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Construir uma carteira global

Depois de um ano marcado pelo surgimento daquela que deverá ser a maior crise económica desde a Segunda Guerra Mundial, 2009 chega rodeado de incerteza.

Construir uma carteira global
02 de Janeiro de 2009 às 10:00
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Depois de um ano marcado pelo surgimento daquela que deverá ser a maior crise económica desde a Segunda Guerra Mundial, 2009 chega rodeado de incerteza. Mas traz, também, a esperança de uma recuperação, o que justifica a aposta no mercado accionista pelos investidores menos avessos ao risco. O contexto aconselha prudência e a diversificação do investimento, construindo uma carteira global. Conheça os trunfos e fragilidades presentes em cada região.

Nos Estados Unidos, 2009 começa com a tomada de posse da nova administração, liderada por Barack Obama, apostada em inverter o ciclo de pessimismo económico que se vive no país. Apesar de a crise mundial ter começado no país, os EUA continuam a merecer a preferência dos especialistas. A UBS atribui um peso de mais de 50% a este país na sua carteira recomendada, constituída maioritariamente por acções. As obrigações do Tesouro e as obrigações empresariais norte-americanas recebem uma recomendação de "overweight" (exposição acima do índice de referência) enquanto as matérias-primas e o imobiliário devem perder peso na carteira. A Merrill Lynch acredita que Barack Obama vai apostar em fortes incentivos fiscais para relançar a economia e que o mercado deve olhar positivamente para essas medidas, necessárias para equilibrar as finanças das famílias numa altura de aumento do desemprego. A aposta da Merrill nos EUA vai para os sectores de engenharia e construção.



Os mercados emergentes, como a China e os países da Europa de Leste, não escaparam ilesos à crise económica mundial, tendo registado um forte abrandamento dos seus crescimentos económicos. O UBS diz, mesmo, ter ficado surpreendido com a severidade da inversão que se verificou nesses mercados, que também foram seriamente afectados pela falta de liquidez. Este banco tem uma recomendação "neutral" para estes países, optando por resistir à tentação de comprar apesar das quedas terem criado oportunidades potencialmente interessantes. A casa de investimento diz que mais do que optar por investir na região como um todo, os investidores devem apostar em países individuais com as escolhas a incidirem sobre o Brasil e a China. A Merrill Lynch é ainda mais específica e recomenda investir em empresas em vez de países, nestes mercados, com destaque para o sector do consumo uma vez que os governos destes países deverão usar transferências directas para as famílias como forma de animar a economia.


Não conseguiu escapar à crise mundial e também já entrou em recessão. Para os analistas da Merrill Lynch, este país representa uma oportunidade atractiva porque no seu mercado accionista as empresas financeiras têm um dos pesos mais baixos da Ásia e também por causa da apreciação do iene, que pode constituir uma fonte de rendimento extra para os investidores noutras moedas. Já a UBS tem uma posição "neutral" em relação ao mercado japonês, apesar de admitir que os activos neste país estão muito baratos depois do principal índice Topix ter caído para mínimos de 1984. No entanto, o UBS diz que não encontra nenhum catalisador para a recuperação do valor das acções no Japão. E lembra que, apesar do forte crescimento registado nas economias asiáticas, no Japão a recuperação macroeconómica foi muito breve e o país já entrou em recessão. O banco recomenda uma posição neutral em acções japonesas e "underweight" em dívida pública.


Na Europa, o Reino Unido é uma das economias que está a ser mais penalizada pela crise mundial, com o sector imobiliário a atravessar um dos piores períodos de sempre. Mas a desvalorização da libra, que caiu mais de 20% face ao euro e ao dólar desde o início do ano, pode dar um impulso às exportações deste país e ajudar à recuperação da economia.
A UBS diz que o Reino Unido merece a sua preferência face à Europa Continental, recebendo uma recomendação de "underweight" menos acentuada que esta região. E justifica a opção com o facto de o abrandamento económico britânico ter começado há mais tempo e as políticas de resposta à crise, implementadas pelo Governo, serem mais agressivas. Além disso, o banco refere que, apesar de tudo, os resultados apresentados pelas empresas do Reino Unido, têm sido melhores que os do resto da Europa. A casa de investimento recomenda não ter qualquer exposição ao sector imobiliário do Reino Unido, mas dá uma recomendação de "overweight" às obrigações empresariais em libras.


A incerteza marca as perspectivas para a Europa Continental. A região já entrou em recessão, as taxas de juros têm vindo a baixar mas, ainda estão acima das que são praticadas nos Estados Unidos e no Reino Unido, o que tem impedido a desvalorização do euro, penalizando as exportações da região. A posição dos especialistas em relação à Europa é de extrema cautela. A UBS diz que as perspectivas macroeconómicas e de resultados para 2009 são "horríveis" mas, por outro lado, as avaliações para as empresas estão atractivas. O JP Morgan prevê um dos abrandamentos mais severos de sempre nos lucros da empresas europeias, que deverá adiar a recuperação dos mercados accionistas. A esperança reside na adopção de medidas de alívio fiscal nas principais economias europeias, e de alívio monetário por parte do Banco Central Europeu, que deverá continuar a baixar a taxa de juro de referência. Ambas poderão dar novo alento à região.


Os mercados accionistas asiáticos viveram em 2008 o pior ano das últimas quatro décadas, com o índice da região a afundar-se mais de 55%. As estimativas apontam para um forte abrandamento económico e fracos resultados das empresas mas, ainda assim, o continente asiático deverá continuar a escapar (excluindo o Japão) ao cenário de recessão que se vive nas economias ocidentais. Os analistas do UBS dizem que a incerteza nos mercados accionistas prevalece, mas acreditam que 2009 vai ser melhor que 2008 e que os investidores já descontaram as más notícias na avaliação das empresas asiáticas. O ponto de inflexão na tendência das acções deverá ocorrer quando as condições do mercado de crédito começarem a voltar à normalidade e o crescimento económico mundial tocar no fundo.


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