Notícia
Cinco respostas sobre as eleições na Polónia
A Polónia vai a votos este domingo para escolher um novo parlamento. Saiba o que está em jogo nestas eleições, em que contexto os polacos vão às urnas, quem lidera as sondagens e que impactos podem ter os resultados. Em particular nas cotadas portuguesas.
A Polónia vai eleger um novo parlamento este domingo, dia 25 de Outubro. Entre as sete horas da manhã e as 21 horas locais (mais uma hora do que em Lisboa) os eleitores polacos vão escolher os 460 deputados na Câmara Baixa (Sejm) e os 100 representantes do Senado. As sondagens indicam uma vitória do partido de direita conservadora Lei e Justiça, que poderá substituir o partido de centro-direita Plataforma Cívica, no poder desde 2007. Conheça cinco respostas sobre estas eleições.
1. Quem são os principais candidatos?
Todas as sondagens indicam que as eleições irão ditar a vitória do maior partido da oposição, o Lei e Justiça (PiS). Na primeira eleição polaca em que os dois favoritos à vitória são mulheres, uma média das últimas sete sondagens compilada pela Bloomberg atribuía 36% dos votos à candidata Beata Szydlo, enquanto o partido da primeira-ministra, Ewa Kopacz, se ficava pelos 22%.O PiS é um partido de direita conservadora, que defende uma visão nacionalista e identitária e o respeito pelos valores tradicionais católicos. Na economia, defende maior intervenção do Estado, mais impostos para a banca e grandes retalhistas e o apoio por parte do Estado às famílias e pequenas empresas, algo que tem atraído muitos polacos descontentes. No poder desde 2007, o partido de centro direita Plataforma Cívica (PO) tem como bandeiras de campanha a redução do défice em 1%, redução dos impostos para os pobres e combate ao trabalho precário.
2. Como se enquadram estes partidos na Europa?
Ao contrário da Plataforma Cívica (PO), que pertence à família do Partido Popular Europeu (PPE) - onde se enquadram o PSD e CDS-PP – e que tem alinhado com as principais decisões europeias, o PiS poderá entrar em conflito com as instituições da UE. O partido nacionalista e eurocéptico – que pertence aos Reformistas e Conservadores Europeus, onde se integra o partido de David Cameron – assumiu uma posição profundamente contrária à adopção de quotas para a recepção de refugiados pela Polónia. Já a PO, que chegou a votar contra o plano da Comissão Europeia para a distribuição de refugiados, aceitou cumprir a quota desde que a mesma não seja compulsória. Contudo, Varsóvia tem sido das capitais mais reticentes a acompanhar as políticas da Comissão direccionadas a enfrentar o drama dos refugiados. A adesão polaca ao euro também parece cada vez menos uma prioridade para a PO.
A perspectiva do PiS sobre o investimento estrangeiro no país, particularmente na banca, onde defende a recuperação do capital para a Polónia e a aplicação de novos impostos, poderá ser também um problema na Europa.
3. Como está a economia polaca?
O vencedor das eleições de domingo será aquele que melhor capitalizar o descontentamento de uma população que não viu reflectido, na sua qualidade de vida, o "milagre" económico polaco no pós-comunismo. Com um produto interno bruto (PIB) de 413 mil milhões de euros em 2014, a economia polaca cresceu 24% durante os últimos oito anos, um ritmo muito superior à média da União Europeia. O défice representa 3,3% do PIB e a dívida pública está nos 50,4%. Mas, apesar deste aparente sucesso económico, cada trabalhador polaco ganha em média menos 30% do que um alemão. E a taxa de desemprego jovem é de 24%, bem acima dos 9% globais.
- 4. Como pode agitar os mercados?
As promessas eleitorais do PiS suscitaram a preocupação junto dos investidores relativamente à manutenção da disciplina orçamental. O maior impacto nos mercados parece situar-se no mercado cambial. Apesar de avançar quase 0,8% este ano, na semana antes das eleições, o zloty foi a moeda que mais recuou nos mercados emergentes, desvalorizando 0,4% para 0,23513 euros. Uma tendência que deverá acentuar-se caso seja aplicado o programa de estímulos à economia defendido pelo PiS, frisa Ipek Ozkardeskaya, analista no London Capital Group.
