(repete notícia publicada a 1 de Outubro)

O "spin off" da PT Multimedia (PTM) está a aproximar-se e aumenta a incerteza relativamente ao comportamento das acções da dona da TV Cabo após o processo de cisão da Portugal Telecom (PT). Apesar da evolução das acções na era pós "spin off" ser uma incógnita, os operadores de mercado e os analistas não estão muito confiantes e esperam uma forte pressão de venda quando os milhares de accionistas da Portugal Telecom receberem acções da Multimedia. Para precaver uma eventual erosão do valor da carteira, alguns analistas estão a recomendar aos seus clientes que façam um "short selling" das acções da PTM ainda antes da cisão, com o objectivo de evitar perdas futuras.

É o caso do Millennium bcp investimento que numa nota publicada na sexta-feira aconselhava aos seus clientes a adopção desta estratégia de investimento. Diz que em relação à PT Multimedia, "acreditamos que o ‘spin off’ vai ser uma fonte de pressão para a acção, já que pensamos que a sua cotação não cabe na estratégia de uma grande parte dos accionistas com posições relevantes na PT". Por isso, o analista Nuno Vieira recomenda "fazer o ‘short selling’ da PTM antes do ‘spin off’, na quantidade de acções que vão ser recebidas, com o objectivo de fazer o ‘hedging’ ou a cobertura do risco das acções da PTM".

O "short selling", venda curta ou a descoberto são termos financeiros para designar uma estratégia de investimento que permite aos investidores vender títulos antes de os ter comprado (ou recebido no caso do "spin off"), com o objectivo de obter mais-valias com a desvalorização de determinado título. Esta é uma estratégia que não é isenta de risco e, como tal, não deve ser adoptada pelos investidores menos familiarizados com o mercado de capitais. Para que esta estratégia resulte, é fundamental que a expectativa de evolução dos preços (queda das acções da PTM depois do ‘spin off’) seja acertada, caso contrário, o aforrador poderá incorrer em perdas.

O Jornal de Negócios dá um exemplo de como poderá ganhar dinheiro se está confiante na queda das acções da PTM. A simulação (ver infografia) utiliza o exemplo de uma carteira de investimento inicial de 1.000 acções da PT, mas a análise poderá ser feita com base noutras quantidades. Neste exemplo, não foram consideradas variáveis (que mudam de investidor para investidor) importantes e que podem ter um impacto no resultado final da estratégia. Foram ignorados os custos de corretagem, os juros que são pagos pelo empréstimo das acções na operação de "short selling" e é assumida a hipótese de que as acções da PT são mantidas em carteira ao longo do período de execução da estratégia. Para que esta resulte é essencial que a expectativa de descida das acções da PTM se concretize.

Na nota emitida na sexta-feira, o Millennium também antecipa um mau comportamento das acções, não só pela eventual pressão de venda exercida pelos actuais accionistas da PT, mas também porque continua a "acreditar que a PT Multimedia é uma acção cara, transaccionando claramente acima da nossa avaliação".

Outros operadores de mercado traçam o mesmo destino para as acções da Multimedia. Pedro Santos, operador do Millennium bcp, disse à Bloomberg que "existem algumas pessoas com acções das duas empresas, que estão agora a vender a PTM porque sabem que vão receber mais no ‘spin off’". Um "trader" de um banco português disse à Thomson Financial News que "muitos investidores acreditam que em termos fundamentais, a acção está cara. Logo se todos os accionistas da PT receberem acções da PT Multimédia, os investidores estão à espera que muitas acções sejam vendidas, o que poderá inundar o mercado. Basicamente, toda a gente está à espera que a acção caia depois do ‘spin-off’". Um operador disse à Reuters que "alguns investidores poderão estar a considerar que vão ficar com mais acções do que pretendem após o ‘spin off’ da PT e por isso estão a reduzir exposição".

O comportamento em bolsa das acções da PTM ao longo da semana passada é sintomático do nervosismo em torno das acções. De segunda-feira a quinta-feira, os títulos sofreram uma perda de 17%, mas no final da semana inverteram a tendência e fecharam com valorização de 6,21% para os 10,44 euros.

O "spin off", agendado para a semana de 29 de Outubro, prevê a entrega de 0,16 acções da PTM por cada acção detida na PT. O factor de distribuição será aumentado na proporção do número de acções próprias que a PT tiver em carteira na data da publicação do anúncio dos termos finais do "spin off". No âmbito do "share buyback", a PT já procedeu à compra de 9,13% do seu capital, o que coloca este factor de distribuição nos 0,17607 títulos.