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Bitcoin e o temor viral de desperdiçar uma oportunidade

Todos, desde o motorista da Uber ao gestor de hedge funds, parecem ter medo de perder a oportunidade da bolha da bitcoin.

Bloomberg 02 de Dezembro de 2017 às 14:00

Esta é a única lição real que tivemos após a quebra da mais recente barreira simbólica das bitcoin. O preço da moeda digital em dólares multiplicou-se por dez este ano - sem que nenhuma das suas falhas como método de pagamento tenha sido corrigida de forma convincente. As transacções ainda são caras e lentas.

 

Os investidores de Wall Street e o investidor médio estão desesperados para surfar esta onda, amplamente apontada como insustentável, até mesmo pelos seus apoiantes. No lado sofisticado do mercado, o Bitcoin Investment Trust - uma forma de lucrar com a criptomoeda sem a ter - registou um ágio de 62% em relação ao seu valor patrimonial líquido. As acções subiram 50% em três dias. No lado do consumidor, as aberturas de conta estão na casa dos seis dígitos. As pesquisas no Google por termos como "empréstimo em bitcoin" e "crédito em bitcoin" estão a aumentar.

 

Não se trata de investir para o futuro, mas de ficar rico agora. Jack Bogle, da Vanguard, está certo ao afirmar que não existe nada a dar suporte à bitcoin, excepto a Teoria do Mais Tolo - a esperança de que haverá sempre alguém no futuro disposto a comprar o seu activo a um preço ainda maior. Mas nem mesmo Bogle descarta a possibilidade de os preços da bitcoin duplicarem em relação ao patamar actual.

 

A capitulação dos cépticos tem sido notável. Histórias de arrependimento daqueles que venderam as suas bitcoins estão a multiplicar-se. Em discussões com investidores experientes em criptomoedas tornou-se simplesmente impossível vislumbrar um cenário racional de colapso, seja devido a órgãos reguladores, cisões ou ataques de hackers. Isso não significa que não haverá uma queda do preço - e sim que, quando ocorrer, será quase tão inexplicável quanto a ascensão.

 

Por outras palavras, fomos além dos gráficos de preços. O boom da bitcoin foi além das famosas manias de mercado do passado, como o frenesi das tulipas ou a Bolha dos Mares do Sul, e durou mais do que a epidemia de dança que atingiu a França no século XVI. É um fenómeno social ou antropológico que lembra como diferentes tribos e culturas vêem o conceito de dinheiro, desde dentes da baleia até dívidas sociais abstractas, conforme explorado pelo académico David Graeber. Quantos outros mercados geraram arte conceitual sobre o assassinato de um "ursobaleia"?

 

Reiterar os riscos óbvios e inerentes da negociação de criptomoedas é uma tarefa condenada ao fracasso. Mas, de novo, o ecossistema da bitcoin não está regulado e, portanto, está aberto a abusos. O suposto ataque hacker recente ao tether, que derrubou por um breve momento o preço da bitcoin, ainda não foi totalmente explicado, e há quem tema que as negociações especulativas por meio desses tokens conversíveis em dólares estejam a aumentar a febre.

 

Ainda assim, a excitação geral em torno da bitcoin mostra que a moeda tem aproveitado o impulso especulativo, algo que aparentemente não será tranquilizado por dividendos, planos de negócios ou fluxos de caixa. O destaque a um número grande e redondo como 10.000 dólares retrata apenas nossa reacção emocional a números grandes e redondos. Mas não afasta o risco de algum dia a moeda digital cair para o maior e mais redondo dos números - zero.

 

Esta coluna não reflecte necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.

 

(Texto original: Bitcoin and the Fear of Missing Out)

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