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Siga os indicadores certos
A avaliação de empresas é muito complexa, a não ser que opte pela avaliação relativa: só precisa dos mapas contabilísticos, de uma cotação recente e de fazer alguma aritmética.
18 de Setembro de 2009 às 10:00
A avaliação de empresas é muito complexa, a não ser que opte pela avaliação relativa: só precisa dos mapas contabilísticos, de uma cotação recente e de fazer alguma aritmética.
Quem o diz é Warren Buffett, um dos maiores investidores de bolsa: "É muito melhor comprar uma empresa maravilhosa a um preço aceitável do que uma empresa aceitável a um preço maravilhoso." É difícil discordar do segundo homem mais rico do mundo, segundo a revista "Forbes", que ganhou cerca de 20% por ano em pouco mais de quatro décadas. Mas como se sabe que o preço é aceitável?
Há várias maneiras de avaliar uma sociedade, inclusive algumas bastante complexas, mas é provável que a avaliação relativa seja a mais simples. Este tipo de avaliação concentra-se no cálculo de rácios, que normalmente comparam alguma medida dos quadros contabilísticos com o valor de mercado da firma.
A simplicidade da avaliação relativa não quer dizer que ela serve para pouco. Aliás, são muitos os gurus da bolsa que começam o seu trabalho com uma mão-cheia de rácios de mercado. Martin Zweig, um analistas e comentador que previu o "crash" de 1987, diz, no seu livro "Martin Zweig's Winning on Wall Street", que não é preciso estudar uma firma ao pormenor para saber se vale a pena comprá-la. Zweig é autor de uma estratégia que, segundo a Associação Americana de Investidores Individuais, rendeu mais de 1.300% desde 1998, que conta com indicadores como o rácio preço-lucros. Os especialistas alertam, no entanto, que os investidores não devem decidir a compra ou a venda de uma acção apenas pela análise de um ou dois rácios de mercado. Como perceberá mais à frente, estes indicadores estão longe de serem perfeitos.
Os indicadores mais usados na bolsa são fáceis de computar: basta que tenha os mapas das contas, uma cotação recente e, de preferência, uma calculadora. Todavia, se quiser ser ainda mais rápido na sua avaliação relativa de acções, pode ir ao sítio na Internet do Negócios (www.negocios.pt) e optar por "Análise Fundamental" no menu. Aí, encontrará vários indicadores sobre as acções nacionais.
Para lhe poupar trabalho, o Negócios, além de lhe explicar como funcionam os principais indicadores, apresenta-lhe as acções cujos rácios são extremos. A investigação foi realizada nos índices mais restritos das praças mais acessíveis aos investidores nacionais: Lisboa, Madrid, Paris, Bruxelas, Amesterdão, Frankfurt, Londres e Nova Iorque.
Para se orientar entre os milhares de acções que podem fazer crescer o dinheiro, é preciso
que conheça algumas ferramentas que podem ajudar a tomar boas decisões.
1. Preço-Lucros – O que todos procuram
Este é o indicador mais usado nos mercados accionistas em todo o mundo, porque combina as duas coisas mais importantes para os investidores: o preço das acções e o lucro alcançado pela empresa. O rácio preço-lucros (em inglês, "price-earnings ratio", PER ou P/E) resulta da divisão da cotação pelo lucro da empresa que corresponde a cada acção, isto é, o preço de mercado a dividir pelo lucro por acção. Tradicionalmente, o lucro por acção aplicado na divisão é o obtido nos últimos quatro trimestres fiscais. Há muitas maneiras de interpretar o P/L, mas a mais comum é como o número de anos necessários para o accionista receber o que gastou na compra da acção se os lucros se mantiverem e se a sociedade os distribuir na totalidade como dividendos. Logo, se mede o número de anos para recuperar o investimento (sob determinadas condições), pretende-se um P/L baixo. Como é um múltiplo desse número de anos, muitas vezes o resultado da divisão é acompanhado por um "x".