No mercado accionista, a aplicação de um novo imposto sobre a banca e as grandes retalhistas poderá penalizar estes sectores. Mas, "o impacto já deverá está reflectido nas acções, especialmente porque as sondagens são claras", diz Michal Sobolewski. E alguns sectores poderão mesmo beneficiar no médio prazo com o programa de estímulos à economia, acrescenta o analista do banco BOSSA.
5. Como é que estas eleições podem tramar as empresas portuguesas?
O PiS quer implementar um novo imposto sobre a banca e grandes retalhistas, que abrange o Bank Millenium, o banco do BCP na Polónia, e a Biedronka, a cadeia de supermercados da Jerónimo Martins. Uma taxa sobre os activos pode representar até 35% dos lucros do Millennium, calcula o analista Michal Konarski, do Dom Maklerski Mbanku. Seria mais um encargo para o BCP, a acrescentar à factura da conversão dos créditos à habitação denominados em francos suíços para zloty, que deverá avançar independentemente do partido vencedor, estando os contornos ainda por definir.
A Jerónimo Martins estaria sujeita a um novo imposto de 2% sobre as receitas da Biedronka, cujos custos poderá, contudo, tentar transferir para os clientes finais, aumentando os preços. O imposto procura proteger o pequeno retalho, beneficiando por isso outra operadora detida por portugueses, a Eurocash. "Se os objectivos da lei forem os anunciados, deverá beneficiar os nossos clientes, logo deverá beneficiar a Eurocash", diz Luís Amaral, CEO do grupo grossista.
A Mota-Engil, que é uma das dez maiores construtoras na Polónia, operando principalmente no sector ferroviário, ganhou recentemente o primeiro contrato de ferrovia, um sector em que se estima que o país invista um total de 12 mil milhões de euros. Apesar de não estar directamente exposta a nenhuma destas questões concretas, a construtora pode sofrer o impacto da desvalorização do zloty, uma ameaça para as três empresas.
Plataforma Cívica
Redução do défice em 1%
– Defender a liberdade de mercado e manter o rumo até aqui seguido. Definir um valor mínimo por hora trabalhada. O PiS quer que o valor seja de 12 zlotys por hora, a PO pretende que seja superior. Auto-imposição de um limite da despesa para reduzir o défice estrutural do país para 1% do PIB no espaço de quatro anos.
Menos impostos para os pobres
– Reforma dos impostos sobre os rendimentos e também da Segurança Social (SS), com impostos pessoais unificados progressivos, entre 10% para as famílias mais pobres e 39,5% para as mais abastadas. Esta medida, a aplicar até 2017-2018, reduziria a carga fiscal sobre os contribuintes. Este novo sistema fiscal teria um impacto no orçamento de 10 mil milhões de zlotys (cerca de 2,3 mil milhões de euros).
Combate ao trabalho precário
– Combate aos contratos de trabalho temporários. Defende que apesar de os contratos temporários permitirem auferir salários mais elevados,
não permitem gerar contribuições para a SS.
Lei e Justiça
Mais intervenção na Economia
– Papel mais interventivo do Estado na economia e promete fazê-la crescer 5% ao ano, mantendo o défice orçamental abaixo dos 3% do PIB. Elevar o investimento público em 2,3% do PIB, incrementando os abonos às famílias numerosas e mais pobres. Papel mais activo do banco central, à imagem do que fez o Banco de Inglaterra: reforço da capitalização da banca comercial para que esta possa apoiar o tecido económico de forma mais efectiva.
Impostos sobre banca e retalho
– Aumento sectorial dos impostos, nomeadamente sobre os bancos e as grandes retalhistas, que na maioria são detidos por capital estrangeiro. Em paralelo, reduzir a carga fiscal às pequenas empresas. Combater a fraude fiscal e reformar o Fisco polaco.
Redução da idade da reforma
– Reversão do aumento da idade de reforma para os 67 anos. Também se comprometeu em garantir medicamentos grátis para pessoas com mais de 75 anos de idade.