Notícia
Bolsa italiana desce quase 2% e juros disparam para máximos de 2015
Os receios em torno do futuro governo italiano e do seu programa político estão a provocar turbulência nos mercados, com os bancos italianos a deslizarem mais de 2% e os juros da dívida a subirem para máximos de quase três anos.
O entendimento entre o 5 Estrelas e a Liga para a formação de um governo de coligação em Itália não parece ter afastado os receios dos investidores em relação à terceira maior economia do euro.
Esta quarta-feira, a bolsa de Milão está a liderar as descidas na Europa, penalizada sobretudo pelas cotadas do sector financeiro. O principal índice italiano, o FTSE MIB, cai 1,75% para 22.810,68 pontos, depois de já ter desvalorizado um máximo de 1,88% para 22.779,81 pontos, o valor mais baixo desde 5 de Abril.
A banca é o sector mais castigado, com o Banco BPM a cair 2,67%, o Unicredit a deslizar 2,58% e o UBI Banca a descer 2,31%. Também o Monte dei Paschi recua 1,32%, numa altura em que a instituição está novamente debaixo dos holofotes, depois de as duas forças políticas terem escrito no seu programa de governo que "redefinirão as missões e objectivos" do banco.
Além disso, os populistas anunciaram que vão revogar as leis que permitem aos bancos recuperarem dívidas dos cidadãos italianos sem aprovação judicial.
O programa dos dois partidos anti-sistema está a motivar receios de que seja desencadeada uma crise no país, que se debate com um enorme montante de crédito malparado no seu sistema financeiro e o segundo nível de endividamento mais elevado da Zona Euro.
"A Zona Euro está a ser ameaçada por uma nova crise", afirmou esta quarta-feira Clemens Fuest, presidente do Instituto Ifo, à Deutsche Presse-Agentur.
Esses receios estão a reflectir-se também na negociação da dívida de Itália, com os juros a dez anos a tocarem no nível mais alto em quase três anos. Nesta altura, a yield associada às obrigações a dez anos dispara 7,7 pontos para 2,405%, depois de já ter tocado nos 2,430%, o valor mais alto desde 29 de Junho de 2015.
A Bloomberg destaca que, depois das longas e difíceis negociações em Itália, agora vem a parte difícil, e a que está a motivar os maiores receios: a implementação.
As duas forças políticas prometeram implementar um pacote de medidas que alguns acreditam que custará 100 mil milhões de euros por ano.
Implementar estas medidas – que incluem corte de impostos, revisão da lei das pensões e mais apoios sociais – e cumprir, ao mesmo tempo, as regras europeias, é uma missão que já levantou dúvidas aos parceiros europeus, à Fitch e aos investidores.
"As regras são as regras", afirmou Lorenzo Codogno, antigo economista-chefe do ministério das Finanças em declarações à Bloomberg. "Temos um quadro orçamental em Itália incorporado na Constituição e temos o quadro europeu - então é preciso respeitar o que está em vigor agora, talvez alterá-lo no futuro, mas não agora".
"Sabemos que não há cobertura financeira para todas as promessas constantes no programa de governo", afirmou Nathalie Tocci, directora do Istituto Affari Internazionali, citada pela agência noticiosa.