Robert Shiller, professor da Universidade de Yale, ficou conhecido quando o seu livro "Irrational Exuberance", publicado no pico da "bolha tecnológica", em Março de 2000, alertava para a queda do mercado. O P/L foi o seu principal indicador. "Os investidores de longo prazo são bem aconselhados, individualmente, a baixar a exposição ao mercado accionista quando [o rácio entre o preço e o resultados] está alto (...) e a entrar no mercado quando está baixo", escreveu Shiller na actualização de 2005 do livro. Actualmente, o P/L médio das principais bolsas está alguns pontos abaixo da média de longo prazo.
É preciso cuidado ao analisar o P/L, especialmente se for de uma só acção e não do mercado como um todo. O maior problema está no denominador: os lucros são bastante manipuláveis, o que pode alterar significativamente a leitura do rácio. Por isso, alguns investidores e agências de informação financeira realizam correcções ao P/L, subtraindo, por exemplo, resultados extraordinários aos lucros. Outro risco é o de o preço, que está no numerador, estar deprimido por a firma estar em maus lençóis. Se uma empresa estiver próxima da falência, a sua cotação tenderá para zero, bem como o P/L. É por isso que alguns gurus da bolsa não compram acções com rácios inferiores a cinco.
2. Preço-valor contabilístico - Avaliar pelas contas A relação entre o preço e o valor contabilístico das acções é tão antiga como o rácio anterior, entre o preço e os lucros. Benjamin Graham, o pai da análise fundamental de acções, e o seu colega David Dodd escreveram em "Security Analysis", publicado em 1934, que a comparação entre o valor de mercado e o valor contabilístico da empresa é uma medida a manter debaixo de olho na selecção de acções. O rácio P/VC (em inglês, "price-book value" ou P/BV) resulta da divisão da cotação pelos capitais próprios por acção. Graham defendia que a maioria dos investidores não deve comprar acções cujo valor de mercado ultrapasse em mais de 20% o valor contabilístico, ou seja, o seu P/VC máximo deve ser de 1,2. Em vez de usarem os capitais próprios como referência para o cálculo do P/VC, alguns investidores extraem o imobilizado não tangível do denominador do rácio, defendendo que assim não é possível manipulá-lo.
Apesar de ser usado por muitos grandes investidores desde a década de 1930, pelo menos, o mundo académico só abraçou o rácio P/VC em 1980, quando Dennis Stattman, actualmente gestor do fundo BlackRock Global Allocation, o estudou na sua tese de mestrado da Universidade de Chicago. Desde então, os académicos apontam este rácio como o melhor para separar boas acções para investir. É inclusivamente melhor que o P/L, estimam. Uma empresa a negociar com um P/VC baixo, em particular quando comparado com o seu sector e com os seus concorrentes, é indicada como estando subavaliada. Pode ser uma oportunidade de compra única. Contudo, um P/VC baixo também pode assinalar que os investidores estão pessimistas em relação ao futuro da companhia, deprimindo a sua cotação, ou que a sociedade tem um activo intangível desproporcional no seu balanço. Nesse caso, é preciso evitá-la.
Muitas vezes, as empresas cotadas apresentam P/VC inferiores à unidade, o que pode parecer estranho: o mercado está a avaliá-las abaixo do seu valor contabilístico. Contudo, isso acontece porque a cotação incorpora mais informação do que os valores introduzidos pelos contabilistas, como sejam as expectativas de resultados futuros e a avaliação da administração. Além disso, "o valor contabilístico é uma opinião [dos contabilistas] e não um facto", revela Aswath Damodaran, professor da Universidade de Nova Iorque, no seu livro "Investment Fables", em que desconstrói os mitos dos rácios financeiros.
