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Alívio na dívida grega? Nem por isso

O Eurogrupo aprovou na terça-feira medidas para reduzir o fardo da dívida pública na Grécia. Analistas duvidam do benefício.

Em Janeiro de 2015, a esquerda radical chega ao berço da Europa, quando o Syriza, liderado pelo jovem Alexis Tsipras vence as eleições legislativas. A Grécia fica à beira da expulsão efectiva do Euro, mas um recuo em toda a linha do governo grego mantém o país na moeda única.
Reuters
07 de Dezembro de 2016 às 18:09
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O Eurogrupo acordou na terça-feira conceder à Grécia um alívio nas condições de pagamento da dívida, como prémio pelo caminho percorrido no cumprimento das exigências dos credores. Mas de acordo com os analistas, os remédios de pouco ajudam e podem nem garantir a participação do FMI no último resgate.

Os ministros das Finanças do Euro anunciaram várias medidas, depois detalhadas pelo presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), Klaus Regling. São elas:


Alteração do perfil de pagamentos
. O Eurogrupo aprovou um alargamento da maturidade média dos empréstimos do segundo programa de resgate  concedido pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) de 28 para 32,5 anos e meio.


Redução do risco de taxa de juro
. Parte dos 42 mil milhões de euros de fundos dirigidos para a recapitalização dos bancos têm taxa de juro variável, o que deixava o Governo exposto a uma subida dos custos.  Os actuais empréstimos serão substituídos por títulos a taxa fixa e com uma maturidade mais longas. O próprio MEE passará a usar "swaps" para estabilizar os custos de financiamento que depois são cobrados à Grécia.


Perfil de financiamentos
. Os futuros financiamentos da Grécia ao MEE serão ajustados tendo em conta as maturidades mais longas, de forma a estabilizar o custo dos juros. A próxima tranche de 11,3 mil milhões de euros do FEEF já não sofrerá um aumento de 200 pontos base na taxa de juro em 2017.


Estes ajustes nas taxas de juro e nas maturidades vão permitir aliviar até 2060 o fardo da dívida pública grega em 20 pontos percentuais, o equivalente a 45 mil milhões de euros, de acordo com Klaus Regling. E as medidas foram bem recebidas por Atenas, com o gabinete do primeiro-ministro Alexis Tsipras a considerá-las "um sucesso significativo e mais um passo decisivo para permitir que a economia grega saia da crise". Os analistas têm mais dúvidas.

"Ainda que de um ponto de vista operacional seja significativa para o MEE/FEEF, consideramos que a decisão terá um impacto limitado na Grécia", afirma uma nota do Société Générale divulgada na quarta-feira. Que vai mais longe "Mais do que tudo, este movimento é o reconhecimento da ausência de uma melhoria significativa".


Os bancos mostram sobretudo preocupação em relação à capacidade das medidas aprovadas garantirem a participação do FMI no terceiro resgate, como exigem os deputados alemães. "O que é mais preocupante é que, uma vez que não foi acordado um alívio de médio prazo, a estratégia orçamental de médio prazo não foi adoptada e a segunda revisão do programa não ficou completa". O que leva o Société Générale a considerar que a participação do FMI é agora "menos provável", a menos que exista um novo acordo até ao final do ano.

A Capital Economics também tem dúvidas sobre a eficácia das medidas. A economista-chefe para a Europa, Jennifer McKeown, avalia como "francamente optimistas" as previsões de uma redução de 20 pontos percentuais no rácio da dívida pública grega até 2060, considerando que elas se poderão dever à expectativa de uma redução no futuro custo de financiamento do país nos mercados, que não é garantido.

McKeown assinala que os mercados não ficaram, por ora, convencidos com o anúncio. Depois de as "yields" da dívida a 10 anos terem recuado de forma pronunciada no último mês, chegaram aos 6,6% na terça-feira.

com um perdão da dívida ainda fora de questão, mantemos a nossa já longa visão de que a Grécia irá sair da zona euro e incumprir com o pagamento da dívida, mais cedo ou mais tarde Jennifer Mckeown, capital economics

Tal como a da Société Général, também a nota da Capital Economics duvida que estas medidas possam convencer o FMI, que exige que o pagamento da dívida seja sustentável para participar no novo programa. Contas do Fundo divulgadas em Maio estimam que a dívida pública grega se situe em 250% do PIB no final de 2060. Mesmo um alívio de 20 pontos percentuais deixaria o rácio "insustentavelmente elevado".

"O apoio do FMI, necessário para garantir a continuação da participação da Alemanha no resgate, está longe de estar assegurada. E com um perdão da dívida ainda fora de questão, mantemos a nossa já longa visão de que a Grécia irá sair da zona euro e incumprir com o pagamento da dívida, mais cedo ou mais tarde", conclui Jennifer McKeown.

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