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Mercado avisa Boris Johnson: ignorar queda da libra é um risco
A persistente queda da libra não foi suficiente para convencer o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, a suavizar a sua postura em relação ao Brexit. Mas pode ser apenas uma questão de tempo.
Uma queda de 10% da libra no curto prazo pode fazer com que o governo de Johnson se abstenha de apoiar um Brexit sem acordo, na avaliação do Commerzbank. Uma desvalorização que empurre a moeda para menos de 1,19 dólares deixaria os mercados em "águas desconhecidas", segundo a Manulife Asset Management, que gere quase 400 mil milhões de dólares.
Vista agora como o termómetro em tempo real do mercado sobre os rumos do Brexit, a libra está perto da maior desvalorização mensal desde outubro de 2016. Johnson, que assumiu o cargo no início deste mês, sugeriu que pode deixar de negociar com a União Europeia antes do prazo final para o Brexit, em 31 de outubro.
"Vimos de tempos a tempos que o mercado é capaz de pressionar os governos", disse Thu Lan Nguyen, estratega de câmbio do Commerbank. "A crescente turbulência do mercado pode pressionar o governo a evitar um Brexit sem acordo. Como limite do tolerável, poderia imaginar uma depreciação um pouco acima de 10% num curto espaço de tempo que levaria a moeda para perto da paridade contra o euro".
Nos bastidores, alguns conservadores manifestaram ansiedade sobre a queda da libra. Um importante assessor de Johnson, que pediu para não ser identificado, disse que os mercados estão a acordar agora para a perspetiva realista de um Brexit sem acordo, e que o governo não está disposto a suavizar o tom.
Uma saída desordenada da União Europeia é vista há muito pelo mercado como o pior cenário. Esses receios cristalizaram-se depois de Johnson ter nomeado uma série de defensores de linha dura do Brexit para posições-chave do governo e ter exigido mudanças no acordo existente com a UE, que Bruxelas descartou.
Ainda assim, alguns analistas dizem que é um pouco cedo demais para os receios relacionados com a libra atrapalharem os cálculos políticos no número 10 de Downing Street.
"O governo tem um limiar de dor, mas ainda não chegámos lá", disse Ned Rumpeltin, chefe de estratégia monetária do Toronto-Dominion Bank. "Pode não ser um nível, por si só, mas a velocidade a que a libra pode entrar em colapso".