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Boris Johnson já tem conselheiro em Bruxelas para confirmar ultimato à UE
O conselheiro do primeiro-ministro britânico para o Brexit vai passar os próximos dois dias em Bruxelas para passar a mensagem de que a saída do bloco europeu vai acontecer a 31 de outubro "independentemente das circunstâncias". David Frost vai transmitir que se os líderes europeus não abdicarem do backstop, o Reino Unido sai da UE sem acordo.
O novo primeiro-ministro do Reino Unido não quer deixar margem para dúvidas sobre a respetiva intenção de concretizar o Brexit a 31 de outubro e a rejeição a negociar qualquer tipo de acordo de saída se Bruxelas não deixar cair a exigência do chamado backstop para a fronteira irlandesa.
Uma porta-voz de Boris Johnson revelou esta quarta-feira, 31 de julho, que o conselheiro do líder conservador para o Brexit já está na capital belga, onde ficará até sexta-feira, para transmitir à União Europeia as intenções e linhas vermelhas do primeiro-ministro britânico.
A principal mensagem é a de que o Reino Unido vai mesmo sair da União Europeia na data prevista de 31 de outubro, "independentemente das circunstâncias", concretizou a porta-voz citada pela agência Reuters.
Acrescentou ainda que David Frost, antigo embaixador na Dinamarca e novo responsável pela condução do processo do Brexit, vai dialogar, nas próximas horas, com responsáveis comunitários para reiterar a vontade de Londres em "trabalhar energicamente com vista a um acordo [de saída]" desde que a exigência relativa ao mecanismo de salvaguarda exigido pela UE para evitar a reposição de controlos rígidos na fronteira irlandesa seja "abolida".
"Se não conseguirmos alcançar um acordo, então iremos, naturalmente, sair da UE sem acordo", concluiu a porta-voz do recém-apontado primeiro-ministro britânico.
David Frost é um homem próximo de Boris Johnson, tendo já sido seu conselheiro nos dois anos deste como ministro dos Negócios Estrangeiros, e será doravante o principal rosto de Londres na negociação com os responsáveis europeus.
O Financial Times revelou o conteúdo de um email endereçado a representantes diplomáticos dos Estados-membros da União em que Frost avisa para que não "subestimem" e que não ponham em dúvida a real intenção de Johnson cumprir o mandato saído do referendo de 2016 à permanência no bloco europeu.
Depois de no primeiro discurso feito como chefe do governo britânico feito, há uma semana, na Câmara dos Comuns, Boris Johnson ter garantido que o Brexit será consumado no final de outubro "sem ses, nem mas", na passada segunda-feira o novo líder dos "tories" fez um ultimato à UE: ou Bruxelas abdica do backstop, ou Londres nem sequer se sentará à mesa para negociar uma solução capaz de desbloquear o atual impasse.
Os deputados britânicos já chumbaram, em três votações, o acordo de saída negociado pela ex-primeira-ministra Theresa May com os parceiros europeus, sendo que o principal fator que levou a esses chumbos foi precisamente a rejeição ao backstop exigido pela UE.
Por sua vez, a mensagem vinda de Bruxelas mantém-se inalterada e assenta na garantia de que não há espaço para qualquer renegociação do acordo jurídico que estabelece os termos do divórcio.
Esta terça-feira, o chefe da missão negocial europeia, Michel Barnier, falou ao telefone com o novo ministro britânico para o Brexit, Steve Barclay, para insistir na recusa à renegociação dos termos do divórcio e para recusar a possibilidade de um "não acordo controlado".
No máximo, os líderes europeus estarão dispostos, como revelou a presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, a reabrir a negociação da declaração política conjunta em que estão definidos os princípios que devem enquadrar a relação futura Londres-Bruxelas.
Barnier considera inviável negociar acordos paralelos destinados a minimizar o impacto económico de um Brexit desordenado, defendendo que as medidas de contingência planeadas pela UE têm uma "natureza unilateral" que visa "proteger os interesses dos 27".