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O dia em que a Fed a duas vozes baralhou os mercados

Era esperado que Janet Yellen quebrasse o silêncio de dois meses e trouxesse mais sinais sobre o ritmo do aumento dos juros nos EUA e as suas palavras em Jackson Hole acabaram por descansar os investidores. Já as declarações do vice da Fed trouxeram de novo receios sobre uma subida rápida das taxas.

Bloomberg
26 de Agosto de 2016 às 21:07
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A expectativa para conhecer as palavras de Janet Yellen na reunião de banqueiros centrais em Jackson Hole, EUA, era grande. Os investidores esperavam que a presidente da Reserva Federal trouxesse sinais sobre o ritmo de subida de juros na maior economia do mundo e a intervenção de Yellen foi ponderada quanto baste para sossegar os mercados.


Numa longa intervenção, a presidente da Fed reconheceu que os sinais mais recentes dão conta da melhoria da economia em vários vectores, dando força a um novo aumento de juros em breve (depois de em Dezembro do ano passado ter feito o primeiro incremento em mais de nove anos, para a banda entre os 0,25% e os 0,5%). Mas sempre condicionado a um acompanhamento dos novos dados que fossem saindo.


"De facto, à luz do desempenho sólido e contínuo do mercado laboral e da nossa previsão para a actividade económica e para a inflação, acredito que o cenário de um aumento na taxa de referência reforçou-se nos últimos meses", disse. Mas fez questão de salientar, na primeira vez que se pronuncia publicamente depois de dois meses de silêncio, que "a decisão dependerá sempre do grau em que esses dados continuem a confirmar as previsões do comité" de política monetária.

Ganhos reforçados...

Os principais índices de Wall Street - que vinham positivos desde que tinha sido conhecida a ligeira revisão em baixa dos dados do PIB do segundo trimestre - intensificaram os ganhos de início de sessão logo que foram conhecidos os primeiros excertos da intervenção que Yellen tinha preparado para o evento, com os investidores a acreditarem numa posição mais cautelosa da Reserva.

O Nasdaq experimentou as maiores valorizações (chegou a ganhar 0,79%), seguido de perto pelo S&P 500, num comportamento que contagiou também a Europa que até aí experimentava a quarta sessão no vermelho. No mercado cambial o dólar reagiu em queda, perdendo 0,44% para os 0,882 euros – na perspectiva de que a manutenção de juros baixos penalize o retorno de investimento em dólares -, favorecendo o petróleo (denominado na nota verde), que chegou a disparar 2%. Na frente da dívida soberana as obrigações a dez anos chegaram a recuar 4,4 pontos base para 1,52%.

"Os mercados já esperavam algum ruído em relação a possíveis subidas de juros, nomeadamente em Setembro, mas parece que a presidente da Fed está a ser cautelosa. (…) O cenário de aumentar taxas tem-se vindo a reforçar nos últimos anos, por isso não nos diz muito," afirmava à Reuters o analista da ETX Capital, Neil Wilson, depois da reacção positiva das bolsas.

... e mais declarações da Fed

Mas a leitura não duraria muito a perder actualidade. Depois de já as actas da última reunião da Reserva Federal terem denotado uma divisão entre os membros do comité de política monetária quanto ao ritmo de aumento dos juros, as declarações de Stanley Fischer – vice-presidente da Reserva -, poucos minutos após Yellen ter falado, voltaram a ressuscitar dúvidas.

Quando questionado em entrevista à estação de televisão CNBC sobre os investidores poderiam esperar um aumento de juros por parte da Fed na reunião de 20 e 21 Setembro, e se havia possibilidade de duas subidas este ano, Fischer respondeu: "Penso que o que [Yellen] disse hoje foi consistente com a resposta afirmativa a ambas as suas questões, mas estas não são coisas que saibamos até vermos os dados."

A postura mais agressiva do vice-presidente – que reconheceu a possibilidade de não uma mas até duas subidas, quando Yellen evitou falar no assunto, - teve efeito imediato nos mercados. O dólar disparou quase 1% e os juros da dívida a 10 anos agravaram 6 pontos base, para máximos que comparam com o valor de fecho mais elevado em dois meses, nos 1,63%. 

Os três índices de referência na bolsa de Nova Iorque recuperaram também o perfil negativo da semana, com os investidores mais avessos ao risco e com o investimento penalizado pela apreciação da nota verde e pela expectativa de financiamento mais caro. A maior queda coube ao Dow Jones – o índice industrial caiu 0,61%, quanto tinha chegado a valorizar 0,61%. As declarações não chegaram a beliscar a Europa, que manteve a trajectória positiva nas bolsas.

Apostas para Setembro crescem

"Setembro está vivo," afirmou à Bloomberg a analista Priya Misra, da TD Securities. "Este teria provavelmente sido o tempo de dizer" que a relação entre o mercado de trabalho e a inflação "é tenue – o baixo desemprego não teve efeito na inflação. (…) Mas ainda há crentes," acrescentou.

Já da manhã vinham notícias que davam conta, mesmo entre os analistas, da crença de que a reunião de Setembro trará aumento de juros – a probabilidade dos que foram sondados pela Bloomberg aponta para 32%, um valor que é o dobro do esperado há duas semanas e também uma percentagem próxima da estimada pela Moody’s, que além disso aponta para 55% de chance de um aumento acontecer em Dezembro.

Depois das declarações de Fischer, as bolsas norte-americanas estiveram na segunda metade da sessão quase sempre a experimentar perdas e encerraram mistas: no caso do S&P 500 (caiu 0,16% para 2.169,04 pontos) e do Dow Jones (-0,29% para 18.395,40 pontos) a segunda semana consecutiva de desvalorizações. Já o tecnológico Nasdaq somou 0,13% para 5.218,92 pontos. 

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