3 . Preço-vendas - À prova de manipulação Um dos problemas principais na avaliação das empresas está em encontrar informação credível. Há manuais que ensinam exclusivamente a fazer ajustamentos aos mapas contabilísticos de modo a evitar ser-se enganado pelos administradores. Na avaliação relativa, há um indicador que consegue transpor as limitações das manipulações: o rácio preço-vendas ("price-sales" ou P/S, em inglês), que resulta da divisão da cotação pelas vendas por acção. As vendas são o elemento contabilístico mais difícil de "dourar" pelos administradores, logo, conseguem contribuir melhor para uma métrica mais estável.
Kenneth Fisher, o gestor de activos que lidera a Fisher Investments, filho do guru da bolsa Philip Fisher, foi pioneiro ao introduzir o rácio P/V, seguindo os ensinamentos do pai.
No 25º aniversário da sua coluna mensal na revista "Forbes", Ken Fisher relembrou a sua estratégia: "Evite pagar em excesso. Use várias métricas de avaliação - não apenas o rácio preço-lucros mas também o rácio preço-vendas e preço-valor contabilístico. Compare uma empresa com o mercado como um todo e com os seus concorrentes. Compre qualidade barata." Os artigos de Fisher podem ser lidos "on-line" em forbes.com/fisher.
A estratégia de Ken Fisher passa por fazer uma selecção inicial das acções com P/V mais baixos e, posteriormente, usar outros indicadores (como o crescimento dos lucros e rácios de endividamento) para desvendar as melhores compras, segundo os seus livros. O P/V permite desvendar títulos esquecidos pelos investidores, mas que têm um forte potencial de crescimento.
Como o rácio P/V indica o valor que o mercado atribuiu a cada euro de volume de negócios por acção, é importante fazer comparações que façam sentido. Não é justo comparar o P/V de uma fabricante de automóveis, que têm baixas perspectivas de crescimento da facturação, com um companhia de energia eólica, como a EDP Renováveis ou a Iberdrola Renovables, cujas perspectivas de aumento das vendas é elevado. Firmas como a PSA Peugeot Citroën, Ford Motor e BMW têm P/V inferiores a 0,50, enquanto as produtoras de energias alternativas apresentam rácios superiores a cinco.
4. Taxa de dividendos - O que os investidores realmente querem No limite, o que os investidores querem é dividendos. É verdade que muitos negoceiam acções apenas com o intuito de fazer mais-valias. Contudo, para uma acção subir sustentadamente é preciso que haja uma estimativa, mesmo que seja muito remota, de fazer um pagamento de dividendos. Ninguém pensa que a Google, a dona do motor de busca homónimo, irá pagar dividendos nos próximos tempos, porque precisa do dinheiro que gera para alimentar o seu crescimento. Contudo, quando a Microsoft foi para a bolsa, em 1986, também ninguém esperava dividendos nos anos seguintes, mas agora a maior casa de "software" do mundo paga bons dividendos.
"De 1871 a 2003, 97% da acumulação acima da inflação das acções [norte-americanas] veio do reinvestimento dos dividendos. Apenas 3% teve origem em ganhos de capital", estima Jeremy Siegel, professor da Universidade da Pensilvânia, no livro "The Future for Investors". A taxa de dividendos, que se obtém dividindo os dividendos por acção dos últimos 12 meses pela cotação do título, é o indicador mais usado na selecção de bons pagadores. Esta taxa (na terminologia britânica, "dividend yield") indica a rendibilidade anual do investimento nas acções à conta do recebimento dos dividendos, assumindo que a empresa mantém o fluxo de pagamentos nos próximos anos. Contudo, não é garantido que o sociedade pague os mesmos dividendos nos próximos exercícios, nem é garantido que pague um cêntimo, uma vez que não há qualquer obrigação legal para o fazer. Em Julho de 2004, a Microsoft fez um anúncio importante: além de ir pagar os oito cêntimos de dólar por acção, como tentava habituar os accionistas até então, iria distribuir três dólares adicionais. Ora, esse dividendo especial representava uma taxa de dividendo superior a 10%, o que os investidores não deveriam tomar como fosse provável de se repetir. Antes de mergulhar numa acção pela sua taxa de dividendo, convém verificar se a empresa que o distribuiu tem condições para continuar a fazê-lo.
