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Obrigações - Mercados emergentes são refúgio para a crise

As matérias-primas têm funcionado como porto seguro para a crise. Mas há outros refúgios. A suíça Pictet aconselha a dívida de países emergentes, em moeda local. Mary-Therese Barton, gestora de fundos, explica porquê.

17 de Março de 2008 às 12:48
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Com os níveis de aversão ao risco em alta, parece quase uma heresia dizer que os mercados emergentes podem ser um refúgio para a crise. A verdade é que tem sido assim nos últimos meses nas acções e, também, nas obrigações. E continuará a ser, segundo a gestora de fundos suíça Pictet.

Nos últimos seis meses, o índice de acções europeu DJ Stoxx 50 perde 19%, enquanto nos Estados Unidos o S&P500 perde 13,45%. No mesmo período, o índice MSCI Mercados Emergentes cai apenas 3,5%, e alguns países do Médio Oriente e da América Latina registam mesmo ganhos. Enquanto os fundos de obrigações em moeda local perdem, em média, 1,78%.

Há já quem fale num efeito de “decoupling”, que se traduz na capacidade destes países em manterem a sua dinâmica económica, indiferentes ao que se passa dos Estados Unidos e à ameaça que paira sobre as economias desenvolvidas. Esta “vida própria” é um dos motivos que leva a gestora de activos suíça Pictet a recomendar a aposta nas obrigações de países emergentes em moeda local.

Mary-Therese Barton, responsável pela gestão dos fundos desta classe na Pictet, assume que “não está surpreendida com o bom desempenho dos mercados emergentes”. Porquê? “Nos últimos anos assistimos a uma melhoria dos fundamentais económicos destes países, com o crescimento económico a ser sustentado pela dinâmica da procura interna”. Em suma, estão menos vulneráveis a uma queda nas exportações e, logo, à crise. 

O facto de estarem no início do desenvolvimento dos seus sistemas financeiros, também explica por que os mercados emergentes estão a ser menos afectados pela crise financeira. Além de que beneficiam do aumento da procura de matérias-primas e do seu elevado preço.

Retorno anualizado de 16,5%

Depois de muitos anos a emitirem obrigações em dólares, a melhoria das classificações de risco tem levado os governos a optar por dívida em moeda local. A Pictet prevê, por exemplo, que até ao fim de 2009 a dívida brasileira saia da classificação de “especulativa” para “investimento”.

Entre o início de 2001 e Janeiro de 2008, as obrigações de mercados emergentes em moeda local conseguiram um retorno anualizado de 16,59%, contra 6,42% das acções americanas. O que tem levado as gestoras de fundos a apostarem nesta nova classe de activos. A Pictet lançou, em 2006, um fundo global para os mercados emergentes. Além da casa suíça, também a Invesco, a Merrill Lynch e a Mellon comercializam um fundo desta classe em Portugal, todos denominados em euros.

Mas será que os mercados emergentes vão continuar “imunes” à crise? “Depende de quão profunda vai ser a recessão nos EUA”, responde a gestora de fundos da Pictet. Aconteça o que acontecer, Mary-Therese Barton não acredita que a crise afecte todos os países: “Não vamos assistir a um contágio generalizado. O impacto será diferente de país para país, em função das particularidades da sua economia”, acrescenta.

A gestora está particularmente optimista para os mercados emergentes da América Latina. “Estamos muito positivos para o Brasil, que não tem problemas de financiamento da economia, tem um governo de esquerda mas que está a adoptar políticas económicas ortodoxas, tem um excedente orçamental e as taxas de juro estão a descer”, afirma Mary-Therese Barton. A Pictet está, ainda, optimista para o Peru e o Chile.

E os retornos do passado vão manter-se?  A Pictet acredita que sim: “Temos elevados fluxos de dinheiro a serem canalizados para as obrigações de mercados emergentes em moeda local, apesar da turbulência nos mercados”, diz Mary-Therese Barton. Além de que espera que os governos comecem a deixar valorizar as moedas, para conter a inflação.

A Pictet considera que, a prazo, tal como aconteceu nas obrigações denominadas em dólares, os retornos vão cair para menos de 10%. Mas só quando esta se tornar uma classe de investimento corrente. O que, para Mary-Therese Barton, “demorará cinco anos a acontecer”.

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