que diz respeito à guerra comercial entre os EUA e a China, que no final do ano apaziguou com o anúncio de um acordo de "fase 1" entre as duas maiores economias do mundo.

 

E os analistas da Blackrock, Goldman Sachs e UBS prevêem que esta tendência de subida prossiga em 2020. O UBS estima mesmo que os preços possam ser catapultados para o patamar dos 1.600 dólares por onça – valor que não atinge desde 2013.

 

Cereais e oleaginosas "tremeram" com guerra comercial

 

Já no que diz respeito às matérias-primas agrícolas (as chamadas "soft commodities" – que têm uma vantagem face às "hard commodities" [energia e metais]: em termos de ciclo produtivo [oferta] é mais fácil ao produtor adaptar as suas culturas à dinâmica da procura), houve três que sobressaíram do lado das subidas: café, açúcar e trigo.

 

Neste reino agrícola, a notícia de um acordo comercial parcial entre Washington e Pequim criou grandes expectativas em relação à soja. Isto porque esta oleaginosa, de forte produção nos EUA, foi uma das afectadas pelas tarifas alfandegárias adicionais impostas pela China. No entanto, sublinha a Bloomberg, quem acabou por ser o grande vencedor foi um cereal: o trigo.

 

Com efeito, o trigo valorizou cerca de 11% no cômputo do ano, ao passo que a soja apenas somou 6% - ainda a reerguer-se dos escombros da queda em que mergulhou nos dias mais quentes da guerra comercial.

 

Não são ainda conhecidos os detalhes do acordo de "fase 1" assinado entre os EUA e a China mas tem sido veiculado que, no âmbito desse entendimento, Pequim se esforçará no sentido de preencher a sua quota de compra de trigo norte-americano. Foi o suficiente para dar força a este cereal. E o milho, que no ano ganhou apenas 4%, poderá também vir a ser beneficiado pelas quotas para a compra de cereais que vão ser divulgadas pela China.

 

Açúcar, de amargo a doce

 

Também o açúcar adoçou o ano, ao pular 12% no mercado londrino. Esta matéria-prima fechou o ano de 2018 com um sabor amargo, ao cair 17%, e havia sinais de que a queda dos preços poderia agravar-se este ano. Tal não aconteceu, muito à conta da baixa produção.

 

Os especialistas nesta "commodity" dizem que a produção de açúcar deverá retomar em 2020, depois de este ano ter caído para mínimos de três anos – o que sustentou os preços.

 

A procura por etanol no Brasil, o maior produtor e exportador de açúcar do mundo, também ajudou. A cana de açúcar pode ser direccionada para a produção de açúcar ou de biocombustível (etanol) e os preços elevados da gasolina têm levado os processadores brasileiros a preferir produzir etanol.

 

Café entre os melhores desempenhos do ano

 

Nas matérias-primas agrícolas, a que mais subiu em 2019 foi o café, com uma subida de 30% em bolsa, a ponto de ser alcunhada de "hot commoditiy". E tudo indica que vai continuar na berra. Isto porque as estimativas apontam para que a colheita no Brasil seja fraca na atual campanha agrícola.

 

Além do mais, nos países vizinhos do Brasil a produção tem estado estagnada, e nalguns casos até a diminuir, o que significa uma escassez de oferta global. Resultado: os preços deverão manter-se sustentados.

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