5. Rendibilidade do capital próprio - Tripla medida A rendibilidade do capital próprio é um dos indicadores mais simples que se podem usar: basta retirar um elemento da demonstração de resultados, outro do balanço e dividir o primeiro pelo segundo. A RCP (em inglês, "return on equity" ou ROE) resulta da divisão do resultado líquido de um ano pelo capital próprio dos accionistas.
Para fazer cálculos mais actuais, o resultado líquido que normalmente se usa obtém-se da soma dos últimos quatro lucros trimestrais e o capital próprio é uma média ao longo desse ano. Isto quer dizer que o indicador diz quantos euros de lucro foram gerados no último ano por cada euro de capitais próprios, logo, quanto maior, melhor. Por exemplo, uma RCP de 20% indica que, ao longo dos últimos 12 meses, a empresa conseguiu produzir 20 euros de resultados líquidos a partir de cada 100 euro de capitais. É importante relembrar que o capital próprio não é mais do que a diferença contabilística entre o valor dos activos e das dívidas.
Embora seja apenas uma percentagem, a RCP tem um vasto poder, porque sintetiza a capacidade de receitas do negócio, a gestão dos activos e o endividamento. O número final reflecte como os administradores estão a equilibrar este três elementos - algo muito importante para os investidores. "A alocação do capital ao longo do tempo determina o valor dos accionistas. Decidir o que fazer com os resultados da empresa - reinvestir no negócio ou devolvê-los aos accionistas - é, na cabeça de Buffett, um exercício de lógica e racionalidade", conta Robert Hagstrom, no seu livro "Warren Buffett e as Estratégias de um Grande Investidor". A RCP reflecte exactamente se os administradores decidiram bem em reinvestir o dinheiro dos accionistas, em vez de o devolver.
A desvantagem do RCP quando se está a investir em acções está na falta de ligação directa ao mercado, isto é, o indicador não incorpora uma comparação ao preço de mercado, ao contrário das quatro medidas anteriores. É por isso que nunca deve ser usado isoladamente na selecção de títulos, embora faça parte de estratégias internacionalmente reconhecidas, como a "Hidden Gems" (o que pode ser traduzido em "Perólas Escondidas") dos norte-americanos da Motley Fool, uma sociedade de aconselhamento financeiro multimédia.
Quem o diz é Warren Buffett, um dos maiores investidores de bolsa: "É muito melhor comprar uma empresa maravilhosa a um preço aceitável do que uma empresa aceitável a um preço maravilhoso." É difícil discordar do segundo homem mais rico do mundo, segundo a revista "Forbes", que ganhou cerca de 20% por ano em pouco mais de quatro décadas. Mas como se sabe que o preço é aceitável?
A simplicidade da avaliação relativa não quer dizer que ela serve para pouco. Aliás, são muitos os gurus da bolsa que começam o seu trabalho com uma mão-cheia de rácios de mercado. Martin Zweig, um analistas e comentador que previu o "crash" de 1987, diz, no seu livro "Martin Zweig's Winning on Wall Street", que não é preciso estudar uma firma ao pormenor para saber se vale a pena comprá-la. Zweig é autor de uma estratégia que, segundo a Associação Americana de Investidores Individuais, rendeu mais de 1.300% desde 1998, que conta com indicadores como o rácio preço-lucros. Os especialistas alertam, no entanto, que os investidores não devem decidir a compra ou a venda de uma acção apenas pela análise de um ou dois rácios de mercado. Como perceberá mais à frente, estes indicadores estão longe de serem perfeitos.
Os indicadores mais usados na bolsa são fáceis de computar: basta que tenha os mapas das contas, uma cotação recente e, de preferência, uma calculadora. Todavia, se quiser ser ainda mais rápido na sua avaliação relativa de acções, pode ir ao sítio na Internet do Negócios (www.negocios.pt) e optar por "Análise Fundamental" no menu. Aí, encontrará vários indicadores sobre as acções nacionais.
