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BdP vai disponibilizar aos bancos serviço de transferências através do número de telemóvel
O Banco de Portugal vai dar aos bancos uma funcionalidade que permita transferências apenas através do uso do número de telemóvel, bem como saber o nome do recetor.
A partir do final do primeiro trimestre do 2024 será possível confirmar o nome da pessoa para quem se pretende realizar uma transferência bancária ou um débito direto a partir do número de telemóvel. Será também possível realizar transferências a crédito ou imediatas apenas através do número de telemóvel, à semelhança do que já acontece com o MBWAY e sem ser necessário o IBAN, ou do NIPC (número de identificação de pessoa coletiva).
Ambos os serviços, o primeiro denominado de "confirmação do beneficiário" e o segundo, para já, de "proxy lookup", como informou em conferência de imprensa o administrador do Banco de Portugal Hélder Rosalino, fazem parte da estratégia nacional para os pagamentos de retalho 2025.
No início da conferência de imprensa os responsáveis pela área de pagamentos do BdP fizeram questão de frisar o combate à fraude e às burlas como um dos pontos principais da estratégia.
Esta nova estratégia, explicaram, advém de resultados de um inquérito que indica que mais de 20% dos portugueses indica já ter sido vítima de fraude com pagamentos, sendo que em mais de 40% dos casos os fundos foram totalmente perdidos. De igual modo, a segurança é o fator mais valorizado dos portugueses na escolha dos instrumentos de pagamento que vão utilizar.
Um meio de pagamento eletrónico por estabelecimento comercial volta a ser objetivo para 2025
Na primeira estratégia para os pagamentos, que vigorou entre 2020 e 2022, o Banco de Portugal tinha revelado a intenção de obrigar as empresas a aceitar pelo menos um meio de pagamento eletrónico, como cartões. Mas não tendo autoridade para legislar, a medida acabou por não se concretizar.
No plano para 2025 esta hipótese volta a estar em cima da mesa. "Houve um desejo, mas isso não se transformou em realidade", explicou Hélder Rosalino, que tem o pelouro dos pagamentos dentro do Banco de Portugal, que considerou que o plano para 2022 ficou cumprido, porque o supervisor colocou o assunto em cima da mesa e "iniciou uma reflexão".
Com conversações a decorrerem entre o Banco de Portugal e o Ministério das Finanças, terá agora de ser feita uma "análise de impacto e soluções concretas para o regime que preveja essa obrigatoriedade", completou Tereza Cavaco, diretora do departamento de sistemas de pagamentos do BdP.
De igual modo, "têm de ser consagradas exceções e há questões que têm de ser acauteladas, como as comissões", explicou Teresa Cavaco. É essencial um negócio na baixa lisboeta providenciar esse serviço, mas numa aldeia no interior talvez não haja tanta necessidade, foi um dos exemplos dados pelo administrador do Banco de Portugal.
A estratégia, elaborada pelo Fórum para os Sistemas de Pagamentos (FSP), a estrutura consultiva do Banco de Portugal que reúne os principais intervenientes nacionais na oferta e na procura de serviços de pagamento de retalho, tem quatro principais vetores de desenvolvimento. São eles "proximidade e transparência", "inovação e eficiência", "segurança e usabilidade" e "resiliência e sustentabilidade".
Entre as propostas anunciadas está também o fim da cobrança por transferências imediatas; implementar soluções de "request-to-pay" nas transferências; soluções de pagamento "tap-to-phone"; "estudar as implicações da criação do padrão harmonizado europeu de 'QRcodes' para transferências imediatas nos pontos de interação com o cliente" e "apoiar a implementação do euro digital, caso o Euro sistema decida avançar para a sua emissão", pode ler-se na estratégia hoje anunciada.
Projeto PAY vai monitorizar pagamentos em Portugal
Uma das iniciativas apresentada foi o projeto PAY, que pretende monitorizar "quase em tempo real" o comportamento da economia e do turismo. "No fundo queremos caracterizar quem paga e como paga", afirmou a diretora do departamento de sistemas de pagamentos do BdP.
Como resultado, o supervisor da banca nacional espera ter, em 2025, uma base de dados sobre os pagamentos realizados em Portugal.
13% dos portugueses indica já ter detido ou deter criptoativos ou "stablecoins"
No inquérito do Banco de Portugal realizado entre 2018 e 2023 e que serviu de base para esta nova estratégia, como indicou Hugo Mira, diretor adjunto do departamento de sistemas de pagamento do BdP, constata-se que 13% dos portugueses já deteve ou detém criptoativos, sendo que quase 11% afirma que um dos motivos foi para efeituar pagamentos.
Os dados conhecidos mostram também uma tendência de maior digitalização, impulsionada pela pandemia de covid-19, e, por isso, menor uso de dinheiro físico. Ainda assim, 52% dos pagamentos de retalho são realizados com notas e moedas, menos 18 pontos percentuais do que em 2017.
Ao mesmo tempo, os pagamentos através da tecnologia "contactless" foram feitos por 74,6% dos portugueses, o que compara com 17,9% em 2018. E cerca de 79% dos portugueses indica já ter realizado compras "online".
Os canais remotos têm vindo a aumentar e mais de 80% das pessoas refere recorrer a estes meios à distância. Estes valores comparam com 65,9% em 2018. Em tendência de desuso estão os cheques: apenas 4,4% dos portugueses referiu ter utilizado cheques no último ano e destes 74% têm idade superior a 54 anos.