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Subir juros para combater a inflação? "Não resolveria nenhum dos problemas atuais", diz Lagarde

A presidente do Banco Central Europeu considera que a economia da zona euro não está sobreaquecida como a dos Estados Unidos, o que justifica cautela na contração da política monetária.

Christine Lagarde tem em mãos a missão de manter os mercados calmos e ao mesmo tempo de começar a preparar terreno para retirar apoios.
Guillaume Horcajuelo/EPA
11 de Fevereiro de 2022 às 09:34
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A presidente do Banco Central Europeu (BCE) não quer arriscar comprometer a retoma da economia com subidas demasiado rápidas das taxas de juro. Em entrevista ao jornal alemão Redaktionsnetzwerk Deutschland (disponibilizada em inglês no site do BCE), Christine Lagarde defende que -- ao contrário dos Estados Unidos -- a economia da zona euro não está sobreaquecida, o que justifica cautela.

"Temos de compreender a fonte da subida dos preços", diz Lagarde, sublinhando que cerca de metade da aceleração da inflação é atribuível à energia (petróleo, gás e eletricidade), o que está em certa medida "fora da esfera de influência" das economias da moeda única. "O segundo principal fator são os constrangimentos na oferta" como a escassez de microchips ou limitações no transporte de mercadorias.

"Deixe-me perguntar, o que é que o BCE pode fazer em relação a isso? Podemos resolver os problemas na oferta? Podemos transportar contentores, baixar os preços do petróleo ou pacificar conflitos geoestratégicos? Não, não podemos fazer nada disso", sublinhou a líder da autoridade monetária europeia.

Confrontada com a possibilidade de subir as taxas de juro de referência do BCE (atualmente em mínimos históricos) para combater a inflação Lagarde rejeitou. "Isso não resolveriam nenhum dos nossos problemas atuais. Pelo contrário, se agíssemos de forma demasiado apressada agora, a recuperação das nossas economias poderia ser consideravelmente mais fraca e o mercado de trabalho poderia estar comprometido. Não ajudaria ninguém", defendeu.

Lagarde reforçou que a economia da zona euro não pode ser comparada com outras jurisdições, nomeadamente os Estados Unidos, onde a Reserva Federal está a preparar-se para começar a subir juros no próximo mês e deverá fazê-lo várias vezes ao longo do ano (o presidente Jerome Powell já admitiu que poderão mesmo ser sete). "A economia norte americana está sobreaquecida, enquanto a nossa economia está muito longe desse cenário. É por isso que podemos – e devemos – proceder com cautela", afirmou Lagarde.

Além da presidente do BCE, também o economista-chefe Philip Lane, se referiu ao assunto para refrear as expectativas de um avanço. Num post num blog, o antigo governador do banco central da Irlanda afirmou que a inflação na zona euro irá voltar ao caminho esperado pelo BCE sem a necessidade de significativa ação por parte da instituição já que os constrangimentos relacionados com a pandemia deverão devolver-se.

"Dado que os constrangimentos irão eventualmente resolver-se, as pressões nos preços deverão abater e a inflação regressar à tendência sem necessidade de ajustamento significativo na política monetária", diz Lane, reforçando que um aumento na taxa de juro poderia pôr em risco a recuperação económica. "Visto que a política monetária conduz a procura doméstica, uma contração monetária em reação a um choque externo significaria que a economia seria confrontada, simultaneamente, com dois choques adversos".
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