Para lhe poupar trabalho, o Negócios, além de lhe explicar como funcionam os principais indicadores, apresenta-lhe as acções cujos rácios são extremos. A investigação foi realizada nos índices mais restritos das praças mais acessíveis aos investidores nacionais: Lisboa, Madrid, Paris, Bruxelas, Amesterdão, Frankfurt, Londres e Nova Iorque.
Cinco pontos cardeais para avaliar as acções
Para se orientar entre os milhares de acções que podem fazer crescer o dinheiro, é preciso
que conheça algumas ferramentas que podem ajudar a tomar boas decisões.
1. Preço-Lucros – O que todos procuram
Este é o indicador mais usado nos mercados accionistas em todo o mundo, porque combina as duas coisas mais importantes para os investidores: o preço das acções e o lucro alcançado pela empresa. O rácio preço-lucros (em inglês, "price-earnings ratio", PER ou P/E) resulta da divisão da cotação pelo lucro da empresa que corresponde a cada acção, isto é, o preço de mercado a dividir pelo lucro por acção. Tradicionalmente, o lucro por acção aplicado na divisão é o obtido nos últimos quatro trimestres fiscais. Há muitas maneiras de interpretar o P/L, mas a mais comum é como o número de anos necessários para o accionista receber o que gastou na compra da acção se os lucros se mantiverem e se a sociedade os distribuir na totalidade como dividendos. Logo, se mede o número de anos para recuperar o investimento (sob determinadas condições), pretende-se um P/L baixo. Como é um múltiplo desse número de anos, muitas vezes o resultado da divisão é acompanhado por um "x".
Robert Shiller, professor da Universidade de Yale, ficou conhecido quando o seu livro "Irrational Exuberance", publicado no pico da "bolha tecnológica", em Março de 2000, alertava para a queda do mercado. O P/L foi o seu principal indicador. "Os investidores de longo prazo são bem aconselhados, individualmente, a baixar a exposição ao mercado accionista quando [o rácio entre o preço e o resultados] está alto (...) e a entrar no mercado quando está baixo", escreveu Shiller na actualização de 2005 do livro. Actualmente, o P/L médio das principais bolsas está alguns pontos abaixo da média de longo prazo.
É preciso cuidado ao analisar o P/L, especialmente se for de uma só acção e não do mercado como um todo. O maior problema está no denominador: os lucros são bastante manipuláveis, o que pode alterar significativamente a leitura do rácio. Por isso, alguns investidores e agências de informação financeira realizam correcções ao P/L, subtraindo, por exemplo, resultados extraordinários aos lucros. Outro risco é o de o preço, que está no numerador, estar deprimido por a firma estar em maus lençóis. Se uma empresa estiver próxima da falência, a sua cotação tenderá para zero, bem como o P/L. É por isso que alguns gurus da bolsa não compram acções com rácios inferiores a cinco.
2. Preço-valor contabilístico - Avaliar pelas contas A relação entre o preço e o valor contabilístico das acções é tão antiga como o rácio anterior, entre o preço e os lucros. Benjamin Graham, o pai da análise fundamental de acções, e o seu colega David Dodd escreveram em "Security Analysis", publicado em 1934, que a comparação entre o valor de mercado e o valor contabilístico da empresa é uma medida a manter debaixo de olho na selecção de acções. O rácio P/VC (em inglês, "price-book value" ou P/BV) resulta da divisão da cotação pelos capitais próprios por acção. Graham defendia que a maioria dos investidores não deve comprar acções cujo valor de mercado ultrapasse em mais de 20% o valor contabilístico, ou seja, o seu P/VC máximo deve ser de 1,2. Em vez de usarem os capitais próprios como referência para o cálculo do P/VC, alguns investidores extraem o imobilizado não tangível do denominador do rácio, defendendo que assim não é possível manipulá-lo.
