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Farfetch fecha a cair 45% e já perdeu metade do valor desde entrada em bolsa
As ações da Farfetch reagiram em forte queda aos resultados do segundo trimestre, que levaram os analistas a arrasar a avaliação da companhia luso-britânica.
Confirma-se a evolução negativa das ações da Farfetch no "after hours" de ontem. Na abertura da sessão em Wall Street as ações da plataforma eletrónica luso-britânica de artigos de moda de luxo afundavam 42,55% para 10,48 dólares e no fecho marcavam uma queda ainda mais acentuada: -44,49% para 10,13 dólares.
As ações atingiram ao longo da sessão um novo mínimo histórico nos 9,22 dólares, afastando-se ainda mais do preço a que foram vendidas no IPO realizado em setembro. A operação de entrada embolsa garantiu à empresa um encaixe de 900 milhões de dólares, com as ações a serem vendidas a 20 dólares cada. A cotação de fecho de hoje corresponde a quase metade do preço do IPO, sendo que a variação face aos máximos atingidos logo após a estreia é ainda mais negativa: -66%.
Esta queda abrupta das ações surge depois de a companhia liderada pelo português José Neves ter apresentado os resultados do segundo trimestre e perspetivas para o terceiro trimestre que dececionaram os analistas.
Segundo a Bloomberg, várias casas de investimento já cortaram a avaliação das ações da companhia, sendo que nalguns casos os cortes chegam aos 50%.
"Colapso" da margem assusta
A Farfetch anunciou ontem, após o fecho da sessão em Wall Street, que os prejuízos aumentaram mais de 5 vezes para 89 milhões de dólares. Contudo, os prejuízos por ação foram de 15 cêntimos, quando os analistas contavam com 23 cêntimos, pelo que não foi neste indicador que a empresa desiludiu.
Ao nível das receitas, cresceram 42% para 209,3 milhões de dólares, quando os analistas estimavam 199,7 milhões de dólares. E o Gross Merchandise Value (um equivalente a vendas) cresceu 44% para 488,4 milhões de dólares.
Segundo a Bloomberg, a Farfetch dececionou sobretudo nos indicadores de rendibilidade, nas margens e nas estimativas para o terceiro trimestre.
O EBITDA ajustado foi negativo em 37,6 milhões de dólares, mais do que os 33,9 milhões de dólares previstos pelos analistas. A Farfetch estima fechar o ano com um EBITDA ajustado negativo entre 135 e 145 milhões de dólares, quando as estimativas apontavam para 122,7 milhões de dólares.
A companhia aponta para um crescimento entre 30 a 35% no GMV, quando os analistas estimavam 41%. Além disso, como nota um dos analistas citados pela Bloomberg, a margem da companhia baixou 17 pontos percentuais. Para o Wells Fargo, este "colapso" da margem deve-se a um ambiente competitivo que obriga a maior aposta no marketing.
A Condé Nast, grupo editorial que detém títulos como a Vogue, foi uma das primeiras a investir na luso-britânica Farfetch, mas vendeu a sua posição este ano, sobretudo devido aos receios em torno do investimento da empresa em marketing.
O analista da Wells Fargo ficou ainda "altamente surpreendido e dececionado" com o abrandamento no crescimento do GMV, sobretudo porque a Farfetch já beneficiou com o contributo da Toplife, que foi adquirida recentemente.
Os analistas citados pela Bloomberg também se mostram surpreendidos com a anunciada aquisição da News Guard (a terceira deste ano), questionando a capacidade da Farfetch integrar estas empresas de forma tranquila.
A terceira surpresa negativa da noite foi a saída do administrador operacional (chief operational office) Andrew Robb, que estava há nove anos na companhia.
Em entrevista recente ao Negócios, Luís Teixeira, diretor-geral da empresa tecnológica em Portugal, disse perceber "que haja alguma desconfiança com os números da Farfetch". Mais do que olhar para os prejuízos "de forma simplista", o diretor-geral da empresa tecnológica em Portugal, onde tem seis escritórios e emprega mais de duas mil pessoas, sustenta que "o mais importante é ter um crescimento saudável nas vendas e nos clientes" para continuar a ganhar quota de mercado e ser a plataforma digital que lidera a indústria da moda de luxo.
Analistas arrasam preço-alvo
A Bloomberg detalha as análises de cinco casas de investimento, que em reação aos resultados reviram em baixa a avaliação da companhia.
A China Renaissance baixou o preço-alvo de 32 dólares para 18 dólares. Os analistas deste banco dizem que a aquisição da News Guard traz "opacidade" ao modelo de negócio original e as sinergias são "questionáveis".
A Wells Fargo reviu em forte baixa as estimativas de resultados e baixou o preço-alvo de 32 dólares para 17 dólares por ação. A recomendação continua a ser "outperform", mas a Farfetch deixou de estar nas "top picks" do banco.
A Cowen arrasou o preço-alvo de 33 dólares para 16 dólares, mas manteve a recomendação de "outperform" devido ao "sell off" desta sexta-feira.
O KeyBanc mantém a perspetiva positiva de longo prazo para a Farfetch, que não sai penalizada pelo abrandamento do GMV. Por isso, este banco considera que a atual cotação representa um "ponto de entrada muito atrativo". O preço-alvo é de 27 dólares.
(Notícia atualizada às 21:15 com cotação de fecho)