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PiS obtém vitória histórica nas eleições polacas (act)
Partido de direita conservadora conseguiu maioria absoluta nas eleições legislativas polacas. O PiS quer implementar já em 2016 um novo imposto sobre a banca e supermercados, o que pode penalizar o BCP e a Jerónimo Martins.
O Lei e Justiça (PiS), partido de direita conservadora, obteve um resultado histórico nas eleições legislativas na Polónia, ao conseguir a maioria dos lugares no Parlamento, afastando do poder o partido que governava o País desde 2007.
De acordo com uma sondagem à boca das urnas efectuada pela Ipsos, o PiS obteve 39,1% dos votos, que lhe garante 242 dos 460 deputados na Câmara Baixa (Sejm). O partido de centro-direita Plataforma Cívica ficou-se pelos 23,4% (133 lugares no parlamento), sendo que a líder do partido e actual primeira-ministra já reconheceu a derrota, pedindo que se "recorde os últimos oito anos, que não foram perdidos".
O PiS já seguia à frente nas sondagens, mas a margem da vitória acaba por surpreender, já que eleição que fica marcada pela primeira maioria absoluta de um só partido desde a reintrodução da democracia na Polónia em 1989.
Imposto sobre a banca e retalho avança já em 2016
O partido liderado por Jaroslaw Kaczynski defendeu durante a campanha uma maior intervenção do Estado na economia e uma posição contrária à política de acolhimento de refugiados na Europa. Beata Szydlo (na foto), antropóloga de 52 anos, é a candidata do partido para o cargo de primeiro-ministro.
Entre as medidas defendidas pelo PiS está uma que poderá afectar de forma adversa as companhias portuguesas com forte presença na Polónia. O até aqui maior partido da oposição quer implementar um novo imposto sobre a banca e grandes retalhistas, que abrange o Bank Millenium, o banco do BCP na Polónia, e a Biedronka, a cadeia de supermercados da Jerónimo Martins.
Zbigniew Kuzmiukk, responsável pelos assuntos económicos do PiS, afirmou já que vai ser implementada uma taxa de 0,39% sobre os activos do sector financeiro a partir de 2016. E também sobre os supermercados.
"Queremos, provavelmente já a partir de Janeiro de 2016, introduzir dois impostos que são importantes para nós: uma taxa de 0,39% sobre os activos da banca e uma taxa sobre os supermercados", disse Kuzmiukk, citado pela Reuters.
Uma taxa sobre os activos pode representar até 35% dos lucros do Millennium, calcula o analista Michal Konarski, do Dom Maklerski Mbanku. A confirmar-se, será mais um encargo para o BCP, a acrescentar à factura da conversão dos créditos à habitação denominados em francos suíços para zloty, que deverá avançar independentemente do partido vencedor, estando os contornos ainda por definir.
A Jerónimo Martins estará sujeita a um novo imposto de 2% sobre as receitas da Biedronka, cujos custos poderá, contudo, tentar transferir para os clientes finais, aumentando os preços. O imposto procura proteger o pequeno retalho, beneficiando por isso outra operadora detida por portugueses, a Eurocash. "Se os objectivos da lei forem os anunciados, deverá beneficiar os nossos clientes, logo deverá beneficiar a Eurocash", diz Luís Amaral, CEO do grupo grossista.
Défice abaixo de 3%
Kuzmiukk, que ajudou o PiS a delinear as principais linhas económicas do programa do partido, revelou este domingo que uma das principais decisões do próximo governo passará por aprovar alterações ao orçamento para o próximo ano, sendo que a "meta para o défice orçamental continuará abaixo dos 3%".
Durante a campanha o PiS avançou com uma proposta de um programa de estímulos à economia, baseado sobretudo num programa de financiamento a seis anos a lançar pelo banco central no valor de 350 mil milhões de zlotys, o que equivale a 20% do PIB do país.
As promessas eleitorais do PiS suscitaram a preocupação junto dos investidores relativamente à manutenção da disciplina orçamental. O maior impacto nos mercados parece situar-se no mercado cambial. Apesar de avançar quase 0,8% este ano, na semana antes das eleições, o zloty foi a moeda que mais recuou nos mercados emergentes, desvalorizando 0,4% para 0,23513 euros. Uma tendência que deverá acentuar-se caso seja aplicado o programa de estímulos à economia defendido pelo PiS, frisa Ipek Ozkardeskaya, analista no London Capital Group.
No mercado accionista, a aplicação de um novo imposto sobre a banca e as grandes retalhistas poderá penalizar estes sectores. Mas, "o impacto já deverá está reflectido nas acções, especialmente porque as sondagens são claras", diz Michal Sobolewski. E alguns sectores poderão mesmo beneficiar no médio prazo com o programa de estímulos à economia, acrescenta o analista do banco BOSSA.
Partido eurocéptico e contra acolhimento de refugiados
O PiS destacou-se também pela posição contrária às instituições da UE. O partido nacionalista e eurocéptico – que pertence aos Reformistas e Conservadores Europeus, onde se integra o partido de David Cameron – assumiu uma posição profundamente contrária à adopção de quotas para a recepção de refugiados pela Polónia.
Jaroslaw Kaczynski é irmão gémeo do antigo presidente Kaczynski. Este domingo, no discurso de declaração de vitória, fez um tributo ao seu irmão gémeo, o antigo presidente Lech Kaczynski, que morreu em 2010 num acidente de aviação em Smolensk, Rússia.
"Sem ele não estaríamos hoje aqui. O seu espírito é mais forte que o seu corpo. Temos de manter a sua memória viva", disse, citado pela Lusa, recordando aqueles que também faleceram no mesmo acidente.
Ewa Kopacz, a primeira-ministra derrotada nas eleições, lembro que "a Polónia é um país que registou um progresso económico, uma taxa de desemprego reduzida a um dígito. Esta é a Polónia que deixamos aos vencedores das eleições".
Nos oito anos em que governou a Polónia, a economia do país registou um crescimento de 24%, a mais forte entre todos os países da União Europeia.
Mais intervenção na Economia
– Papel mais interventivo do Estado na economia e promete fazê-la crescer 5% ao ano, mantendo o défice orçamental abaixo dos 3% do PIB. Elevar o investimento público em 2,3% do PIB, incrementando os abonos às famílias numerosas e mais pobres. Papel mais activo do banco central, à imagem do que fez o Banco de Inglaterra: reforço da capitalização da banca comercial para que esta possa apoiar o tecido económico de forma mais efectiva.
Impostos sobre banca e retalho
– Aumento sectorial dos impostos, nomeadamente sobre os bancos e as grandes retalhistas, que na maioria são detidos por capital estrangeiro. Em paralelo, reduzir a carga fiscal às pequenas empresas. Combater a fraude fiscal e reformar o Fisco polaco.
Redução da idade da reforma
– Reversão do aumento da idade de reforma para os 67 anos. Também se comprometeu em garantir medicamentos grátis para pessoas com mais de 75 anos de idade.
(notícia actualizada pela última vez às 23h20)