Apesar de ser usado por muitos grandes investidores desde a década de 1930, pelo menos, o mundo académico só abraçou o rácio P/VC em 1980, quando Dennis Stattman, actualmente gestor do fundo BlackRock Global Allocation, o estudou na sua tese de mestrado da Universidade de Chicago. Desde então, os académicos apontam este rácio como o melhor para separar boas acções para investir. É inclusivamente melhor que o P/L, estimam. Uma empresa a negociar com um P/VC baixo, em particular quando comparado com o seu sector e com os seus concorrentes, é indicada como estando subavaliada. Pode ser uma oportunidade de compra única. Contudo, um P/VC baixo também pode assinalar que os investidores estão pessimistas em relação ao futuro da companhia, deprimindo a sua cotação, ou que a sociedade tem um activo intangível desproporcional no seu balanço. Nesse caso, é preciso evitá-la.
Muitas vezes, as empresas cotadas apresentam P/VC inferiores à unidade, o que pode parecer estranho: o mercado está a avaliá-las abaixo do seu valor contabilístico. Contudo, isso acontece porque a cotação incorpora mais informação do que os valores introduzidos pelos contabilistas, como sejam as expectativas de resultados futuros e a avaliação da administração. Além disso, "o valor contabilístico é uma opinião [dos contabilistas] e não um facto", revela Aswath Damodaran, professor da Universidade de Nova Iorque, no seu livro "Investment Fables", em que desconstrói os mitos dos rácios financeiros.
3 . Preço-vendas - À prova de manipulação Um dos problemas principais na avaliação das empresas está em encontrar informação credível. Há manuais que ensinam exclusivamente a fazer ajustamentos aos mapas contabilísticos de modo a evitar ser-se enganado pelos administradores. Na avaliação relativa, há um indicador que consegue transpor as limitações das manipulações: o rácio preço-vendas ("price-sales" ou P/S, em inglês), que resulta da divisão da cotação pelas vendas por acção. As vendas são o elemento contabilístico mais difícil de "dourar" pelos administradores, logo, conseguem contribuir melhor para uma métrica mais estável.
Kenneth Fisher, o gestor de activos que lidera a Fisher Investments, filho do guru da bolsa Philip Fisher, foi pioneiro ao introduzir o rácio P/V, seguindo os ensinamentos do pai.
No 25º aniversário da sua coluna mensal na revista "Forbes", Ken Fisher relembrou a sua estratégia: "Evite pagar em excesso. Use várias métricas de avaliação - não apenas o rácio preço-lucros mas também o rácio preço-vendas e preço-valor contabilístico. Compare uma empresa com o mercado como um todo e com os seus concorrentes. Compre qualidade barata." Os artigos de Fisher podem ser lidos "on-line" em forbes.com/fisher.
A estratégia de Ken Fisher passa por fazer uma selecção inicial das acções com P/V mais baixos e, posteriormente, usar outros indicadores (como o crescimento dos lucros e rácios de endividamento) para desvendar as melhores compras, segundo os seus livros. O P/V permite desvendar títulos esquecidos pelos investidores, mas que têm um forte potencial de crescimento.
Como o rácio P/V indica o valor que o mercado atribuiu a cada euro de volume de negócios por acção, é importante fazer comparações que façam sentido. Não é justo comparar o P/V de uma fabricante de automóveis, que têm baixas perspectivas de crescimento da facturação, com um companhia de energia eólica, como a EDP Renováveis ou a Iberdrola Renovables, cujas perspectivas de aumento das vendas é elevado. Firmas como a PSA Peugeot Citroën, Ford Motor e BMW têm P/V inferiores a 0,50, enquanto as produtoras de energias alternativas apresentam rácios superiores a cinco.
4. Taxa de dividendos - O que os investidores realmente querem No limite, o que os investidores querem é dividendos. É verdade que muitos negoceiam acções apenas com o intuito de fazer mais-valias. Contudo, para uma acção subir sustentadamente é preciso que haja uma estimativa, mesmo que seja muito remota, de fazer um pagamento de dividendos. Ninguém pensa que a Google, a dona do motor de busca homónimo, irá pagar dividendos nos próximos tempos, porque precisa do dinheiro que gera para alimentar o seu crescimento. Contudo, quando a Microsoft foi para a bolsa, em 1986, também ninguém esperava dividendos nos anos seguintes, mas agora a maior casa de "software" do mundo paga bons dividendos.
