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Otimistas e poupados: China quer banca de investimento bem comportada

Para aumentar o otimismo e melhorar a imagem da banca e economia chinesas, os analistas devem cumprir as recomendações que chegam de cima. Expressar pessimismo sobre o mercado é proibido e conversas sobre salários devem ficar na esfera privada.

Centro financeiro de Xangai
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Trabalhar na banca de investimento é muitas vezes sinónimo de salários exorbitantes, mas essa é uma imagem que a China quer erradicar. Aos analistas do China International Capital Corp. chegou uma recomendação: devem evitar ostentações de riqueza. Em concreto, está fora de questão o uso de objetos de marcas de luxo e o valor do salário deve ser mantido em segredo.

Além de se deverem mostrar mais poupados, estão também proibidos de fazer análises pessimistas sobre a economia ou sobre o mercado chinês, tanto em discussões públicas como privadas. Em suma: não devem desviar-se da linha definida pelo Governo.

A orientação para o otimismo chegou no mês passado ao banco de investimento - o terceiro maior do país - através de um comunicado interno enviado para o departamento de análise, a que as agências Bloomberg e Reuters tiveram acesso.

As recomendações do China International Capital Corp. estendem-se ainda às famílias dos analistas, que devem "garantir que os seus familiares aderem a padrões sociais e éticos", aponta a Reuters.

As autoridades têm aumentado o escrutínio sobre as instituições financeiras e estão particularmente atentas à questão de imagem, tendo já, no início do ano, criticado as elites financeiras por serem "hedonistas" e terem "estilos de vida de luxo". O objetivo deve ser, defendem, alinharem-se com o mote da "prosperidade comum" definido pelo Presidente Xi Jinping.

Desde o início de 2022 que os bancos chineses têm vindo a alertar os seus funcionários para a importância de serem contidos na exibição de riqueza, dizendo-lhes que devem deixar as fotografias de jantares ou férias luxuosas fora das redes sociais.

E não é só uma questão de imagem. as instituições tiveram mesmo de reduzir os salários e benefícios dos banqueiros de investimento, incluindo dos orçamentos para viagens e entretenimento. Em abril, a Reuters noticiou que o China International Capital Corp. fez cortes até 40% nos bónus dos banqueiros.

Tento na língua e otimismo nos lábios

O comunicado do banco alerta também para a necessidade de cuidados redobrados ao falar com clientes fora da China, de modo a evitar riscos de segurança nacional, e na escolha de especialistas para conferências.

A Bloomberg lembra que o China International Capital Corp. não é a única instituição a tentar disciplinar os seus analistas. Pelo menos dois outros bancos de investimento deram orientações verbais no último ano, no sentido de impedirem comentários negativos sobre a economia chinesa ou sobre os seus avantajados recibos de vencimento.

Citando fontes que pediram anonimato, a Bloomberg dá o exemplo de uma corretora de Shenzhen que instruiu os seus economistas no sentido de evitarem falar de deflação ou sobre a taxa de câmbio do renmimbi.
 
Em resultado deste ambiente, é cada vez mais difícil encontrar oradores para conferências que sejam honestos nas suas avaliações sobre o mercado chinês.

Estas recomendações surgem num contexto de tentativa de acalmar os investidores estrangeiros, que continuam hesitantes em relação à economia chinesa, cujo desempenho tem piorado. O problema é que as tentativas de melhoria de imagem vêm acompanhadas de uma diminuição da transparência que, por sua vez, ainda afasta mais os investidores globais.

Xi Jinping tem dito que quer atrair mais capital estrangeiro, mas, ao mesmo tempo, limita o acesso a estatísticas e relatórios económicos, e recomenda tento na língua aos especialistas que poderiam ajudar os gestores de fundos a tomar decisões sobre os seus investimentos na China.
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