"De 1871 a 2003, 97% da acumulação acima da inflação das acções [norte-americanas] veio do reinvestimento dos dividendos. Apenas 3% teve origem em ganhos de capital", estima Jeremy Siegel, professor da Universidade da Pensilvânia, no livro "The Future for Investors". A taxa de dividendos, que se obtém dividindo os dividendos por acção dos últimos 12 meses pela cotação do título, é o indicador mais usado na selecção de bons pagadores. Esta taxa (na terminologia britânica, "dividend yield") indica a rendibilidade anual do investimento nas acções à conta do recebimento dos dividendos, assumindo que a empresa mantém o fluxo de pagamentos nos próximos anos. Contudo, não é garantido que o sociedade pague os mesmos dividendos nos próximos exercícios, nem é garantido que pague um cêntimo, uma vez que não há qualquer obrigação legal para o fazer. Em Julho de 2004, a Microsoft fez um anúncio importante: além de ir pagar os oito cêntimos de dólar por acção, como tentava habituar os accionistas até então, iria distribuir três dólares adicionais. Ora, esse dividendo especial representava uma taxa de dividendo superior a 10%, o que os investidores não deveriam tomar como fosse provável de se repetir. Antes de mergulhar numa acção pela sua taxa de dividendo, convém verificar se a empresa que o distribuiu tem condições para continuar a fazê-lo.
5. Rendibilidade do capital próprio - Tripla medida A rendibilidade do capital próprio é um dos indicadores mais simples que se podem usar: basta retirar um elemento da demonstração de resultados, outro do balanço e dividir o primeiro pelo segundo. A RCP (em inglês, "return on equity" ou ROE) resulta da divisão do resultado líquido de um ano pelo capital próprio dos accionistas.
Para fazer cálculos mais actuais, o resultado líquido que normalmente se usa obtém-se da soma dos últimos quatro lucros trimestrais e o capital próprio é uma média ao longo desse ano. Isto quer dizer que o indicador diz quantos euros de lucro foram gerados no último ano por cada euro de capitais próprios, logo, quanto maior, melhor. Por exemplo, uma RCP de 20% indica que, ao longo dos últimos 12 meses, a empresa conseguiu produzir 20 euros de resultados líquidos a partir de cada 100 euro de capitais. É importante relembrar que o capital próprio não é mais do que a diferença contabilística entre o valor dos activos e das dívidas.
Embora seja apenas uma percentagem, a RCP tem um vasto poder, porque sintetiza a capacidade de receitas do negócio, a gestão dos activos e o endividamento. O número final reflecte como os administradores estão a equilibrar este três elementos - algo muito importante para os investidores. "A alocação do capital ao longo do tempo determina o valor dos accionistas. Decidir o que fazer com os resultados da empresa - reinvestir no negócio ou devolvê-los aos accionistas - é, na cabeça de Buffett, um exercício de lógica e racionalidade", conta Robert Hagstrom, no seu livro "Warren Buffett e as Estratégias de um Grande Investidor". A RCP reflecte exactamente se os administradores decidiram bem em reinvestir o dinheiro dos accionistas, em vez de o devolver.
A desvantagem do RCP quando se está a investir em acções está na falta de ligação directa ao mercado, isto é, o indicador não incorpora uma comparação ao preço de mercado, ao contrário das quatro medidas anteriores. É por isso que nunca deve ser usado isoladamente na selecção de títulos, embora faça parte de estratégias internacionalmente reconhecidas, como a "Hidden Gems" (o que pode ser traduzido em "Perólas Escondidas") dos norte-americanos da Motley Fool, uma sociedade de aconselhamento financeiro multimédia.